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Santos

27 DE JUNHO DE 2016

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Por vezes invisíveis, moradores de rua se espalham pelas calçadas

Apesar da Cidade não ter números atualizados, é nítido o crescimento da população de rua, especialmente com a queda nas temperaturas. Espalhados pelas calçadas, eles enfrentam o frio, o preconceito, a fome e a violência.

Por: Da Redação

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Por diferentes motivos, pessoas de idades distintas acabam nas ruas e têm como cama as calçadas, cobertas por muito papelão e – nos últimos dias – cobertores. Passam a noite embaixo – principalmente – de marquises. De acordo com último censo realizado pela prefeitura de Santos, em parceria com a Unifesp, a cidade tinha 591 pessoas vivendo nesta situação em 2013. Não existem dados mais atuais.

Parcela da população ignora esta triste realidade – que aparentemente vem crescendo – e os moradores de rua, muitas vezes, se tornam invisíveis no cotidiano. Entretanto, com o frio que começou antecipado e de forma rigoros_MG_0347a neste ano, atingindo baixas de 7ºC em algumas madrugadas, estas pessoas começaram a ser notadas. Há 22 anos, por exemplo, não fazia tanto frio, de acordo com boletim do diretor científico da ONG Amigos da Água, Rodolfo Bonafim. Na Capital, por exemplo, cinco moradores de rua morreram por complicações das baixas temperaturas. E o inverno começou apenas na segunda (20).

Em Santos, não existe notificado qualquer de morte por hipotermia, mas é fato que quem vive nas ruas passa por madrugadas bem geladas. E não são poucos os pontos onde é possível encontrar pessoas vivendo nesta situação. De usuários de drogas – a grande maioria – a pessoas que chegaram nesta situação pelas mais diferentes razões. Em algumas esquinas, mulheres e homens já montaram ‘casas’ com os materiais que recolhem pelas calçadas. É o caso da jovem Tamires (na foto em destaque), de 19 anos, que veio da Zona Sul de São Paulo e hoje mora com o marido em uma destas esquinas na Vila Mathias. “Não vou para abrigo, pois eles querem que a gente volte para nossas cidades e eu não quero”, contou. “A gente come em instituições assistenciais próximas daqui”, conta.

_MG_0406Varrendo o espaço onde montaram um abrigo improvisado, Tamires relata que decidiu descer a Serra, pois brigou com o pai. O motivo, segundo ela, é que ele bateu na mãe. Para “não acabar em morte”, decidiu se distanciar. Desde os 13 anos, a rua é sua segunda casa e desta última vez não voltou mais. Há nove meses em Santos, hoje está casada e grávida de seis meses de um menino. “Meu marido trabalha no porto ajudando a descarregar caminhão. No próximo mês, vamos pegar o Bolsa Família e assim que eu sacar o dinheiro, iremos alugar um quarto para morarmos com o bebê”, fala. Tem na ponta da língua a data exata para isso acontecer: 23 de julho. Ela afirma que faz o pré-natal na policlínica do bairro. Antes de descobrir que estava grávida, Tamires trabalhava recolhendo materiais recicláveis, mas o marido não a deixou que continuasse em razão do barrigão.

Junto com Tamires e o marido, mais duas pessoas dormem no espaço que os protegem do vento e da chuva, além dos cachorros Príncipe e Princesa. No momento da entrevista, o marido estava comprando um iogurte para ela no mercado, um dos moradores estava dormindo e a outra tomando banho em um espaço existente junto ao cais. De noite, sempre é possível ver uma fogueira, na preparação de alguma refeição ou mesmo para aquecê-los.

Abrigos
De acordo com a Secretaria de Assistência Social, a Cidade conta com quatro abrigos, entre públicos e conveniados, que somam 204 vagas o ano todo. Desde o início do mês, o Abrigo de Emergência foi aberto, ampliando para 266 vagas. Também foi criada uma segunda equipe de abordagem social para atuar à noite, das 18 às 24 horas.
Ações sociais

13342894_1588578784806131_2876415911485020551_nUma das iniciativas que acontecem na Cidade para atender esta população é o Entrega Por Santos. O projeto surgiu quando a advogada Barbara Reis, de 26 anos, junto com uma amiga, resolveu fazer uma ação independente arrecadando alimentos e itens de higiene em maio de 2015 para distribuir entra e população de rua.

Enquanto se preparavam para o ato, conheceram o projeto Entrega por SP que ocorre na Capital. Entraram em contato e um dos organizadores, e ele veio até Santos para participar da ação com as jovens. Já no primeiro dia decidiram que a ação não seria isolada. Viram o quanto a atitude fez bem para quem passaria por mais uma madrugada solitária e para os próprios voluntários.

Decidiram criar o Entrega por Santos e não pararam mais. Assim como cresceu o número de voluntários nos últimos 13 meses, dobrando de 30 para até 60 pessoas, o número de moradores de rua atendidos também cresceu. “Era uma média de 80 a 100 kits distribuídos. Na última ação, foram 246. Neste dias frios, a solidariedade também aumenta”, conta.

O encontro acontece sempre no último sábado de cada mês, na Praça Nossa Senhora Aparecida, no Bairro Aparecida. O próximo será neste sábado (25). Por volta das 21 horas, começam a organizar todos os kits e de lá partem para os mais diferentes destinos. Em rotas diferentes, os voluntários se dividem e seguem para pontos já conhecidos. Mais do que distribuir alimentos, lanches e agora agasalhos, eles doam tempo em conversa e carinho. “O nome Entrega por Santos é muito mais que a entrega de um kit, de um alimento, mas sim a entrega de amor. No fundo a gente sai para ajudar alguém e quem ganha somos nós. É muito gratificante”, conta Bárbara que sente um crescimento no número de moradores desde que começaram a iniciativa. Quem quiser participar, basta comparecer na praça.

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