Zika preocupa à medida que ele é relacionado com microcefalia | Boqnews
Foto: Bruno Yego

Epidemia

19 DE FEVEREIRO DE 2016

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Zika preocupa à medida que ele é relacionado com microcefalia

Com isso, a pandemia de zika assusta a população, sobretudo as gestantes, por conta da dificuldade histórica em lidar com o mosquito Aedes aegypti

Por: Da Redação

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capa1088Só se fala em zika e microcefalia. O surto do vírus, que atinge todo o País, tem causado preocupação na população, sobretudo em gestantes. Na Baixada Santista, não é diferente, pois o medo é intensificado por conta do histórico de epidemia de dengue que já foi registrado e também pela grande quantidade de potenciais criadouros de mosquito, inclusive na área portuária.

Na última semana, a Secretaria de Saúde do Estado confirmou um caso de microcefalia por infecção por Zika em Cubatão e três em São Vicente. Existem outros onze casos sob investigação, sendo três em Santos. Pelo menos 107 moradores da Baixada Santista aguardam o resultado do exame para verificarem a infecção pelo mosquito. Desses, 84 residem em Santos. Neste grupo, existem também gestantes.

Entendendo o problema
Assim como a dengue, o zika é um das centenas de flavivírus (organismos que normalmente circulam em alguns mamíferos como macacos, humanos e artrópodes, como mosquitos e pernilongos).

Aliás, o zika já foi identificado há quase 70 anos. Nunca houve uma grande preocupação, pois o vírus era caracterizado como uma versão mais branda da dengue. Conforme explica a médica infectologista, doutoranda da Faculdade de Saúde Pública da USP, Alessandra Pellini, a maior parte dos casos surge com sintomas leves e de curta duração (3 a 7 dias). Isso quando existe manifestação de sintomas, pois cerca de 80% dos infectados com zika são assintomáticos. Portanto, a maioria dos infectados sequer sabe que carrega o vírus.

O problema passou a ser mais sério quando se estabeleceu a relação da infecção do vírus zika com a incidência de microcefalia, uma doença congênita grave. Essa descoberta é recente e ocorreu no Brasil por uma médica de Pernambuco.

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“É importante destacar que essa malformação pode ser consequência de outros fatores como outros vírus, bactérias, ingestão de substâncias químicas, etc. Todavia, a cada dia surgem novas evidências a favor da associação entre zika e microcefalia”, afirma Pellini.

Anualmente, o Brasil registrava aproximadamente 150 casos de microcefalia. O Ministério da Saúde divulgou que foram notificados 5.280 casos suspeitos de microcefalia até agora e no ano passado. Destes, 508 tiveram a confirmação que a causa foi decorrente do vírus.

Desde janeiro, a Casa da Esperança já recebeu sete crianças com microcefalia dos municípios de Santos e São Vicente. A diretora clínica da instituição, a neurologista infantil Maria Lúcia Leal dos Santos salienta que todas as mães relataram ocorrência de dores no corpo e manchas vermelhas no primeiro trimestre de gestação.

Existe também a possibilidade, ainda que rara, de complicações neurológicas em pessoas infectadas por Zika, a chamada Síndrome de Guillain-Barré,“cujos sintomas variam desde uma fraqueza muscular leve até a paralisia total dos quatro membros e da musculatura respiratória”, explica. Essa condição pode progredir em algumas semanas, se estabilizar e depois regredir.

Situação regional
A coordenadora de vigilância em saúde da Prefeitura de Santos, Ana Paula Valeiros, ressalta que os mutirões de combate ao mosquito seguem ocorrendo semanalmente de acordo com a incidência apresentada pelas 461 armadilhas espalhadas pela Cidade. “Além disso, existe uma equipe que só atende as denúncias do Disque Dengue, que aumentaram de volume à medida que o assunto foi ganhando espaço na mídia”, esclarece. Um drone (equipamento aéreo) também auxilia nos trabalhos, de modo a verificar locais de difícil acesso.

Valeiros diz ainda que existe uma atenção especial para a zona portuária, que tem um potencial maior de criadouros. Segundo o último Levantamento Rápido do Índice de Infestação por Aedes aegypti (LIRAa), por exemplo, das nove cidades da Baixada Santista, cinco se encontravam em estado de alerta (Santos, São Vicente, Praia Grande, Itanhaém e Mongaguá) e uma em situação de risco (Guarujá).

No meio das cidades mais problemáticas em incidência do mosquito, aliado ao fator do Porto e do terminal de passageiros, a luta contra o Aedes se torna ainda mais difícil. “Não podemos interferir em outras cidades. Existem reuniões periódicas com os outros municípios. O mosquito atravessa fronteiras”, afirma. A alta circulação de pessoas pelas cidades da região também favorece a importação e propagação do vírus.

Boatos e incertezas
Por ser uma doença até pouco tempo desconhecida do público e com novas complicações descobertas recentemente, ainda existe muita confusão e desconhecimento quando o assunto é o vírus Zika.

Na última semana, foi levantada a possibilidade do crescimento da microcefalia estar associado à utilização de um componente químico utilizado na água. Em nota, o Ministério da Saúde diz que não existe qualquer estudo epidemiológico comprovando a associação do uso de pyriproxifen e à microcefalia.

Também ocorreram boatos de que a aplicação da vacina vencida contra rubéola em grávidas foi a causa das anomalias. Especialistas rechaçam a teoria, uma vez que gestantes sequer têm acesso à vacina contra a rubéola, e em caso de vacina vencida ela não pode causar qualquer complicação, simplesmente a dose deixa de proteger.

Para tentar resolver o problema da epidemia, muitos apontam soluções não convencionais de combate ao mosquito, como a volta do fumacê.

A coordenadora de Vigilância em Saúde da Prefeitura de Santos, Ana Paula Valeiros, informa que esse método não é mais utilizado por conta da ineficácia. “A efetividade era baixa em locais com muitos prédios, além disso, as pessoas costumavam fechar a janela. O que existe hoje é a nebulização costal feita dentro das casas. No entanto, ela não resolve 100% porque ela ataca apenas o mosquito e não as larvas. O ideal é não ter o criadouro”.

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Mosquitos transgênicos
Já foram experimentados mosquitos transgênicos para o controle do Aedes. O método consiste em soltar mosquitos modificados geneticamente para que eles fecundem a fêmea com uma prole infértil. O entomologista do Departamento de Epidemiologia da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, Paulo Roberto Urbinatti, explica que essa medida de controle é interessante, mas existem alguns problemas de efetividade.“É preciso avaliar a viabilidade financeira.Tiveram bons resultados em pequenas cidades. Teriam que soltar constantemente bairro a bairro… seria complicado”.

A vacina contra a zika está em desenvolvimento e não deve ficar pronta neste ano. Contudo, especialistas alertam que independente de vacina é preciso eliminar o vetor da doença: o mosquito Aedes. Isso porque mesmo que a zika seja controlada ainda existem uma centena de flavivírus que podem ser compatíveis com o mosquito e, portanto, novas doenças já passarem a circular em ambientes urbanos.

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