Ausências de remédios em unidades de saúde trazem transtornos | Boqnews
Foto: Felipe Rey

Medicamentos

21 DE MAIO DE 2018

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Ausências de remédios em unidades de saúde trazem transtornos

A ausência de remédios distribuídos gratuitamente em unidades públicas têm gerado aos pacientes necessitados grandes dificuldades por falhas no abastecimento, envolvendo medicamentos simples como Dipirona, e outros de custo maior como Bosentana

Por: Felipe Rey
Da Redação

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A ausência de remédios no sistema público de saúde se tornou algo comum. As falhas têm preocupado pacientes que são obrigados a interromper o tratamento muitas vezes em razão da falta dos medicamentos.

Portadora de Esclerose Sistêmica e Lúpus Eritematoso Sistêmico, a paciente do AME – Ambulatório Médico de Especialidade, do Governo do Estado, Mônica Aparecida Santos de Lima, necessitava da compra de remédios para o tratamento da doença. Como o lúpus não tem cura, a Bosentana – usada para úlceras digitais – virou essencial para a sua sobrevivência.

Entretanto, o medicamento, que custa em torno de R$ 4 mil para um mês de tratamento, era quase inexistente no AME-Santos. Com isso, após dois meses da ausência dos remédios para Lúpus, neste ano, Mônica foi internada, complicando seu quadro clínico até chegar a óbito no mês passado. O descaso público gerou indignação na família e amigos.

Em 11 de agosto de 2017, elas entraram com uma ação administrativa para receber o medicamento. Sua irmã, Symone Aparecida Santos de Lima, também entrou com uma liminar na justiça um mês depois.

A juíza, por meio de tutela de urgência, determinou o fornecimento do medicamento. Entretanto, o Estado não teria cumprido a ordem judicial. Neste período, Mônica só recebeu o medicamento em duas ocasiões.

“Mesmo que entremos com liminar, não precisa chegar a tanto (processo judicial). Fizemos um processo administrativo para a retirada do medicamento e quando chegamos para retirá-lo não havia”, salientou Symone.

Ela lembra a peregrinação. “Chegávamos ao AME e diziam ‘ainda não chegou’, ‘liga amanhã ou vem aqui’. A doença espera? Quais os danos físicos e psicológicos que isso causa aos pacientes que necessitam de medicamentos para viver?”, ressaltou.

Ela conta que a irmã chegou a ser internada algumas vezes, quando o lúpus entrava em atividade. Ainda sim, conseguia alta e voltava à vida ‘normal’. Entretanto, no dia 1º de março de 2018, Mônica foi internada devido à falta de Bosentana. Após 15 dias, conseguiu liberação e voltou para casa. Em abril, voltou ao hospital, onde faleceu.

Outro caso de falta de remédios foi confirmado pela aposentada Marilene Cruz. Usuária do AME, Marilene afirmou que em certas vezes o ambulatório sofre com a ausência de remédios chegando a ficar três meses sem Alenia (para tratamento de asma/bronquite).

Segundo ela, o remédio custa em torno de R$ 300,00 todo mês. E, como no caso de Mônica, o AME pede para voltar outro dia para a retirada do remédio. “Muitas vezes os pacientes chegam aqui e não tem. Eu já fiquei mais de dois meses sem e fui obrigada a comprar”, completou.

Ausência de remédios nas Policlínicas

Situação semelhante ocorre nas policlínicas mantidas pela Prefeitura. Na do Morro do São Bento, faltam medicamentos básicos, como Dipirona (para febre e dor), Amoxicilina, Polaramine, remédio indicado para tratamento de alergias, rinites, e até xaropes infantis.

Segundo a diarista Sílvia Cruz, a ausência de remédios se tornou comum. “O Amoxicilina com Clavulim que me passaram custa, em média, R$ 80. Não tenho condições de pagar”. Sílvia chegou a ligar para a Ouvidoria da Prefeitura para reclamar sobre a falta de medicamentos. Mas até agora nada mudou.

Resposta do Estado

Em nota, o Departamento Regional de Saúde (DRS) da Baixada Santista esclarece que “o medicamento Alenia está disponível na farmácia de alto custo da região. Porém, não consta qualquer solicitação vigente para fornecimento do medicamento à Marilene Cruz Feijó. Cabe esclarecer que o SUS distribui mais de 1.000 tipos de medicamentos em diferentes apresentações no Estado de São Paulo”.

