Pesquisadores detectam que vírus da febre amarela permanece na urina após um mês | Boqnews
Foto: Erskine Palmer via Wikimedia Commons – Domínio Público

Saúde

16 DE FEVEREIRO DE 2018

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Pesquisadores detectam que vírus da febre amarela permanece na urina após um mês

Segundo o conceito atual, o período de transmissibilidade da febre amarela inicia-se entre 24 e 48 horas antes do aparecimento dos primeiros sintomas e vai até três a sete dias após o início da manifestação da doença.

Por: Da Agência USP
Da Redação

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A presença do vírus da febre amarela em amostras de urina e de sêmen de um paciente que sobreviveu à doença foi detectada quase um mês após ele ter sido infectado.

A descoberta foi feita por pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP, em colaboração com colegas dos institutos Butantan, de Infectologia Emílio Ribas e da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

A constatação, feita no âmbito de projetos coordenados por Paolo Zanotto, professor do ICB, com apoio da Fapesp, foi descrita em um artigo publicado na revista Emerging Infectious Diseases, do Centers for Disease Control and Prevention (CDC), agência de proteção à saúde do governo dos Estados Unidos.

“Essa detecção é bastante preocupante porque sugere, primeiramente, que o período de transmissibilidade [contágio] do vírus da febre amarela pode ser mais extenso do que o esperado em uma infecção aguda [com duração de, no máximo, 10 dias]”, disse Zanotto à Agência Fapesp.

Segundo o conceito atual, o período de transmissibilidade da febre amarela inicia-se entre 24 e 48 horas antes do aparecimento dos primeiros sintomas e vai até três a sete dias após o início da manifestação da doença.

Na maioria dos casos, os sintomas desaparecem após três ou quatro dias.

Um baixo percentual de pessoas infectadas entra em uma segunda fase mais tóxica no espaço de 24 horas após a recuperação dos sintomas iniciais, e metade delas morre em um período de sete a 10 dias.

Os pesquisadores acompanharam um paciente de 65 anos natural de São Paulo e que não entrou na fase tóxica da doença.

Detectaram a presença de RNA (material genético) do vírus em quantidade significativa em amostras de urina e do sêmen 15 e 25 dias após o surgimento dos sintomas iniciais de febre amarela.

O genoma do vírus isolado da amostra de urina do paciente foi sequenciado.

A análise do sequenciamento apontou que o vírus se agrupou a genótipos isolados na América do Sul, incluindo dois isolados em 2017 no Espírito Santo.

“Em um trabalho feito em colaboração com o grupo do professor Edison Durigon [do ICB-USP], já tínhamos identificado a presença dos vírus da dengue e de Zika na urina de pacientes infectados e, no caso do zika, também no sêmen. Por isso, decidiu-se verificar se isso também ocorria com o vírus da febre amarela”, disse Zanotto.

Arbovírus

“Essa descoberta, agora, sugere que o vírus da febre amarela também é um arbovírus [vírus transmitidos por vetores artrópodes hematófagos, que têm como hospedeiros animais vertebrados, como macacos e o homem] com capacidade de ser excretado pelo sistema urinário”, disse.

Os pesquisadores ainda não sabem quais podem ser as implicações da presença do vírus da febre amarela em amostras de urina e sêmen, além de com que frequência e por quanto tempo ele persiste nesses materiais biológicos, uma vez que analisaram um único paciente.

No caso do Zika, estudos anteriores, conduzidos em colaboração pelos grupos de Durigon e de Zanotto, mostraram que o vírus permanece no sêmen de pacientes durante meses e, depois, começa a decair lentamente. Além disso, também se confirmou que o vírus pode ser transmitido sexualmente.

“Ainda não temos uma boa amostragem para determinar por quanto tempo o vírus da febre amarela pode ser detectado na urina e no sêmen. Mas nossa estimativa, feita com base no acompanhamento do paciente que avaliamos durante um período de 21 dias após a observação dos sintomas iniciais da doença, é de que o vírus pode ser detectado nesses materiais biológicos pelo menos quase um mês após a infecção”, disse Zanotto.

Melhoria do diagnóstico da febre amarela

Na avaliação dos pesquisadores, os testes da presença do vírus da febre amarela, principalmente em amostras de urina de pacientes com suspeita de terem sido infectados, podem facilitar e melhorar o diagnóstico da doença.

Hoje, a confirmação clínica da infecção por febre amarela na fase precoce é baseada na detecção de RNA do vírus no sangue por sorologia, pela técnica de PCR de transcrição reversa (RT-PCR) ou pelo ensaio de imunoabsorção enzimática (ELISA, na sigla em inglês) – um teste que permite a detecção no plasma sanguíneo de anticorpos específicos, como a imunoglobulina M (IgM), que o organismo produz quando entra em contato com algum tipo de microrganismo invasor.

Esses testes são realizados geralmente quando pacientes com suspeita de terem sido infectados chegam aos hospitais.

Mais de 50% dos infectados pelo vírus da febre amarela, porém, não apresentam sintomas da doença, como febre alta, calafrios, cansaço, dor de cabeça e muscular, além de náuseas e vômitos.

“As pessoas que têm sido hospitalizadas são as que apresentam os sintomas da doença. Esses casos graves representam apenas a ponta do iceberg do problema da infecção por febre amarela no país, uma vez que grande parte dos infectados é assintomática”, disse Zanotto.

Diagnóstico facilitado

Eventualmente, a detecção do vírus por amostras de urina pode facilitar e agilizar o diagnóstico desses pacientes assintomáticos, principalmente em locais onde foram registradas mortes por febre amarela, indicaram os pesquisadores.

Os testes de diagnóstico de febre amarela em urina e sêmen também podem contribuir para reduzir os resultados falso-negativos e fortalecer a confiabilidade dos dados epidemiológicos durante surtos da doença, como o que ocorre atualmente em São Paulo e Minas Gerais, apontaram os pesquisadores.

“A detecção de vírus em amostras de urina já tem sido utilizada para confirmar infecções por outros flavivírus, como o vírus do Nilo Ocidental, o vírus zika e o da dengue”, explica.

“No caso do vírus da dengue, esse método ainda não deve se tornar padrão, porque até agora não sabemos certamente quantas pessoas infectadas, de fato, apresentam o vírus na urina. Mas isso precisa ser estudado”, apontou.

Por não ser invasiva, como o diagnóstico sanguíneo, a detecção do vírus da febre amarela na urina tem se mostrado útil e já está sendo integrada na rotina de vários grupos de pesquisadores envolvidos no estudo do surto atual da doença em São Paulo, segundo Zanotto.

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