As lutas e conquistas dos imigrantes japoneses em Santos | Boqnews
Foto: Lucas Freire

Imigração japonesa

17 DE JUNHO DE 2018

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As lutas e conquistas dos imigrantes japoneses em Santos

Após 72 anos de luta, o casarão da Associação Japonesa será devolvido em definitivo pelo Governo Federal. A entrega coincide com os 110 anos da imigração

Por: Da Redação

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Nesta segunda-feira (18), comemoram-se os 110 anos da imigração japonesa com a chegada de 781 imigrantes pelo Porto de Santos. Não é à toa que a cultura nipônica se faça tão presente, mas ainda é desconhecida por muitos.

Por exemplo, no Emissário Submarino, a escultura vermelha que todos conhecem foi um presente que a cidade ganhou, idealizado pela artista plástica Tomie Ohtake. O monumento foi uma homenagem ao centenário da imigração japonesa, em 2008.

Hoje, sem incluir o Japão, o Brasil é o pais que possui a maior população japonesa. São aproximadamente 1,9 milhões.

Imigração Japonesa

Não apenas Santos, mas também o Brasil, ainda precisa acertar as contas com o povo japonês. Ao longo dos anos, muitas ocasiões prejudicaram o povo que veio da cidade de Okinawa.
Em junho de 1908, chegou ao Porto de Santos o navio Kasato Maru, que trouxe oficialmente os primeiros imigrantes ao país. A viagem durou exatos 52 dias.

Antes da chegada do navio, já haviam imigrantes japoneses no país, porém após a primeira viagem do Kasato Maru, iniciaram oficialmente as constantes vindas de japoneses ao Brasil para trabalhar na lavoura.

Autor da tese A rede educacional japonesa da Baixada Santista e Vale do Ribeira, o doutor em História, Rafael da Silva, 33 anos, enumera como foi o cenário encontrado pelos imigrantes no País.

A partir do momento em que o povo chegou ao Brasil, muitas famílias buscaram exercer atividades das quais eles já possuíam conhecimento, como cultivo e pesca.

Em 9 de julho de 1943, quando Getúlio Vargas se aliou ao Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial, foi determinado pela Superintendência da Ordem Política e Social a todos os imigrantes que pertenciam às nações do Eixo (Alemanha, Itália e Japão) a deixarem as cidades litorâneas, incluindo Santos, em até 24 horas.

Essa decisão foi aplicada em todo o litoral do país, pois eram zonas de combates em solo brasileiro, onde submarinos inimigos supostamente poderiam executar ataques e realizar possíveis invasões pela zona litorânea.

O historiador explicou que na época, Santos era uma cidade onde haviam mais imigrantes do que os próprios santistas. Na época, a quantidade de imigrantes japoneses na cidade era em torno de 10 mil e o Saboó era o bairro com a maior concentração de imigrantes nipônicos.

Exceção

Durante a ordem de retirada da Cidade, alguns descendentes que acabaram permanecendo na cidade. Esse foi o caso da avó materna do paisagista e jardineiro, Humberto Koshikene, de 61 anos.

Ele não era nascido durante esse episódio da história, porém pode relatar os ocorridos que envolveram seus familiares.

Ele conta que enquanto a sua família estava se preparando para deixar a cidade o mais rápido possível, apenas levando a roupa do corpo e os documentos, sua vó, Muto Nagahama, pode permanecer em sua propriedade, no bairro do Saboó. O neto acredita que pelo fato dela ser viúva, a ordem de retirada não se aplicou a ela.

Enquanto isso, Matsu Koshikene, mãe de Humberto, e os demais familiares, partiram para o interior de São Paulo.

Após dois anos, com o fim da guerra, Muto Nagahama sugeriu para os seus parentes que voltassem para Santos, na mesma propriedade localizada no Saboó.

Hoje, a família Koshikene permanece no mesmo local, há exatos 100 anos.

Indenização?

Infelizmente, os prejuízos para a comunidade japonesa no Brasil não acabaram por aí.

O historiador conta que no momento a qual os japoneses deixaram suas residências. Muitos tiveram suas criações de animais e hortaliças roubadas.

Como não bastasse serem expulsos deixando tudo de lado, e saqueados, o governo veio intervir novamente mesmo após o fim da guerra.

Em 1946, o governo determinou que o patrimônio das colônias japonesa, italiana e alemã fossem confiscados como forma de indenização. Como se fosse uma forma de compensar os danos pós-guerra.

Assim, propriedades da comunidade japonesa foram confiscadas e muitos bens materiais foram leiloados.

“Muitas injustiças forma cometidas. Você sai do seu país, não por opção própria, mas em busca de melhorias. Ao longo de décadas, você realiza conquistas por meio do trabalho e de seu esforço. De repente, tudo é perdido por algo que você não tem culpa”, ilustrou o pesquisador

Associação Japonesa

A Associação Japonesa de Santos lutou por muitos décadas reivindicando seus direitos.

A entidade, sucessora da Sociedade Japonesa de Santos, foi prejudicada ao perder a posse do casarão para o governo. Enquanto isso, os encontros e atividades foram realizados na Associação Atlética Atlanta e no Estrela de Ouro Futebol Clube. Clubes que pertencem à comunidade nipo-brasileira. Este cenário começou a ganhar mudanças positivas somente neste século.

A partir de 2006, a associação voltou a ocupar o casarão. E mesmo após a conquista que envolveu a participação de políticos municipais; estaduais e federais, a luta não chegara ao fim.

Os membros e voluntários ainda seguiram na busca da reconquista definitiva da posse do casarão.

No dia 5 de dezembro de 2016, o presidente Michel Temer sancionou o projeto de lei que permite a devolução definitiva do imóvel.

Este projeto estava em circulação no Congresso Nacional desde 1994. O texto sancionado é o substitutivo ao Projeto 4.476/94, do ex-deputado federal Koyu Iha, que iniciou a luta há 24 anos. A proposta foi encampada pelo atual deputado federal João Paulo Papa (PSDB), que conseguiu apoio dos pares para a devolução do imóvel. Outros políticos também intercederam, assim como a própria comunidade nipônica.

Após mais de 60 anos de luta, finalmente o imóvel voltará às mãos de quem de direito. Nesta segunda-feira (18), às 17h, representantes da SPU – Secretaria do Patrimônio da União farão a cessão definitiva do casarão para a Associação Japonesa de Santos, justamente quando se completam os 110 anos do início da imigração japonesa no Brasil.

Aulas de Japonês

A Associação Japonesa de Santos oferece atividades ao longo do ano, como por exemplo, o Undokai. Além disso também possui uma escola de ensino da língua japonesa.

As matrículas acontecem semestralmente. Para se matricular, basta entrar em contato pelo telefone 3222-3268. As aulas começam em agosto.

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