Beneficiários da Previdência injetam quase R$ 3 bilhões na economia | Boqnews
Foto: Felipe Rey

Santos

22 DE FEVEREIRO DE 2019

Siga-nos no Google Notícias!

Beneficiários da Previdência injetam quase R$ 3 bilhões na economia

A proposta do governo vai alterar o perfil econômico nas cidades, especialmente em Santos, onde a concentração de beneficiários é elevada ultrapassando 26%.

Por: Da Redação

array(1) {
  ["tipo"]=>
  int(27)
}

A apresentação da proposta da Reforma da Previdência  na última quarta-feira (20) pelo Governo Federal trouxe debates e aprofundamentos do peso das aposentadorias e pensões pagas.

O governo defende que a proposta será mais justa para os que menos recebem.

Já os opositores enumeram as dificuldades para conseguir o benefício caso seja aprovada como está.

Neste cenário, Santos se destaca.

Beneficiários

Afinal, segundo os dados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), a Cidade apresenta um total de 113.579 beneficiários (via aposentadorias, pensões e outros benefícios da Previdência).

Assim, o número equivale a 26,2% da população total.

Em números, o poder econômico deste grupo é impressionante.

Somente no ano passado, eles receberam R$ 2 bilhões 864 milhões.

O que dá uma média mensal (incluindo 13º) de R$ 1.939,75 por benefício (aposentadoria, pensão e auxílio-doença, por exemplo, entre outros).

Supera todo o orçamento da Prefeitura local – que já é um dos maiores do País (a receita líquida foi de R$ 2 bilhões 245 milhões no ano passado).

Ou seja, Santos recebe 53% a mais do que a média nacional que se encontra em R$ 1.269,25/ mês.

Para se ter noção desta força econômica, Guarulhos, que conta com 1.365.899 habitantes, sendo a segunda mais populosa do Estado, os beneficiários de lá ganham média mensal de R$ 1.583,45.

Para efeito comparativo regional, a média de benefícios (aposentadoria, pensão e outros benefícios) para o vicentino gira em torno de R$ 1.595,30/mês.

Assim, apesar de ser a 10ª cidade mais populosa do Estado, Santos é a sexta em número de beneficiários do INSS.

E a primeira – entre os municípios mais populosos – na média de benefícios pagos.

 

E ainda tem o Poder Público…

De acordo com o jornalista e especialista em Finanças Públicas, Rodolfo Amaral, em 2018 o custo previdenciário local foi de R$ 2,8 bilhões.

Neste caso, salienta, também foram considerados outros benefícios, como, por exemplo, remuneração por afastamento.

“No Regime Próprio de Previdência da Prefeitura existem outros 5.559 aposentados e pensionistas, com um custo anual de R$ 328 milhões”, acrescenta.

Segundo ele, neste cenário, a movimentação financeira chega à casa de R$ 3,2 bilhões.

Neste caso, soma-se apenas as rendas de servidores e de pessoas que recebem da Previdência.

“São recursos que acabam circulando na economia regional”.

Contudo, questionado se a reforma iria impactar os jovens a adentrar no mercado de trabalho, Amaral foi contundente.

Na visão dele, a intenção do governo é criar um novo regime previdenciário para aqueles que ingressarem no mercado de trabalho agora.

“A iniciativa busca evitar que os novos trabalhadores venham ficar vinculados a um sistema previdenciário antigo que não se sustenta financeiramente”, ressalta.

Por fim, ele salienta que ainda está cedo para analisar os efeitos que a reforma trará à Cidade.

Principalmente porque ela ainda será analisada pelo Congresso Nacional.

“É preciso que haja uma noção geral do conjunto de normas e sobre os quantitativos de beneficiários que irá atingir”, finaliza.

 

O ex-secretário de finanças de Santos, Rodolfo Amaral, ressalta que é muito cedo para saber os efeitos que haverá com a reforma da Previdência. Foto: Nando Santos/Arquivo

 

Aposentadorias locais

Como a reforma também atingirá os servidores públicos, muitos já se anteciparam temendo perderem direitos.

Segundo a Prefeitura de Santos, 1105 servidores públicos municipais se aposentaram desde 2016.

E de forma crescente: em 2016, 247 aposentadorias; 378 em 2017 e 393 no ano passado.

Até a última semana, 87 pessoas já se aposentaram neste ano.

No entanto, cerca de 100 pedidos formulados para concessão de aposentadoria já foram feitos.

“A PEC apresentada garante a preservação do direito adquirido às regras de aposentadoria vigentes. Ou seja, quem cumpriu os requisitos para se aposentar até a data da publicação da Emenda não sofrerá qualquer prejuízo”, afirma a Prefeitura em nota.

