Patriarcado e masculinidade
O levantamento apontou que o conceito de “masculinidade tóxica” é desconhecido por 75% dos homens no Brasil. O termo explica que machismo e masculinidade hegemônica vêm a partir da construção do patriarcado. Isso é o sistema que, na construção do Estado, colocou as mulheres na esfera privada, cuidando da casa e dos filhos. Já os homens na arena pública.
“Responsável por manter a casa e por ocupar os espaços da política, onde se disputa poder”, destaca Mariano.
“A masculinidade vem referendar isso dizendo para o homem: ‘você precisa provar que é homem, assimilar determinados comportamentos’”, complementa o pesquisador. Essa construção é, segundo Mariano, tóxica ao dar aval para uma série de práticas nocivas.
Paternidade
Entre os comportamentos ligados ao padrão dominante de masculinidade que, de acordo com a pesquisa, vem sendo questionado pelos homens, está o cuidado com os filhos. Para 88% dos brasileiros, ser um bom pai é participar ativamente do cotidiano dos filhos. Enquanto 40% da audiência do YouTube de vídeos sobre cuidados com bebês é masculina.
“Ser pai é quem cuida, quem está junto o tempo todo, na medida do possível. Garantir uma casa limpa, as fraldas do bebê, as roupas lavadas. Fazer o rango. Dá um tapa na louça. Cuidar das contas. Cuidar da minha companheira”, afirma Marcel Segalla, de 33 anos, pai de Tiê, com menos de dois meses de vida.
Ele acredita ser preciso trabalhar ainda como transmitir bons valores à criança. “Saber a história da minha família, história do mundo. Pensar como traduzir essa história de erros e acertos dos familiares da gente, da humanidade, em forma de aprendizado que eu consiga transmitir para o meu bebê”, completa.
Contradições
A combinação de atenção aos filhos com responsabilidade com as tarefas domésticas não é, no entanto, um consenso entre os brasileiros. Para apenas 34%, os homens também têm como tarefa o trabalho doméstico.
O pesquisador da PUC-SP ressalta que as contradições são ainda maiores. “Os números têm, por um lado, crescido. Os homens têm buscado mais, os canais de YouTube têm mais assinantes.Mas os números de violência continuam crescendo”, aponta.
“O Brasil é o país que mais mata LGBTS. E o país em que uma mulher é assassinada a cada duas horas”, acrescenta o pesquisador sobre os fenômenos que atribui ao machismo; a masculinidade tóxica e a construção patriarcal da sociedade.
“Não adianta reconhecer e perpetuar. Você precisa avançar”, acrescenta Mariano. Ele defende que deve haver um esforço coletivo para desconstruir ideias e práticas ligadas à construção da identidade do que é ser homem.
Mas que são nocivas à sociedade. “Os homens precisam ser educados desde pequenos para comportamentos voltados à igualdade”.