Pastel do Akira, sucesso de Santos para o mundo | Boqnews
Akira frita pastéis que fazem sucesso. Foto: Nando Santos

Personagem

14 DE JUNHO DE 2018

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Pastel do Akira, sucesso de Santos para o mundo

Akira Otani chegou ao Brasil em 1960. Trabalhou na roça e granjas no interior paulista até chegar a Santos, no litoral paulista, em 1967, onde começou a produzir pastéis, incluindo frutos do mar como ingredientes.

Por: Fernando De Maria

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Impressiona o vai-e-vem das pessoas que passam pela calçada em frente ao número 286 da Rua Henrique Soler, na Ponta da Praia, em Santos, no litoral paulista.

As filas de consumidores, especialmente às sextas e sábados, e a frequência de carros é constante.

Motivo: saborear o famoso pastel do Akira, um dos símbolos da presença nipônica no município.

Santos, aliás, foi pioneira a receber os imigrantes japoneses, cuja data é comemorada na próxima segunda (18) marcando os 110 anos da imigração japonesa no Brasil.

Mesmo aqueles que não param para comer um dos 10 sabores da casa (ou melhor, carrinho de pastel!) não deixam de cumprimentar o simpático comerciante nipônico que chegou ao Brasil exatamente no Dia da Independência: 7 de setembro de 1960, via Porto de Santos, assim como milhares de seus conterrâneos. Antes e depois dele.

Quem vê aquele senhor de 73 anos e 1m53 de altura não imagina sua rotina e disposição.

Sempre de terça a sábado (exceto feriados), ele chega ao seu estabelecimento (Pastel do Akira) às 3 horas da madrugada para preparar a massa das centenas de pastéis e os respectivos recheios: camarão, palmito, carne e até lula, a mais recente novidade, entre outros ingredientes.

Pergunto-lhe sobre a quantidade de pastéis produzida diariamente.

Ele ri. “É segredo”, afirma.

Afinal, basta fazer uma multiplicação simples para chegar à conclusão das vendas.

Por isso, ele guarda a informação a ‘sete chaves’.

Mas isso não é relevante para contar a história de Akira.

O comerciante reconhece que a crise econômica nacional também atrapalhou o volume das vendas no seu negócio.

“Antes, eram seis quilos de camarão limpo, cinco de carne e quatro de queijo que eu usava nos recheios. Agora, diminuiu pela metade”, lamenta.

 

Rotina

Após os preparativos, por volta  das 9 horas, os pastéis já começam a ser vendidos pelo seu filho, Roberto, e um ajudante.

São comercializados em uma velocidade impressionante.

Basta ficar no local por alguns minutos para acompanhar os pedidos.

Com sorte, o cliente ainda encontra alguns sabores até o início da tarde.

Se deixar para após às 14/15 horas, o risco é grande de ficar apenas com água na boca.

“Acabou? Só amanhã!”, sorri.

Missão cumprida na cozinha, ele deixa o filho à frente do negócio e vai fazer seu esporte favorito.

Andar de bicicleta pela orla, da Ponta da Praia, onde reside, até São Vicente.

Atividade diária que faz há 14 anos.

Já sofreu quedas (no dia da entrevista, inclusive) e até atropelado foi por uma moto (em plena ciclovia), quando teve que ficar por três meses em uma cadeira de rodas.

Porém, os percalços não o desestimularam para continuar com o exercício diário.

Faça chuva ou sol. Calor ou frio.

 

Akira, mais de meio século fazendo sucesso com seus pastéis em Santos, que já ganharam o mundo. Foto: Nando Santos

Pastel de sucesso

O pastel sequinho, sem gordura, ao lado de ingredientes de qualidade – desde o óleo (Liza) até o recheio – alavancam as vendas.

“Este é o segredo”, ri, sabedor da qualidade do produto oferecido que já ultrapassou fronteiras.

E tudo feito de forma manual. “A temperatura da mão é fundamental”, acrescenta.

Uma cliente passa por ele, para e fala que uma amiga, moradora em Barcelona (Espanha), sente saudades do ‘pastel do Akira’.

Assim, como de costume, abre um sorriso.

“Ensinei o segredo do pastel até para uma pessoa que hoje o faz no Havaí (estado norte-americano)”, ressalta.

“Ele veio à minha casa e disse que queria aprender a fazer o pastel. Ensinei os truques e hoje ele produz por lá”, diz, orgulhoso com o segredo do seu sucesso, enquanto cumprimenta outro pedestre que passa pela calçada.

Sempre movimentada, aliás.

Afinal, Akira atua naquele trecho da Henrique Soler desde o final dos anos 60.

Dessa forma, conhece a todos. E todos o conhecem.

Torcedor do Santos FC, Akira teve o merecido reconhecimento pela Cidade.