 

A proposta do governo vai alterar o perfil econômico nas cidades, especialmente em Santos, onde a concentração de beneficiários é elevada. Foto: Felipe Rey

 

E os jovens?

Com a confirmação das idades para se aposentar – 62 para mulheres e 65 homens – as dificuldades para a aposentadoria dos jovens que adentraram ao mercado de trabalho serão maiores.

O economista Cesar Vale acredita que o melhor aproveitamento da Previdência Social pelos jovens seria a readequação das alíquotas de contribuição, de forma a serem progressivas de acordo com o rendimento.

Segundo Vale, atualmente as bandas variam entre 7,5% e 27,5% na CLT, com teto em R$ 869,36 e 15% para Pessoa Jurídica.

Contudo, para ele, uma alternativa citada durante a corrida eleitoral para compor com o mecanismo de financiamento existente, “seria a taxação de Lucros e Dividendos como fonte de receita para a Previdência Social”.

Todavia, o profissional destaca que existem perigos para a arrecadação e a consequente estabilidade do sistema previdenciário.

De acordo com ele, a Desvinculações de Receita da União (DRU) e a diferença entre os regimes de Previdência dos Servidores Públicos e dos servidores da iniciativa privada são alguns dos fatores que possa haver rombo da Previdência.

“DRU retira a obrigatoriedade do destino de determinadas receitas à Previdência, ou seja, receitas que anteriormente eram destinadas para o INSS, a partir da desvinculação, poderão ser destinadas para cobrir outros gastos, como por exemplo, juros da dívida pública”, salienta.

Visão política

O jornalista e cientista político, Fernando Chagas, afirma que o maior problema do Governo Federal para aprovar a reforma será garantir os 308 votos necessários na Câmara dos Deputados e 49 votos no Senado .

No entanto, outro ponto complicado para a aprovação será o de convencer a população acerca da necessidade e urgência, “mostrando que faltarão recursos para o pagamento dos beneficiários no médio prazo de tempo se ela não for aprovada nesta gestão”.

Sendo altamente impopular, a reforma, além de esbarrar na Câmara e no Senado, também colide com os escândalos da exoneração do ex-secretário da Geral da República, Gustavo Bebianno, além das relações entre o filho do presidente, senador Flávio Bolsonaro (PSL) e Fabrício Queiroz, seu ex-motorista envolvido em um suposto esquema de desvio de recursos públicos na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.

Para Chagas, a demissão de Bebianno prejudicará a comunicação com o Congresso.

Portanto, para ele, a solução é afastar definitivamente seus filhos do Poder Central.

 

Futuro incerto

Já para o cientista político Rafael Moreira, é difícil saber se a reforma ajudará ou não o País.

Porque, segundo o profissional, os avanços e recuos do governo atrapalham o acompanhamento da real proposta imposta para levar a diante.

“Eu imaginaria que a idade deveria ser mais baixa, até pelas distorções que nós temos”.

“Santos, por exemplo, apresenta bairros com o IDH mais baixo e com expectativa de vida nessa faixa etária”, afirma.

Portanto, segundo Moreira, os dados mostram que, hoje, caso comece a valer a reforma, muitas pessoas trabalharão até morrer em razão do tempo elevado de vida.

Além disso, do aumento da contribuição (de 15 para 20 anos), dificultando para pessoas que vivem de bicos e nem são registradas.

Contudo, ele ressalta que, ao menos, as idades (65 para homens e 62 para mulheres) foram feitas de formas distintas.

“Caso fossem iguais, haveria mais dificuldade para aprovar”.

 

Confira a renda mensal dos beneficiários:

Cidades                                                   Renda mensal                               Beneficiários (total)

                                  

Santos                                                                                                       R$ 1.939,75                                                                       77.129

São Bernado do Campo                                                                        R$ 1.872,98                                                                       99.257

Santo André                                                                                            R$ 1.826,51                                                                        94.119

São Paulo                                                                                                 R$ 1.745,90                                                                      1.314.748

Campinas                                                                                                 R$ 1.742,90                                                                      125.417 

Guarulhos                                                                                                R$ 1.583,45                                                                      94.218

 

Dados de dez/18 – Previdência Social

Notícias relacionadas

ENFOQUE JORNAL E EDITORA © TODOS OS DIREITOS RESERVADOS

desenvolvido por:
Este site usa cookies para personalizar conteúdo e analisar o tráfego do site. Conheça a nossa Política de Cookies.