Felipe Saad: oito anos vivendo o futebol francês | Boqnews

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04 DE JUNHO DE 2015

Felipe Saad: oito anos vivendo o futebol francês

Por: Da Redação

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Felipe chegou à França em 2007. Foto: Site oficial do Caen

O empate por 1 a 1 com o Bastia, há alguns dias, foi suficiente para assegurar a manutenção do Caen na elite do Campeonato Francês. O time, que ainda venceria o rebaixado Evian por 3 a 2 na rodada final, terminou a competição em 13º lugar, com 46 pontos. A definição de qual seria o destino do clube a partir do segundo semestre era fundamental para que o zagueiro santista Felipe Saad, que defende a equipe da Normandia desde a temporada passada (quando os ‘Rouge et Bleu’ obtiveram o acesso à Ligue 1), pudesse começar a decidir o futuro – seu contrato se encerra no fim do mês. Uma indefinição rara na carreira do brasileiro.

“Nunca estive em fim de contrato antes… No começo do ano, o diretor-geral do clube fez uma reunião com os atletas dizendo que a prioridade era manter o time na Ligue 1 e que os casos de jogadores com o vínculo perto do término seriam vistos após a permanência ser assegurada. Não há nada certo ainda, até agora eles não se posicionaram”, explicou Felipe — que vem dando a entender que está de saída. Após o término da temporada, o defensor postou uma mensagem no Twitter em tom de despedida, agradecendo aos torcedores do Caen pelo apoio.

Em meio à indefinição, até um retorno ao Brasil não foi descartado. “Mas não será nada forçado”, avisou. O último clube por aqui foi o Botafogo, onde conquistou o título carioca de 2006 — segundo ele, o mais especial da carreira. “Apesar de não ter jogado na final (contra o Madureira), ver o Maracanã com 80 mil pessoas, foi muito legal e marcante. Logo na estreia, contra a Portuguesa Carioca, fiz um gol de cabeça e ganhamos por 2 a 0”, lembrou o santista, revelado na que é tida como uma das principais safras recentes do Vitória. “Tinha Adailton (zagueiro, ex-Santos), Obina (atacante, ex-Palmeiras), Felipe (goleiro, ex-Flamengo), Dudu Cearense (volante, ex-Seleção)…”, enumerou.

Antes de ir para o Vitória, em 1999, Felipe defendeu a base do Santos. O zagueiro ficou dos 12 aos 15 anos no Peixe, chegando a jogar ao lado do meia Diego e do atacante Robinho — com quem, inclusive, havia atuado no futsal do Portuários. O convite para testes no Rubro-negro surgiu após torneios disputados pelo Alvinegro no interior paulista. E se hoje as “canteiras” da Vila Belmiro não cansam de formar talentos como os atacantes Neymar e Gabriel, antes não era bem assim, segundo ele. “O Vitória tinha a melhor base do Brasil, era uma diferença muito grande para o que se fazia no Santos”, disse.

Foram cinco anos na base do Vitória, morando a maior parte do tempo na Toca do Leão (sede do clube) e chegando a conviver com os então meninos David Luiz e Hulk, hoje astros no futebol europeu. A primeira chance no profissional veio com Joel Santana, durante a Copa do Nordeste de 2003, vencida pelos baianos. Pelo Rubro-negro, Felipe também fez parte das conquistas dos Estaduais de 2003 e 2004. Além de Joel, o santista tem boas recordações do trabalho com Oswaldo de Oliveira. “Foi o técnico que mais me deu confiança, que acreditou no meu trabalho”, contou.

“Idolatria” na Bretanha e acessos no interior francês
Felipe chegou na França em 2007 e defendeu quatro clubes no país. O primeiro deles, o Guingamp, é com quem tem laços mais fortes. Foram três temporadas, mais de 100 jogos disputados e o título mais importante conquistado até agora na Europa: a Copa da França de 2009. No Stade de France, palco da final do Mundial de 1998, a equipe superou o Rennes por 2 a 1 e se tornou a primeira a vencer o torneio estando na segunda divisão. “Foi incrível, recorde de público do estádio (cerca de 80 mil pessoas) e um clássico da região da Bretanha. E foi dia 9 de maio, aniversário da minha esposa”, recordou.

O brasileiro, de alguma forma, também deixou sua marca em Guingamp. Na cidade, situada no noroeste francês a 480 quilômetros de Paris e com apenas oito mil habitantes, Felipe ganhou até homenagem. “Teve o dono de uma kebaberia que eu costumava ir que me adorava. Quando eu ia lá, deixava alguma camisa, e ele resolveu colocá-la em exposição. Dizem que está lá ainda (risos)”, contou. “Outro episódio legal foi quando estava no Evian e enfrentaríamos o Guingamp. Eu não joguei, mas, antes da partida, a torcida cantou meu nome e fez até uma bandeira com o meu rosto. Foi marcante”, lembrou.

