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27 DE NOVEMBRO DE 2015

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Complexidade no tratamento para viciados dificulta problema

O crônico problema social decorrente da proliferação de usuários de crack pelas ruas de Santos amedronta moradores das áreas onde eles se concentram

Por: Rodrigo Bertolino
Da Redação

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Um dos problemas crônicos da sociedade que mais entristece a população é o vício de drogas e as consequências que geram aos usuários. Dentre as substâncias ilegais, o crack é a mais devastadora.quadro1crack

Por conta do rápido efeito no cérebro somado ao fácil acesso, pedras e cachimbos fazem cada vez mais reféns Brasil afora. Em Santos não é diferente. Alguns pontos na Cidade são conhecidos por abrigarem os usuários da droga, dentre eles, o túnel por onde passará o Veículo Leve Sobre Trilhos (VLT), próximo à Rua Coronel Cândido Gomes, na divisa entre Santos e São Vicente, deixando moradores e comerciantes do entorno temerosos com eventuais crimes.

A psicóloga e pesquisadora Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) — Campus Baixada Santista, Luciana Villarinho, autora do estudo Perfil dos usuários de crack do município de Santos, explica que a complexidade do tratamento e os múltiplos fatores de vulnerabilidade social são os principais itens que fazem com que o problema perdure nas ruas.

“Não existe uma forma específica de tratamento para os usuários. É complicado. Cada um se identifica com um método. Alguns se adaptam facilmente à comunidades terapêuticas, outros não. Além disso não é possível recuperação sem o envolvimento familiar ou com a ausência de locais adequados para abrigar essas pessoas, por exemplo. Não adianta tratar se o ambiente que o levou a droga permanecer, isso sem falar nas dificuldades de desprendimento da dependência química”, diz.

Perfil de usuários
Produzida em 2012, a dissertação de mestrado de Luciana se utilizou de 292 entrevistas com usuários de crack na Cidade de Santos e constatou que 60% deles passam ou já passaram por depressão grave, 55% já tiveram pensamentos sérios sobre suicídio e apenas 34% já recebeu tratamento psicológico. A média mundial para recuperação de adictos é de 30%.

A Secretaria Municipal de Saúde informa que uma equipe do Consultório na Rua atua duas vezes por semana nas imediações citadas no mapa acima. “O objetivo é prestar assistência à saúde das pessoas em situação de rua, usuárias ou não de drogas”, diz a nota.

Existe o costume de relacionar moradores de rua com craqueiros. Luciana explica que isso não é necessariamente uma regra. Sua pesquisa apontou que 48% moram na rua há pelo menos três anos. “Identificamos uma população de usuários de crack com padrão de uso controlado, que utilizam esporadicamente. Isso mostra que a droga está sendo propagada de uma tal forma que não se limita à população de baixa renda”.

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A variação da idade com que as pessoas iniciaram a consumir pedras é mais um dado que impressiona no levantamento realizado em Santos: 42% entre 19 e 29 anos; 37% ainda menores de idade; e 20% a partir dos 30 anos. “O crack é uma droga que não tem faixa etária. Isso porque existe uma problemática de curiosidade associada”. A pesquisa indicou que 60% utilizaram a primeira vez por curiosidade e apenas 12% em decorrência de problemas ou perdas emocionais.

“Daí a importância da prevenção e de uma abordagem adequada. Existe um desconhecimento dos efeitos dessa droga, só sabem do ‘barato’ que ela vai proporcionar. A conversa deve reconhecer que existe um prazer temporário no consumo da substâncias, mas também apresentar as consequências devastadoras, que, muitas vezes, são irreversíveis”, explica a pesquisadora.

Senat
O serviço referência para o tratamento de usuários de drogas é o Senat — Seção Núcleo de Atenção ao Toxicodependente (Rua Silva Jardim, nº 354), que funciona de segunda a sexta-feira, das 8 às 18 horas. Há um técnico de plantão que faz a primeira acolhida. A unidade possui uma equipe multidisciplinar e faz atendimentos individuais e em grupos, também com familiares dos pacientes.
Após avaliação da equipe multiprofissional, o paciente pode ser encaminhado à desintoxicação ou seguir tratamento ambulatorial na própria Senat ou em comunidades terapêuticas, se for de sua vontade.

População temerosa
O receio de passar por pontos da cidade onde usuários de crack frequentam é algo comum na população. Muitos precisam trocar o caminho e a rotina para evitar possíveis incômodos. Com isso, os comércios próximos dos locais sofrem prejuízos.

No túnel onde o Veículo Leve Sobre Trilhos (VLT) passará, na divisa entre Santos e São Vicente, usuários se aproveitam do lugar escuro e pouco movimentado. Queixas de moradores são constantes.
Frequentador do bairro, Fernando Gadanha diz que fica com medo do que os usuários possam fazer. “É mais uma situação de estresse que vemos no dia a dia. Deixo meu carro na rua e fico inseguro deles riscarem. O pior é quando eles mexem com a gente. Outro dia tinha um indivíduo defecando na esquina”, lamenta.

O estudante Leonardo Ramos acha que, por conta do movimento e da melhora na iluminação, o número de usuários diminuiu.
Em nota, a Prefeitura informa que a Guarda Municipal de Santos realiza ações constantes na região, além das Forças Tarefas em parceria com a Polícia Militar. Durante a abordagem, os cidadãos que estejam portando drogas são encaminhados ao Distrito Policial. A GM conta, também, com o auxílio das câmeras de monitoramento e denúncias de moradores da região.

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