
Empresário do grupo J&F, Joesley Batista, ao lado do diretor do grupo, Ricardo Saud, ficarão na sede da Polícia Federal até sexta (15), quando termina a prisão temporária. Dependendo da decisão judicial, eles poderão ser encaminhados ao presídio da Papuda. Foto: Rovena Rosa/Ag. Brasil
Os executivos do grupo J&F, Joesley Batista e Ricardo Saud, que tiveram a prisão temporária decretada ontem, desembarcaram por volta das 15h30 em Brasília.
Eles saíram de São Paulo em um avião da Polícia Federal por volta das 14h e foram direto para a Superintendência da Polícia Federal (SPF).
Ao chegar ao local, as duas viaturas que levavam os executivos foram recebidas com um protesto de um pequeno grupo de manifestantes que soltaram fogos de artifício. Motoristas que passavam pelo local buzinaram ao perceber os carros da PF.
Os manifestantes portavam bandeiras do Brasil e cartazes com dizeres “Somos todos Sérgio Moro” e “Bem-vindo, Joesley, Papuda te espera de braços abertos”
Joesley e Saud têm prisão decretada até a próxima sexta-feira (15) e ficarão na Superintendência da PF em celas separadas, de 9 metros quadrados cada.
Eles podem ser transferidos para o Complexo Penitenciário da Papuda caso a detenção seja convertida em prisão preventiva nos próximos dias.
Os dois se entregaram à PF depois que o ministro do Supremo Tribunal Federal, Edson Fachin, aceitou o pedido de prisão temporária do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, após a divulgação de um áudio de quatro horas de diálogo entre ambos que, de acordo com a PGR, aponta que eles omitiram informações durante o acordo de delação premiada.
As prisões temporárias dos executivos foram expedidas pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin, que acolheu o pedido feito pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
De acordo com Rodrigo Janot, um áudio de quatro horas de uma conversa dos executivos da J&F, que mencionavam o ex-procurador da República Marcelo Miller, aponta que eles omitiram informações da Procuradoria-Geral da República durante as negociações do acordo de delação premiada.
Nesta segunda-feira (11), agentes da PF cumpriram mandados de busca e apreensão em endereços dos executivos, na sede da J&F em São Paulo e na casa do ex-procurador da República Marcelo Miller, no Rio de Janeiro.
Reconhecimento
O empresário Joesley Batista e o executivo da JBS Ricardo Saud reconheceram em depoimento prestado à Procuradoria-Geral da República (PGR) que sabem de informações e possuem novos áudios que não foram entregues no acordo de delação premiada, negociado com a PGR.
A informação está na íntegra do pedido de prisão dos investigados feito pela procuradoria ao Supremo Tribunal Federal (STF) e aceito pelo ministro Edson Fachin.
No entendimento do procurador-geral, Rodrigo Janot, ao que tudo indica, a omissão de fatos nos depoimentos de delação foi intencional.
“Instados a comparecer a Procuradoria-Geral da República no dia 07/09/2017, os colaboradores foram evasivos, deixaram de apresentar fatos importantes e levantaram explicações confusas. Outrossim, reconheceram que há informações e áudios não entregues”, diz Janot.
Ex-ministro
O ex-executivo Ricardo Saud também disse que gravou uma conversa com ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo e omitiu o fato no depoimento de colaboração. A informação também foi utilizada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, para justificar pedido de prisão dele.
No pedido de prisão, Janot afirma que as gravações foram enviadas ao exterior e existem indícios de que novas gravações seguiram o mesmo caminho.
“Há, ainda, referências a outras gravações inclusive uma relativa a conversa com José Eduardo Cardoso, que não apenas deixaram de ser entregues ao Ministério Público Federal como foram levadas ao exterior, em aparente tentativa de ocultação dos arquivos das autoridades pátrias, o que reforça o intento de omitir alguns fatos, após a orientações de Marcello Miller [ex-procurador]”, afirmou Janot.
Em outro áudio que consta na investigação indicam que Ricardo Saud e Joesley Batista, dono da JBS, planejavam usar o ex-ministro José Eduardo Cardozo, na gestão de Dilma Rousseff, para atingir ministros da Suprema Corte.
A prisão temporária de Saud e Joesley Batista foi decretada na sexta-feira (8) pelo ministro Edson Fachin e tem duração de cinco dias.
Joesley e Saud foram convocados a prestar depoimento na semana passada após a PGR abrir investigação para avaliar a omissão de informações nas negociações das delações.
Janot explicou que um áudio entregue pelos advogados da JBS narra supostos crimes que teriam sido omitidos. A gravação foi entregue, por descuido dos advogados, como uma nova etapa do acordo.
Eles se entregaram à Polícia Federal, em São Paulo, e foram transferidos para Brasília no avião da corporação.
Outro lado
O advogado de Joesley e Saud, Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, divulgou uma nota afirmando que os delatores cumpriram rigorosamente tudo o que lhes era imposto ao assinarem o acordo de delação premiada.
“Não pode o Dr. Janot [Rodrigo Janot, procurador-geral da República] agir com falta de lealdade e, insinuar que o acordo de delação foi descumprido. Os clientes prestaram declarações e se colocaram sempre à disposição da Justiça. Este é mais um elemento forte que levara a descrença e a falta de credibilidade do instituto da delação”, disse o advogado, em defesa da revisão do uso do instituto de delação premiada.