No Evian, Felipe fez parte do elenco que, em 2011, conquistou o acesso à Ligue 1 pela primeira vez, e coube ao brasileiro marcar o gol que assegurou a promoção ao clube da região dos Alpes, na vitória sobre o Metz. No meio da temporada seguinte, porém, o zagueiro trocou de time, reforçando o Ajaccio – então lanterna da primeira divisão, enquanto o Evian ocupava posições intermediárias na tabela. “Acreditei no projeto da equipe. Além disso, um amigo meu, o Eduardo (atacante) tinha acabado de ser contratado. Nossas esposas se davam muito bem, foram padrinhos do nosso casamento”, explicou.

Foram duas temporadas no Ajaccio, ambas com o time brigando contra o rebaixamento (e se salvando nas rodadas finais). Em 2013, mais uma troca de clube, desta vez para o Caen, então na Ligue 2. Segundo Felipe, a opção de “descer” uma divisão foi tomada em família. “Quando defendia o Ajaccio, morávamos em uma ilha. Minha esposa estava grávida e as condições na área continental da França, onde moramos hoje, são melhores em termos de hospital e pediatria”, explicou o zagueiro, que acabou obtendo o acesso à primeira divisão na nova equipe.

Mudança de panorama e diferenças para o Brasil
O panorama do futebol local mudou sensivelmente de 2007 para cá. Hoje protagonista da Ligue 1 e um dos mais poderosos clubes da Europa, o Paris Saint-Germain brigava até para não ser rebaixado. Tudo mudou em 2011, quando Nasser Al-Ghanim Khelaifi, do Qatar, comprou o PSG e o reforçou com astros como Edinson Cavani, Thiago Silva e, principalmente, Zlatan Ibrahimovic. O Monaco, então na segunda divisão, foi adquirido pelo russo Dmitri Rybolovlev, que fortaleceu o time – um dos mais tradicionais da França, mas que vivia grave crise financeira – com João Moutinho, Falcão Garcia e James Rodriguez os dois últimos já deixaram a equipe.

Instagram

Felipe e Lucas: amigos fora de campo. Foto: Instagram

Felipe acompanhou de perto essa mudança de cenário, com a chegada de astros à liga francesa, e o avaliou como sendo positivo. “Para quem atua na França foi benéfico, pois, com grandes jogadores, as partidas passam em mais lugares. A minha família no Brasil, por exemplo, pôde ver meus jogos contra os principais times”, disse ele, ainda invicto contra “Ibra”. “Foram dois empates (risos). Já conversamos, é um cara legal, mas quando a bola rola, tem de ficar concentrado 100%. É um jogador com muita potência, que consegue arrancar com a bola em dois, três metros”, contou.

O zagueiro, porém, chamou atenção para um detalhe: na contramão dessa contratação de astros internacionais por clubes franceses, está a perda de espaço de brasileiros na liga local. “Antes, tinham uns 40 na primeira divisão. Hoje, tem no máximo 15, sendo que a maioria deles está em um único clube (PSG). Os times têm preferido investir em jogadores que já estejam adaptados ao país”, descreveu Felipe, avaliando que o fracasso da Seleção na Copa do Mundo, com as goleadas sofridas para Alemanha e Holanda, arranharam a imagem do atleta brasileiro por lá.

Felipe destacou, ainda, algumas diferenças na gestão do futebol na França e no Brasil. Segundo ele, há uma pressão maior para os clubes comprovarem as condições de participar dos torneios. “O Le Havre, que quase contratou o Adriano (atacante), pode cair para a oitava divisão se não provar que tem orçamento para a próxima edição da Ligue 2”, contou. “Outra coisa é essa questão de grupos de investimento terem 20%, 30% dos direitos. Quando se fala disso aqui, é feita até uma analogia com o corpo humano. Do tipo: 30% seria o quê? O braço do jogador? (risos). Claro que não é simples assim, é uma particularidade, mas dificulta”, emendou.

O santista, no entanto, ressaltou que as comparações entre as estruturas do futebol nos dois países não são apenas negativas ao Brasil. “A fisioterapia nos clubes brasileiros é de qualidade maior, e isso é consenso. Além disso, por aí, há uma busca maior pelo novo. Times como Corinthians, São Paulo, dentre outros, estão sempre buscando ferramentas diferentes para melhorar a performance. Na França, os clubes são conservadores, mais reticentes de investir, até por conta dessa pressão do orçamento”, encerrou.

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