A denúncia das carteirinhas do Sócio Rei, cujo membros são denominados “fantasmas” (ou seja, pessoas inexistentes), ganha nesta terça (29) um novo capítulo. A diretoria do Santos FC afirmou ter investigado o incidente que repercutiu na última semana – e nisso, apontou dois nomes ‘pitorescos’ das carteiras emitidas que estariam ligados a dois membros de um dos grupos oposicionistas.
São eles: o subdiretor Jones Oliveira e o presidente da Terceira Via, Claudio Kobayashi.
“Quero dizer a vocês que me sinto constrangido. Nunca imaginei que sendo presidente de um clube da grandeza do Santos teria que tratar de assuntos de polícia, de malfeitores, e não me sinto preparado na vida para tratar sobre esse tipo de assunto. Vi o nome do clube exposto da pior maneira possível na mídia e nos setores do esporte”, disse o presidente santista Odílio Rodrigues, visivelmente emocionado pelas ameaças que recebeu após denúncia protocolada na última semana.
Contexto
A Terceira Via Santista, um dos grupos de oposição do Santos, protocolou na Polícia Civil, na última quarta, um pedido de instauração de inquérito para investigar uma denúncia de que seis mil carteiras frias de supostos associados “fantasmas” teriam sido emitidas para fraudar a eleição presidencial do clube, marcada para 6 de dezembro.
No dia seguinte à entrevista coletiva concedida pelos membros da Terceira Via Santista, a possibilidade de os sócios votarem nas eleições de dezembro pela internet foi votada. Os conselheiros – a maioria é da situação – reprovaram o voto web, com 85 votos contra 80. Desta forma, a votação será apenas presencial.
Em abril, o Santos constatou a existência de seis mil sócios irregulares. A consultoria desse trabalho foi feita pelo Serasa, que fez a triagem da relação de membros do Sócio Rei. Desses associados, 49 nomes ‘pitorescos’, como a diretoria santista denominou, foram constatados no sistema. O gângster ítalo-americano Al Capone, o ex-ditador chileno Augusto Pinochet (todos falecidos) e até mesmo Alexandre Nardoni, conhecido por ser acusado de matar sua filha Isabella em 2008, foram algumas das pessoas físicas inexistentes, entretanto inclusos no quadro.
Nesta terça (29), o CEO da S2 Publicom, empresa responsável pela Comunicação do Santos FC, detalhou as primeiras informações que a diretoria apurou sobre os casos das carteirinhas falsas. E dois dos nomes – Alexandre Nardoni e Al Capone – foram o pontapé inicial da investigação, porque no sistema de TI do clube, descobriu-se esses e os outros cinco nomes ‘pitorescos’ cadastrados pela internet com espaço de tempo curto (menos de 43 minutos).
Na investigação, Alexandre Alves Nardoni possui residência na Avenida João J. Magalhães nº 71, no bairro de Pinheirinho, na cidade de Alfenas, em Minas Gerais. Descobriram que outro associado – Adriana Conceição Esteves – mora também no mesmo endereço, porém em outro número: 75. Uma correspondência foi passada ao endereço de Adriana. “A associada não estava adimplente com a sua anuidade”, revelou a investigação.
Com essa informação, chegaram a um vídeo no YouTube da união matrimonial entre Adriane e Jones. Seu parceiro, no caso, trajava vestuário ligado ao Santos FC. “Descobrimos que seu nome consta na diretoria social da Terceira Via”. O nome era ligado a Jones de Oliveira F. da Silva, subdiretor social do grupo.
No caso de Al Capone, o endereço em questão era no bairro do Sacomã em São Paulo: Rua Aurantina, 141. Mesma residência de outro associado, identificado como Mario Barbosa.
“Mario Barbosa é velho conhecido, liderança do movimento popular Acorda Santista”, aponta a diretoria.
Além desse fator, a foto de Mario Barbosa é ligada a outra pessoa: Levan Kakiashvili, nome de origem georgiana. A pesquisa também foi feita pelo YouTube. O nome e a foto do folheto de “Mario Barbosa” também levam a mesma informação: trata-se de um cidadão da Geórgia, nascido em novembro de 1986, de acordo com informações na rede social VK (VKontakte), a rede social mais utilizada por russos e ex-soviéticos (33 milhões de usuários cadastrados).
A diretoria também utilizou o Google Street View para apurar o que tinha no endereço do bairro Sacomã, em São Paulo. Esse em que Mario Barbosa, da Acorda Santista (e cuja foto é de Levan), é associado. E descobriram duas empresas registradas nesse mesmo endereço. A primeira razão social é uma gravadora e editora. A outra, uma produtora e estúdio, todas com CNPJ.
“Pelas investigações, o nome da ARTVIP [gravadora e editora] está ligada na rede social profissional de Claudio Kobayashi”, completam.
Oposição
A reportagem do Jornal Boqnews entrou em contato com Orlando Rollo, conselheiro do Santos FC e membro de oposição, que disse ser uma “falácia”. “Não há como a oposição emitir carteirinhas. Isso consta no Estatuto”, diz. Ele também ressaltou que a Terceira Via levará o caso à justiça.