A politização das questões que envolvem a pandemia de coronavírus, que teve como seu ato esdrúxulo mais recente a sequência do embate travado entre o presidente Bolsonaro e o governador João Dória, em torno da validade ou não de se adquirir vacinas provenientes da China, em nada tem contribuído para amenizar a gravidade da evolução da doença no País. Ao contrário, a insistência de se manterem em posições antagônicas no trato do combate ao vírus, antecipando um debate eleitoral que só ocorrerá em 2022, confunde e gera desconfiança à população, negando ou postergando medidas coerentes que poderiam evitar as muitas mortes que ocorreram e as que ainda poderão ocorrer.
Nesse sentido, mais do que nunca havemos de condenar práticas de marketing e reações histriônicas dos responsáveis em conduzir as ações que visam dotar o País das condições necessárias para superar o atual momento de dificuldade. Ao invés de perpetuar enfrentamentos políticos, seria de mais valia que presidentes e governadores dedicassem mais esforços conjuntos para, além da pandemia, oferecer a todos os brasileiros, sem exceção, atendimento à saúde com eficiência e qualidade.
Apesar de consagrado na Constituição como um direito fundamental, o sistema público até hoje não recebeu a devida atenção e, por isso, está constantemente presente na relação das principais queixas da população, um conceito negativo forjado pela completa negligência das autoridades, que até hoje não souberam – ou não quiseram – adotar políticas realistas de atendimento aos pacientes.
A depreciação das instalações hospitalares, a ausência de médicos em quantidade suficiente para suprir as demandas e a inexistência de projetos preventivos se tornaram comuns, banalizando os óbitos que poderiam ser evitados com o mínimo de organização e responsabilidade. A gravidade da situação no País também criou um paradoxo: a existência de fartos recursos para investimento no setor, que invariavelmente têm sido desviados ou mal aplicados pela incompetência – ou em alguns casos má fé – dos gestores do sistema.
Somente com a união de propósitos, conjugados com ações orientadas pela ciência e medicina preventiva, será possível alcançar a qualidade almejada para o setor. A superação das dificuldades existentes na saúde impõe a adoção de medidas criativas e vigorosas, sem as quais continuaremos a assistir passivamente a morte de brasileiros pelo descaso e desprezo à dignidade humana. Bom seria que se pudéssemos também contar com uma vacina contra a politicagem.
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