Violência contra mulheres aumenta no mundo real e virtual | Boqnews
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Machismo

19 DE NOVEMBRO DE 2015

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Violência contra mulheres aumenta no mundo real e virtual

O número de crimes contra mulheres aumentou no País e a internet se transformou em uma seara da violência verbal

Por: Da Redação

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A data de 25 de novembro, mas de 1960, ficou conhecida mundialmente por conta do assassinato brutal das irmãs dominicanas Pátria, Minerva e Maria Teresa, conhecidas como “Las Mariposas”. As três mulheres – que lutavam por soluções para problemas sociais de seu país – foram perseguidas e mortas.
Em 1981, durante o 1º Encontro Feminista Latino-americano e Caribenho, a data foi instuitda como o Dia Latino Americano da Não Violência Contra a Mulher. Já em 1999, a Assembleia Geral da ONU proclamou como o Dia Internacional para a Eliminação da Violência Contra a Mulher.

Completando 55 anos nesta quarta-feira do ato que marcou o mundo à época é certo dizer que a realidade feminina mudou e em muitos aspectos para melhor. Várias foram as conquistas nos últimos anos, nos âmbitos social e profissional. Triste, porém, é analisar os dados da violência no País e no mundo, que persistem em não só continuar existindo mas como aumentaram na última década. Basta ver os casos de homicídios no Brasil, com aumento de 21%. E nos dias atuais ganharam uma nova arma: a internet e as redes sociais.declaracao

Para a antropóloga e pesquisadora especializada em estudos de gênero e violência contra mulheres, Beatriz Accioly, a internet é uma tecnologia relativamente nova onde se derrubaram as fronteiras de quem produz conteúdo e de quem o consome.”É diferente da mídia hegemônica. Hoje, usuários podem postar, existem as redes sociais, os blogs. Mas isso exige uma adaptação social, jurídica e comportamental. Se de um lado permite que as pessoas se organizem e tenham mais acesso à informação, também possibilita por meio de uma falsa carapaça de anonimato que ocorra esse dicurso de ódio, perseguições e pornografia de vingança”, acredita Beatriz, que atualmente conduz pesquisa sobre violência contra mulheres na internet.

De acordo com a professora do Departamento de Letras Estrangeiras da Universidade Federal do Ceará e autora do blog Escreva Lola Escreva, Lola Aronovich, – recentemente alvo de ameaças e da criação de um site falso em seu nome promovendo o ódio – a internet é uma ferramenta com potencial para mudar o mundo para melhor, dando voz a vários grupos que não têm espaço na grande mídia (mulheres, negras, lésbicas, transsexuais).

Só que, segundo Lola, também é um espaço onde pessoas extremamente retrógradas combatem qualquer mudança. “É um playground para que essas pessoas possam tentar oprimir e silenciar os outros. E muitas delas aproveitam o anonimato para serem cada vez mais violentas. Muitos desses ataques não são individuais, mas orquestrados. São homens que se unem para atacar em grupo”, diz.

Para Beatriz, esta impressão que a internet é terra de ninguém não é verdade. “Ela está submetida à lei de regulamentação. Ainda falta caminhar, mas já existem regras. Uma ameça virtual não tem tanta diferença da ‘real’ a não ser pela agressão física. Por outro lado, a internet tem um diferencial importante: a rapidez com que a informação se dissemina é maior que qualquer outro meio e isso pode trazer consequências sérias”, diz.

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Confira entrevista completa da professora Lola Aronovich clicando na imagem

A professora Lola acredita que punir criminalmente alguns desses grupos, além de simplesmente fechar sites e páginas de ódio, pode ajudar a mudar este cenário de ‘terra de ninguém’. “Ainda fico incrédula ao receber tantos ataques por meramente ter um blog feminista. Uma coisa é discordar, outra é me ameaçar de morte e estupro, divulgar meu endereço residencial, espalhar fotos da frente da minha casa, e estender as ameaças à minha família. Os ataques são sempre muito agressivos. Feministas são alvos frequentes de grupos misóginos e reacionários, o que indica como nossa sociedade continua sendo machista e precisando do feminismo. É difícil lidar com esses ataques diários. Já fiz sete boletins de ocorrência, mas não adiantaram muito. A visibilidade é a minha defesa”, declara.

Em Santos, de acordo com a delegada responsável pela Delegacia da Mulher, Deborah Perez, cerca de 30% de todos os procedimentos são relacionados à internet. “Não somos experts em crime eletrônico, mas recebemos muitos casos. Todos que chegam fazemos investigação para descobrir a autoria, que na maioria das vezes já é conhecida, como ex-namorados. O que mais acontece são casos de fotos íntimas sem a autorização”,ressalta. Segundo Deborah, seria importante para a Cidade ter, inclusive, uma delegacia específica para delitos virtuais.

De acordo com a pesquisadora Beatriz, a legislação ainda não é suficiente, mas já deu passos importantes. “O Brasil já caminhou com o Marco Civil da Internet. Há a lei Carolina Dieckmann também. Hoje no Congresso há um projeto em votação para criminalizar a pornografia de vingança, incluindo-a como uma forma de violência doméstica dentro da Lei Maria da Penha. Não se sabe o efeito de tudo isso, mas o Brasil tem seguido na direção de tentar organizar este ambiente. Mas é tudo muito confuso ainda sobre como legislar”, ressalta.

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Manifestações

A semana foi marcada, na última quarta-feira (18) em Brasília pela 1ª Marcha Nacional das Mulheres Negras, em luta contra o racismo, a violência e as más condições de vida. Entre as mulheres, as negras são as maiores vítimas de crimes violentos. De 2003 a 2013, o assassinato de mulheres negras cresceu 54,2%, segundo o Mapa da Violência 2015: Homicídios de Mulheres no Brasil.

Em Santos, a Coordenadoria de Políticas para a Mulher, ligada à Secretaria de Defesa da Cidadania (Secid), promoverá neste sábado (21), a caminhada Quebrando o silêncio – diga não à violência contra a mulher. A iniciativa acontece em parceria com a Igreja Adventista. A concentração será às 15 horas, na praça em frente ao Aquário Municipal. O manifesto alerta para o Dia Internacional da Não Violência contra a Mulher, na quarta-feira (25).
De acordo com a delegada Deborah Perez, responsável pela Delegacia da Mulher em Santos há 17 anos, os casos de homícidios caíram. “De dois anos para cá não temos caso de homícidios, mas a violência doméstica e o estupro continuam acontecendo e cada vez mais. Há pouco tempo tivemos o caso do rapaz que violentou duas garotas”, explica. A violência, segundo a delegada, está enraizada na cultura.

De acordo com Deborah, o carro chefe da delegacia é a agressão, a lesão corporal. “Dentro de cada contexto social é importante que a mulher tenha o domínio da sua vida, principalmente financeira. A dependência não é aceitável”, ressalta.  Ainda hoje, de acordo com Deborah, muitas registram ocorrência e depois voltam aos agressores. “É como se usasse a polícia apenas para dar um susto. O que também não é certo. A mulher que chega aqui precisa vir com o intuito de se livrar do agressor, se não vira um problema crônico. É preciso coragem para mudar de vida e a independência é o primeiro passo para conquistar a liberdade”.

Delegacia da Mulher

Em Santos, a Delegacia da Mulher – inaugurada em 1987 –  fica na Rua Doutor Assis Correia, 5, no Gonzaga. Informações pelo telefone (13) 3232-1510

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