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08 DE JULHO DE 2011

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Para músicos e especialistas da região, o rock está longe do fim

Ao redor do mundo, talvez não exista um estilo musical tão popular e ao mesmo tão underground como o rock. O gênero conta com vertentes que flutuam entre acordes pesados e mais leves, que intercalam momentos de apogeu e queda, dependendo da demanda imposta pelo momento. Da mesma forma, sempre que há um período, por […]

Por: Da Redação

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Ao redor do mundo, talvez não exista um estilo musical tão popular e ao mesmo tão underground como o rock. O gênero conta com vertentes que flutuam entre acordes pesados e mais leves, que intercalam momentos de apogeu e queda, dependendo da demanda imposta pelo momento. Da mesma forma, sempre que há um período, por assim dizer, de “transição” entre gerações, cantores e grupos, surgem questionamentos e dúvidas acerca do futuro do rock. Irá ele acabar?


Não é, nem de longe, o que pensam músicos e especialistas da região ouvidos pelo Boqnews. Para eles, o gênero — que nesta quarta-feira (13) comemora o que ficou configurado como Dia do Rock desde que um show realizado simultaneamente em Londres e Philadelphia, em 1985, envolvendo grandes artistas e compositores do gênero, chamou atenção do mundo para a miséria existente em países do continente africano — é imortal.


O peso da indústria


Para o jornalista e crítico musical Julinho Bittencourt, o rock é um estilo cíclico, e vive atualmente um momento de desgaste até a vinda de novas referências, fruto da pressão da indústria da música. O que não significa que o estilo esteja fadado ao fim.


“(O rock) não acaba não, de jeito nenhum. O que pesa é que quando se depara com o mercado, o músico ou monta um grupo que se adeque ao que a indústria deseja, ou se arrisca a ir contra a maré, ou então desiste. Quando a indústria percebe que já tirou o bagaço daquela fórmula musical, vai atrás de coisas novas”, analisa.


“Na década de 70, por exemeplo, tivemos o Alceu Valença e sua música nordestina com elementos do rock. A indústria explorou aquilo até onde pode, depois mudou. O próprio Charlie Brown Jr., daqui de Santos, já viveu isso. Os primeiros discos vinham com aquela sonoridade pesada, uma linguagem de praia. Vieram outras bandas com esse estilo. Depois saturou e eles tiveram que se adaptar”, completa.


Outro questionamento que permeia o rock reside em suas raízes “rebeldes” e “contestadoras”. Bittencourt, porém, considera que mais do que posicionamento político, o rock deve ser permeado pelo talento. “Pode-se fazer música sobre o que se quiser, desde que com criatividade. Paul McCartney é um grande exemplo. Tem canções para sua cachorrinha que são obras-primas. E você tem bandas hoje que falam de meio ambiente de uma maneira pueril, ruim. A boa obra não significa que ela tenha uma grande mensagem”, avalia o crítico musical.


Estilo renovável


Vocalista da banda santista de heavy metal Shadowside, Dani Nolden avalia que, ao contrário do discurso pregado por muitos, o rock está longe do fim. Pelo contrário. “É um dos poucos estilos em que há renovação. Você tem bandas novas sempre criando alguma coisa interessante. Em um show de rock, você vê adultos, jovens e crianças. Há espaço tanto ao rock comercial, que atende o mercado popular, como às bandas tradicionais, com um estilo mais pesado, que ainda hoje fazem turnês e tocam em casas cheias”, considera.


Apesar do crescimento de bandas mais comportadas, Dani não acredita que isso impedirá que surjam grupos adeptos do ideal histórico do segmento, que é chocar. “Ainda há muita gente aquele espírito mais agressivo, no sentido de ser diferente. O rock é bastante democrático. Grupos de hoje, como o Restart, souberam encontrar seu público, a garotada. E de repente, essa garotada vai buscar outras coisas mais adiante. Mas ainda sendo no rock, é algo positivo”, avalia.


No Brasil, especificamente no tocante ao heavy metal, a vocalista vê um cenário um pouco mais delicado. “As bandas têm algum medo de tentar coisas novas. Parece que se preocupam mais em seguir as referências europeias ou americanas. Há potencial no Brasil, e nos últimos dois anos, já apareceram grupos com uma personalidade interessante. As bandas que se arriscarem são as que vão chamar atenção”, conclui.


Instinto de sobrevivência


O vocalista do Blow Up, Jose Lobão Neto, o Lobão, rechaça a ideia de que o conceito do gênero está se perdendo. “Penso que o rock está sempre se desenvolvendo, englobando muita coisa. E é um estilo que continua chocando”, analisa. “Veja o Restart. Há muita gente que critica, mas eles vieram com uma proposta diferente do que havia e muito boa. Proposta melhor, por exemplo, que outros grupos que tentaram esse espaço, como Polegar ou Menudos”, completa.


Lobão conhece bem do riscado quando o assunto é o rock. Sua banda, o Blow Up, está no dia-a-dia desde os anos 60, e ainda hoje faz shows pela Cidade. Até por isso, reconhece que embora a origem do gênero esteja na contestação, na não-acomodação — “aquela coisa de rebelde sem causa, e às vezes com causa”, diz — muitos aderiram ao rock politicamente correto.


Algo, a seu ver, mais por sobrevivência artística do que por vontade própria. “Existem muitas bandas que começam fazendo algo diferente do que buscam para conseguir produzir seu álbum e levá-lo para a rua. Depois de um tempo, partem para uma linha que mais lhes agrada. O Roupa Nova é um exemplo disso”, conta.


O “choque” entre roqueiros mais tradicionais e outros adeptos do estilo mais brando existe. No entanto, Lobão não vê isso como negativo. Pelo contrário. “O rock tem esse benefício de ser livre e democrático. Essas contestações são normais e positivas. São sinais de que não há roqueiros acomodados”, finaliza.

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