Durante as festas de final de ano, as pessoas costuram abusar um pouco mais da comida.
Se o Natal tem um caráter mais familiar, o Ano Novo é uma celebração com outra característica, quando os excessos, tanto na comida quanto na bebida, são ainda mais evidentes.
O médico Nelson Marfil, especialista em Endoscopia e em Qualidade de Vida, e proprietário da clínica Endocentro, fala na entrevista a seguir sobre os cuidados ter uma virada de ano com sabor de novidade. E não de ressaca.
1 – Do ponto de vista médico, esta época do ano preocupa mais pelos abusos à mesa?
Nelson Marfil – Sem dúvida. As pessoas costumam abusar nas festas de final de ano e terminando este período bate aquele arrependimento e a busca por tratamentos milagrosos, muito fáceis de ser encontrados na Internet.
Outro fato interessante é que vivemos em um país tropical, porém herdamos do hemisfério norte pratos consumidos nas festas que são típicos de inverno, altamente calóricos.
2 – Que tipo de comportamento a pessoa precisa ter para aproveitar sem comprometer a saúde?
NM – O ideal seria procurar manter o consumo alimentar ou um pouco acima da sua média de ingestão.
Dar preferência ao consumo de frutas, frutos do mar e castanhas.
Mas vale lembrar que as castanhas são extremamente calóricas.
A ingestão de água também é essencial, principalmente no caso de pessoas que bebem álcool.
Uma boa regra seria tomar um copo de água após cada copo de bebida alcoólica, pois, deste modo, além de hidratar-se o consumo do álcool acabará sendo menor.
3 – Existe algum tipo de alimento que chama mais a atenção pelos problemas que pode causar?
NM – Sim. Além dos carboidratos de má qualidade, como salgadinhos em geral, podemos citar as frituras, refrigerantes e alguns assados quando bem passados.
As carnes em geral quando assadas em excesso geram anti-nutrientes que chamamos de produtos de glicação avançada, decorrentes da desnaturação das proteínas pelo calor, que são altamente lesivos à saúde.
Para ser mais claro, estou falando da famosa carne bem passada e da casquinha crocante do frango.
4 – Outra dúvida recorrente é quanto à qualidade dos alimentos. O que deve se evitar quando se come em restaurantes, por exemplo?
NM – Mais um problema de saúde pública. Alguns dizem que jamais comeríamos em restaurantes se conhecessemos suas cozinhas.
Exageros à parte, muitos maus profissionais da alimentação deixam de lado a higiene e a qualidade dos alimentos que são fornecidos aos seus clientes, principalmente nos restaurantes de baixo custo, tipo sirva-se à vontade.
Além disso a exposição de alimentos em peças com refrigeração inadequada ou expostos a contaminação pelos próprios clientes ao se servir tornam a refeição uma verdadeira roleta russa.
Quem não conhece amigos que tiveram uma intoxicação alimentar após frequentar restaurantes?
5 – E em casa? Qual o cardápio mais indicado?
NM – Os melhores alimentos são aqueles que alcalinizam o nosso corpo, os ricos em anti-oxidantes e de origem orgânica.
Podemos citar as frutas, em especial as vermelhas, os legumes e verduras de cor verde escura, chás naturais da própria erva.
E alguns alimentos de origem animal de procedência conhecida e certificada.
Tratam-se de alimentos um pouco mais caros, porém este é, na verdade, um autêntico investimento em nossa saúde.
Procurar evitar, de modo geral, as bebidas gaseificadas, as carnes bem passadas, leite e derivados, além do excesso de glúten.
6 – Quem está em fazendo algum tipo de tratamento ou em recuperação de cirurgia pode comer de tudo?
NM – Tais pacientes deveriam ingerir maiores quantidades de água, consumir frutas vermelhas ricas em polifenóis e anti-oxidantes e frutas ricas em vitamina C como o limão e a acerola, por exemplo, pois a vitamina C presente em especial nessas frutas, além de outras, é um excelente cicatrizante.
É recomendando também reduzir o consumo de carboidratos e aumentar a ingestão de proteínas.
Eles possuem os nutrientes responsáveis pela nossa regeneração e construção celular.
E a bebida?
7 – Nas festas também existe o abuso do álcool. Combinado com o cardápio próprio deste período do ano, quais são as principais preocupações?
NM – O álcool fornece em média 7 calorias por grama, enquanto proteínas e carboidratos fornecem em média 4 calorias.
Sem dizer que as bebidas alcoólicas sempre tem carboidratos na sua composição, o que eleva ainda mais o seu numero de calorias e o potencial para engordar.
Entre uma série de outros graves malefícios à saúde, o álcool é tóxico para o nosso fígado.
É um dos maiores responsáveis pela gordura no fígado ou esteatose hepática, que pode evoluir para a cirrose hepática.
Estudos dizem que, apesar de tudo, uma dose de álcool por dia, especialmente de vinho tinto seco, pode estar relacionada a benefícios para a saúde.
Porém, vejo este hábito com alguma reserva, pois a sensibilidade à bebida é bastante individual.
8 – O senhor teria algum exemplo de um caso que tenha ficado na memória justamente pelo abuso nas festas de final de ano?
NM – Muitos casos, especialmente porque sou endoscopista.
O início do ano, após as férias de verão, traz uma verdadeira legião de pacientes com gastrites, úlceras e a doença do refluxo gastro-esofágico, causadas ou agudizadas pelos abusos de álcool e alimentos.