Repertório inconveniente | Boqnews
Foto: Divulgação Previdência

Opiniões

18 DE MARÇO DE 2019

Repertório inconveniente

Por: Humberto Challoub

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Ao lançar críticas sistemáticas e replicar notícias falsas nas redes sociais contra uma parcela de jornalistas que têm questionado a atuação de seu Governo e familiares que ocupam cargos eletivos, o presidente Bolsonaro engrossa o coro dos políticos descontentes com o papel que a imprensa brasileira tem cumprido no País.

Ao generalizar e insistentemente qualificar o trabalho da imprensa como sendo um processo organizado de “denuncismo a serviço da oposição”, o presidente utiliza sua conhecida retórica maniqueísta para diminuir a importância de temas relevantes à sociedade e, ao mesmo tempo, lançar dúvidas generalizadas sobre os meios de comunicação.

Mesmo reconhecendo que, assim como qualquer outra atividade, a imprensa também está suscetível a cometer equívocos, os posicionamentos de Bolsonaro teriam maior valor se fossem dirigidos à tentativa de elucidação dos fatos, ao invés de estimular o acirramento de posições antagônicas e desqualificação de profissionais, induzindo à ideia da existência de manipulação de fatos dirigidos a trazer prejuízo à sua imagem.

Não há como negar que jornalistas cometam erros propositais e que donos de veículos de comunicação atuem com propósitos outros, ou se coloquem a serviço de interesses particulares. Porém, à sociedade cabe a fiscalização e o julgamento desses atos, especialmente em um estado plural e democrático.

Era de se esperar que Bolsonaro, com mais de três décadas de atuação política, estivesse acostumado às críticas habituais realizadas pela imprensa, pois esse é um dos papéis que lhe cabe cumprir.

Tantos outros governantes tiveram o mesmo dissabor e souberam entender que o cargo exercido delega direitos incontestáveis, mas impõe deveres institucionais que incluem a obrigação de dar total transparência e a devida publicidade aos atos praticados na função. A imprensa livre é uma conquista e um fator preponderante para a manutenção das liberdades individuais, por isso deve ser aceita com suas contrariedades e possíveis imperfeições.

Mais do que patrulhar jornalistas que exercem a função fiscalizadora, seria de mais valia que o presidente – e seus respectivos pares, especialmente os ocupantes de cargos eletivos – dedicassem o tempo disponível para utilização de redes sociais à recuperação da imagem dos poderes constituídos, que ao longo dos anos têm sido denegrida pelos desvios de conduta de seus representantes.

Ao fazer uso do mesmo repertório de mentiras e leviandades que condena na imprensa, Bolsonaro amplia seu descrédito em relação as suas reais intenções, desprezando a liturgia e a grandeza do cargo para o qual foi eleito para ocupar.

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