Em agosto de 2016, recebeu a medalha de honra ao Mérito Braz Cubas, de autoria do vereador Sadao Nakai (PSDB), atual secretário de Esportes.

Período eleitoral, é claro.

Independente disso, orgulhoso, ele faz questão de destacar a (merecida, aliás) homenagem.

“Foram umas 80 pessoas na Câmara”, relembra.

 

Com frutos do mar

Se antes os pastéis – comuns em feiras e pastelarias – se limitavam ao trio: carne, queijo (muçarela) e frango, Akira inovou.

Introduziu frutos do mar no cardápio. E foi um sucesso. Até hoje.

Tanto que o número em vendas é o de camarão com queijo.

“Antes era camarão rosa, mas agora é o branco. O preço subiu muito. Está mais de R$ 120,00 o quilo. Impossível!”, reclama.

O preço da delícia? R$ 7,00. Vende como água…

O de carne sai por R$ 6,00 e outros, como palmito com queijo, parmegiana e pizza, R$ 6,50. Só para citar alguns.

Depois da dupla camarão-queijo, os preferidos são os de parmegiana, atum com queijo e de palmito com queijo, além do mais recente no cardápio: polvo com queijo.

E o de frango, tão tradicional? “O cheiro incomoda”, relata, rindo.

Afinal, os frangos fazem parte do passado de Akira, que trabalhou em granjas no interior paulista, logo ao chegar ao Brasil.

“De tanto trabalhar com frangos, não aguentei mais o cheiro”, reconhece.

 

 

 

Ao lado do filho, Roberto, e colaborador, Akira inicia as atividades às 3 horas da madrugada. Por volta das 9/10 horas, com a missão cumprida, pega sua bicicleta e vai pedalar – sob sol ou chuva – pela orla de Santos até São Vicente. Foto: Nando Santos

 

Nagasaki

Sete meses separaram o nascimento de Akira ao lançamento da bomba atômica pelos EUA sobre Nagasaki, no Japão, naquele fatídico 9 de agosto de 1945.

O sorridente pasteleiro teve uma infância difícil.

Nascido em 7 de janeiro daquele ano na mesma cidade que ganharia as manchetes do mundo em razão da tragédia, Akira recorda que já aos 9 anos acompanhava a mãe para levar os peixes pescados pelo pai para vender no mercado local.

Porém, na época, morava na ilha de Hirado, na província de Nagasaki.

No século XVI, foi um dos primeiros portos de comércio no Japão com o ocidente. Talvez isso tenha o inspirado para tocar seu negócio, mas não no Japão.

Afinal, eram tempos difíceis.

Assim, não demorou para vislumbrar novos horizontes.

O sonho de chegar ao novo continente o fez chegar em solo brasileiro aos 25 anos. Foram 45 dias de viagem.

Sem conhecer o português, chegou a Santos, mas logo foi trabalhar na roça no município de Elias Fausto, na região de Campinas, no interior paulista.

De lá, trabalhou em uma granja, em São Bernardo do Campo.

Uma nova proposta e nova mudança de endereço: desta vez para uma granja em Indaiatuba (isso explica o enjoo com o cheiro das aves…)

No entanto, a empresa faliu e ele voltou  para o campo.

Tornou-se produtor de tomate. “Ganhamos o primeiro lugar como o melhor tomate do Estado de São Paulo”, lembra.

“Tínhamos o selo Extra AA”, brinca com a letra A adicional.

Apesar da sociedade no negócio, Akira tinha medo de se contaminar com os agrotóxicos que abundavam na agricultura brasileira, graças ao lobby de grandes multinacionais do setor.

“Vou morrer se ficar usando isso”, relembra.

 

Em Santos

Assim, decidiu voltar à Cidade por onde chegou ao Brasil, em 1967.

Trabalhou em empresas, como a Tayo, para exportação de peixe para o Japão e, aos poucos, foi descobrindo que aquela massa de pastel e o recheio seriam os diferenciais do seu negócio.

Desta forma, começou vendendo dentro do Senai, na Ponta da Praia.

“Fui convidado pelo diretor”, lembra.

Aos poucos, cozinha, quibe e tempurá foram incorporados ao cardápio.

Mas o pastel se consolidou como carro-chefe e hoje é a única gostosura disponível dentro da sua variedade de sabores.

Graças a eles, que construiu família e garantiu estudos aos seus dois filhos, Roberto e Márcia.

Assim, mais de meio século depois morando no Brasil, Akira reconhece que hoje faz o que mais gosta.

Preparar pastéis com gosto de quero mais.

Verdade ou não, Akira é o exemplo de imigrante que descobriu o Brasil – e permitiu aos santistas, em particular, e ao público em geral, que descobrissem e se deliciassem com a sua especialidade.

Para quem não o conhece, vale a pena experimentá-la.

Portanto, para quem que já passou pelo carrinho, sempre vale a pena rever Akira, símbolo da força e do trabalho do povo japonês.

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