Prisão de ator da Trupe Olho da Rua pela PM será denunciado ao MP | Boqnews
Foto: Nara Assunção

Santos

31 DE OUTUBRO DE 2016

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Prisão de ator da Trupe Olho da Rua pela PM será denunciado ao MP

Na quinta (3), Trupe Olho de Rua participará também da Assembleia Legislativa do Estado, às 15h, e de Sessão da Câmara de Santos, às 18h

Por: Da Redação

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O ator Caio Martinez vestia uma farda policial, da cintura para cima. Da cintura para baixo, uma saia preta, meia calça preta rasgada e um coturno da mesma cor. Caio estava algemado e cercado por três policiais militares, esses de fardas oficiais. Os policiais colocaram Caio Martinez, como um criminoso, na parte de trás da viatura, e o levaram para o 1º Distrito Policial de Santos. Meia hora antes, ele e outros atores encenavam a peça “Blitz”, uma comédia que brinca com o autoritarismo e o estereótipo do policial. 

A peça, encenada na Praça dos Andradas, no Centro de Santos, fazia parte de um sarau, que terminaria na Vila do Teatro, no mesmo endereço. O espetáculo foi interrompido por meia dúzia de viaturas da PM – uma dúzia de policiais – mais viaturas da Guarda Municipal. Os policiais, inicialmente, alegaram que o problema da peça na praça era o som alto emitido pelas caixas. No meio das discussões entre artistas e policiais, um dos PMs reconheceu: “o problema é o tom da peça.”

Não teria melhor jeito de começar este assunto que não por um trecho do artigo do jornalista Marcus Vinicius Batista, que estava no local no momento da prisão do ator Caio Martinez Pacheco, na tarde do último domingo (30), na Praça dos Andradas, ou como já chamam os artistas, Praça do Povo. O texto, publicado logo após o ocorrido, pode ser lido na íntegra no blog Giz sem Cor.

O assunto ganhou repercussão regional e nacional. Nas redes sociais, é possível ver diversos vídeos e posts sobre o assunto. Com este abaixo, postado por Paulo Celestino:

Se a cena fosse lá na década de 60, o fato seria justificável pela censura e autoritarismo presentes na época. Mas como justificar tal ação em pleno ano de 2016? Para o ator e diretor da peça teatral Blitz Caio Martinez Pacheco – que junto com parte de sua trupe Raquel Rollo e João Paulo Pires concederam uma entrevista coletiva na tarde desta segunda-feira – o ato da Polícia Militar junto com a Guarda Municipal foi uma repressão ao espetáculo Blitz – O império que nunca dorme, que ironiza a ação da PM. Para eles, foi um ato passional e de ódio. “Um verdadeiro retrocesso. A PM não pode dizer o que é ou não arte”, ressaltou Caio que ficou por volta de quatro horas preso.

No boletim de ocorrência, a descrição do ocorrido vem como contravenções contra símbolos nacionais, apreensão de objeto, desobediência e resistência. No documento, amplamente divulgado, ainda consta que o Hino Nacional era tocado de maneira desrespeitosa, as bandeiras do Brasil e do Estado de São Paulo estavam hasteadas de cabeça para baixo e com caveiras coladas nas pontas. Além disso, os atores aparentavam usar roupas militares, mas com máscaras de cachorro e de ratos.

Para a atriz Raquel Rollo, o ato representa um retrocesso de todo um trabalho que foi feito. “Quando começamos (por volta de 2004) tivemos um episódio da Guarda Municipal que queria parar nosso espetáculo. Conseguimos reverter a situação e depois disso tivemos vários diálogos com setores do poder público. Conseguimos fazer com que entedessem que estamos no nosso direito. Não devemos pedir uma autorização para apresentar um espetáculo. O que vemos agora é um retrocesso de todo um trabalho que foi feito, que mostrou o papel da arte da rua. Santos não quer ser um palco de cultura? Assim jamais seremos”, relatou.

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Durante a coletiva, que ocorreu na regional de Santos do Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo, os atores ainda divulgaram que participarão nesta quinta-feira (3), às 14 horas, da Assembleia Legislativa do Estado (Alesp) e, às 18 horas, na Câmara de Santos, que deve receber artistas e coletivos a convite do vereador Evaldo Stanislau. Para o parlamentar, que fez o convite durante a coletiva, o que ocorreu no último domingo foi inadmissível e antidemocrático. O caso inclusive, segundo a Trupe Olho de Rua, será denunciada ao Ministério Público e Direitos Humanos.

A Trupe enfatizou ainda a vontade de apresentar o espetáculo para o Batalhão da Polícia Militar em Santos. “A gente gostaria muito de apresentar. Muito mesmo. Uma oportunidade de colocar os agentes públicos onde tivessem que respeitar a expressão artiítica”, enfatizou Caio. “As pessoas podem não gostar, vivemos numa democracia, mas não podem impedir de apresentarmos”.

Em nota a prefeitura de Santos se limita a dizer que ‘a Guarda Municipal de Santos informa que o problema foi entre o grupo teatral e a Polícia Militar. A intervenção da Polícia Militar foi de iniciativa própria considerando o conteúdo da peça apresentada, com uso de símbolos nacionais. A Guarda Municipal foi chamada apenas para avisar que o grupo não havia informado sobre a apresentação. A Prefeitura de Santos compreende a importância das crescentes manifestações culturais em praças públicas e sua preocupação é apenas com a segurança e conforto do público”.

Ao final da nota, a Prefeitura dispõe-se a manter reunião com os movimentos culturais e as forças policiais visando assegurar a livre manifestação cultural e a preservação da segurança.

Já a Polícia Militar, entrada em contato pelo e-mail [email protected], não respondeu ao pedido de nota referente a prisão do ator até a publicação desta matéria.

Veja partes do espetáculo que tem apoio do Proac, ligado à Secretaria do Estado da Cultura.

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