“Para atender os pacientes cadastrados no programa de Medicamentos Especializados (Alto Custo) em todo o Estado, a pasta realiza planejamento periódico dos estoques, com base no consumo e mais uma margem de segurança para garantir que a unidade tenha estoque até que seja abastecida pela próxima compra”.

“Mas, alguns fatores, alheios ao planejamento da pasta, podem ocasionar desabastecimentos temporários, como aumento de demanda (acima da margem de segurança), logística de distribuição do Ministério da Saúde, pregões “vazios” ou “fracassados”, além do atraso por parte do fornecedor, como ocorreu com o Bosentana 125 mg”.

“O item foi adquirido pelo Estado, porém o fornecedor não cumpriu com os prazos estabelecidos para a entrega e está sujeito a penalidades. O DRS tem cobrado a empresa para que normalize o abastecimento”.

Prefeitura nega falha

 

Sobre a falta de medicamentos em policlínicas, a Prefeitura de Santos reconhece que podem ter ocorrido falhas neste mês.

“As 31 policlínicas são reabastecidas mensalmentes com suas cotas de remédios. Porém, em maio, houve a necessidade de uma reprogramação das entregas por conta do inventário do Almoxarifado Central da Secretaria de Saúde”, reconhece.

Entretanto, ao ser indagado sobre a distinção da falta de medicamentos em unidades de saúde bairros periféricos em relação a outros, a Prefeitura alegou que não há distinção na distribuição dos remédios.

Em nota, a Administração informa que a quantidade entregue às policlínicas varia de acordo com o número da população referente ao local e também do seus histórico de medicamentos consumidos.

Vale ressaltar que a entrega do remédio Polaramine, segundo a Prefeitura, pode ocorrer devido a diversos motivos. Pode envolver problemas laboratoriais ou até mesmo nas licitações.

“Podem ocorrer desses dois jeitos. Como, por exemplo, com o remédio Polaramine, cuja empresa fornecedora da Prefeitura (vencedora de licitação) não possui o item em estoque para repasse ao Município”, finalizou. Não há, portanto, previsão de entrega.

 

Comissão constata ausência de medicamentos

 

Com os problemas na saúde se tornando cada vez mais recorrentes, a presidente da Comissão de Saúde da Câmara de Santos e ex-prefeita, Telma de Souza (PT), realizou um amplo diagnóstico em diversas policlínicas, desde outubro de 2017 até janeiro passado. Segundo ela, muito em decorrência da falta de medicamentos.

“Realizei audiências na Zona Noroeste, com mais de 200 pessoas. Além de ir aos morros, Área Continental, Zona Leste, além da Zona Central. Tudo isso para conseguir um diagnóstico do que estava acontecendo na Saúde”, ressaltou.

Com esses diagnósticos, a vereadora afirmou que se deparou com situações comuns, como ausência de remédios, atendimentos demorados, exames em abertos, além de instalações precárias.

“Instalações muito precárias, principalmente na Zona Leste. Uma situação extremamente caótica, principalmente na UPA Central. Então em função dessa denúncia, nós elaboramos 10 propostas e entregamos para o prefeito em fevereiro. Lamentavelmente, até agora, não tivemos respostas”, salientou.
Segundo Telma, há uma queda de atendimento na atual gestão, principalmente na parte financeira, devido as contínuas reclamações dos munícipes pela falta de medicamentos.

Arte: Mala

Fiscalização

Durante visita ao CRAIDS – Centro de Referência em AIDS, Telma relatou problemas com matagais. Além disso, ela contou que não há funcionários suficientes para o local. Além dos problemas constantes, como ausência de remédios e problemas estruturais.

“No CRAIDS, está faltando Dipirona. Além dele, a UPA Central estava com falta de gazes e álcool. Além de Dipirona também”, afirmou.

Uma das sugestões é a de realizar atendimentos em locais de fluxo de entrada e saída das pessoas que moram nos morros, por exemplo. Telma relata que haviam médicos que estavam de férias e funcionários em licença-prêmio em unidades, deixando as pessoas sem atendimento.

Para Telma, as pessoas sem planos de saúde acabam sendo as mais prejudicadas. “Quem vai às policlínicas, geralmente, são aqueles sem planos de saúde. Além das pessoas com menor poder aquisitivo. Com isso, elas acabam sendo duplamente penalizadas”, enfatiza.

Políticas públicas

Em resposta, a Prefeitura de Santos, afirmou que todas as sugestões da comissão são levadas em consideração pelo Município na elaboração e desenvolvimento das políticas públicas e projetos na área da Saúde. Além disso, a Prefeitura informa que será inaugurada uma nova UPA na Zona Noroeste nos próximos meses.

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