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Meio Ambiente

27 DE MARÇO DE 2015

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Destinação de Resíduos Sólidos está longe do ideal na Baixada Santista

A produção crescente de lixo pela sociedade aprofunda a necessidade da tomada de decisões para ampliação dos processos de reciclagem, a melhor alternativa para amenizar os impactos ambientais e garantir novas fontes de renda.

Por: Cris Challoub
Da Redação

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Você sabe qual o destino do seu lixo? Muitos infelizmente não saberão responder a pergunta. Afinal o que acontece com os resíduos sólidos que todos geram diariamente, seja em casa ou no trabalho? Em uma sociedade cada vez mais consumista, onde ter é ser, a quantidade de resíduos apenas aumenta a cada ano, sem a devida conscientização do descarte.

Para se ter uma ideia, as nove cidades da região geravam por dia, em 2003, 884,8 toneladas, de acordo com dados da Cetesb. Após uma década (2013), passaram para 1.559,3 toneladas diárias (aumento de 73%). Em Santos, o aumento foi 251 para 389 toneladas por dia no período. Já a média diária de 2014, segundo dados da própria prefeitura, foi de 529,19. A reciclagem, porém, ainda representa pouco, em torno de apenas 3% do total produzido na Cidade.

E a pergunta vai além: o que as cidades da Região Metropolitana da Baixada Santista projetam para os próximos anos, tendo em vista que o Aterro Sítio das Neves, na área continental de Santos, local que recebe o lixo de oito das nove cidades da região, tem apenas seis anos de vida útil, de acordo com declarações do presidente da Cetesb, Otávio Okano, que também divulgou como opção a implementação de incinerador de lixo, abrindo uma ampla e polêmica discussão. O tema foi, inclusive, debatido em ato público realizado pelo Fórum da Cidadania, que divulgou manifesto com argumentos contrários a esta opção.

Além disso, nenhuma das cidades aplica na totalidade a Política Nacional de Resíduos Sólidos, que prevê a destinação ambientalmente adequada de todos os resíduos e rejeitos. O prazo atual é que a partir de 2016 os aterros só recebam materiais que não sejam reaproveitáveis ou recicláveis. Além de instituir a responsabilidade compartilhada dos geradores de resíduos: dos fabricantes, importadores, distribuidores, comerciantes, o cidadão e titulares de serviços de manejo dos resíduos sólidos urbanos na Logística Reversa dos resíduos e embalagens.
Para a bióloga Ingrid Oberg, que atualmente está de licença do cargo de diretora do Ibama/Santos, o modelo de sociedade atual não funciona de maneira ecossistêmica e as pessoas não se preocupam com o que geram, tirando de si esta responsabilidade, mas acredita que existem soluções. “Vários países já conseguiram. A Suécia, por exemplo, implantou uma lei parecida em 1972. A política nacional, mesmo vindo atrasada, é um avanço. O que falta na Baixada é os municípios realmente se juntarem. Cada um fez seu plano apenas para constar, mas ainda não houve uma união para fazer uma proposta conjunta. Se cada município pensar algo, fica mais caro e difícil de concretizar. A solução deve ser unificada”, explica.

O incinerador, de acordo com Ingrid, não é solução. “Para ser viável economicamente precisaríamos mandar tudo para ele e isso vai contra a lei. Apenas com o rejeito não fecharia a conta. Além de ter um custo alto, de milhões, não resolverá o problema”, acrescenta.

Assim também acredita o engenheiro e professor da Unisanta Élio Lopes dos Santos, que explicou em sua apresentação na reunião do Fórum que os incineradores geram outros tipos de resíduos, muito mais poluentes. “Esta proposta é incoerente. Se for para buscar outras tecnologias porque não se fala do plasma que não gera poluentes. O mais grave de tudo isso é que países mais desenvolvidos estão abandonando a tecnologia (incinerador). O problema está na manutenção dos equipamentos para não gerarem poluentes cancerígenos no ar”, conclui.
Para Ingrid Oberg, o biodigestor – que gera adubo e metano (para energia) – tem um custo menor e poderia ser solução para os resíduos orgânicos, que também não têm descarte correto em algum município da região. A reciclagem, com campanhas para separação, além de incentivos e parcerias com cooperativas, também vem de encontro ao que realmente é necessário, segundo ela.

Já Elisabeth Grimberg, coordenadora de Resíduos Sólidos do Instituto Polis, também presente na reunião do Fórum, explanou sobre a preocupação da instituição nos projetos de incineradores em cidades de São Paulo, sendo que na região, Praia Grande já se posicionou oferecendo terreno. “Temos que nos posicionar como sociedade para exigir o destino adequado aos resíduos secos, orgânicos, gerando inclusive renda. Temos que parar de tratá-los como lixo sem valor. Além de exigir a questão da responsabilidade por conta das indústrias e empresas”.

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Aterro é destino de reciclados

De segunda a sábado, os caminhões de coleta seletiva percorrem os bairros de Santos. Cada local é atendido uma vez por semana, que coletam os resíduos que serão levados à Usina de Separação de Materiais, na Alemoa. Diariamente, chegam cerca de seis cargas. De acordo com o coordenador da Usina de Triagem de Resíduos Sólidos, João Maria Batista Leonez, o número de veículos na rua aumenta principalmente em feriados e temporada. Ele, que trabalha há sete anos neste ramo, conta que – na época quando iniciou o serviço – o local recebia cerca de 100 toneladas/ mês. Hoje, no período de verão, este número chega a 400 toneladas/mês.

Nesta época, como a demanda é superior à mão de obra há acúmulo. “Há resíduo para ser separado desde janeiro, mas acredito que até o final de abril conseguerimos zerar este atraso”, destaca. O coordenador reconhece que a coleta, assim como o número de pessoas que trabalham no local, não é o suficiente — especialmente na temporada. “De tudo que acaba indo para o aterro depois da triagem, cerca de 40% poderia ser reciclado. O volume, porém, é muito grande e ele é mandado para o transbordo que o encaminha ao aterro na área continental”.

Além disso, por mais que hoje o cidadão já tenha maior consciência, chegam muitos materiais lançados equivocadamente. João explica também que diferente do que as pessoas acreditam os resíduos não são triturados pelo caminhão, mas compactados. “O vidro, por exemplo, deverá ser quebrado aqui de qualquer forma”, explica. Mesmo longe do ideal, a Usina, segundo Leonez, serve de referência a outras cidades.
O programa é executado pela Prodesan e a separação é realizada por usuários do Programa de Saúde Mental da Secretaria Municipal de Saúde.

Projetos
De acordo com a secretária de Meio Ambiente de Santos, Marise Céspedes, projetos para aumentar o número da coleta destes materiais serão lançados. “Nesta semana, fechamos parceria com a empresa 3r para criação de postos de coleta pela Cidade, onde cada cidadão que contribuir receberá um cartão que dará direito a créditos em supermercados que serão parceiros. No futuro, também teremos mais uma cooperativa atuando além da atual Cooperativa para Todos, que já funciona no local. O intuito é fortalecê-las, promovendo o auto-sustento”, explica.

 

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