José Macia, o “Pepe”, costuma dizer que é o maior artilheiro do Santos FC.
Quando lhe perguntam: “E Pelé?”, ele respondia que o Rei não era desse mundo.
De fato, Pelé foi muito mais do que esportista: foi um artista fora de série!
Com seu “acervo” de 1283 gols, quatro Copas do Mundo (três vencidas), dois títulos das Américas e dois Mundiais Interclubes, sendo artilheiro em quase todos os certames que disputou, não à toa foi eleito o “Atleta do Século”!
Ele, junto com Dorval, Mengálvio, Coutinho e Pepe, formaram o melhor ataque da História, tornando o Santos FC o Melhor Clube do Século 20, nas Américas, consolidando o DNA ofensivo do time.
Eu, nascido em Santos, ainda criança me encantei por ele, nos anos de 1960, quando também aprendi a admirar Adhemar Ferreira da Silva, Aizita Nascimento, Blecaute, Jair Rodrigues, Wilson Simonal e tantos outros.
Como aceitar discursos preconceituosos, tendo crescido convivendo, mesmo que a distância, com tantas figuras emblemáticas? Bons exemplos superam a estupidez e a ignorância!
Confesso que, mesmo vivendo em Santos praticamente toda a minha vida, nunca tive oportunidade de encontrar Pelé!
Queria lhe agradecer por ter jogado em meu time, e por ter ajudado a superar o “complexo de vira-lata” que grassava no Brasil.
Mas, talvez não tivesse voz para tanto, afônico de tanto gritar os gols que fez ou “entregou de bandeja”, com ou sem tabelinhas. Até Pagão se converteu a ele!
Sua carreira o tornou universal, coroado “Rei do Futebol”, aos dezessete anos, iniciando um reinado de duas décadas, reverenciado em todas as partes do mundo, inclusive por monarcas e presidentes; parando guerra; e unindo, em abraços, sorrisos e vozes, gentes de todas as cores, ideologias e credos, num mesmo grito: Gol!, que também foi “But!” ou “Rete!”.
E tudo começou com o choro de seu pai “Seo” Dondinho, quando o Brasil perdeu a Copa de 1950: O menino Edson prometeu que um dia ganharia uma Copa para ele.
Não se sabia se teria fôlego para cumprir a promessa, mas Três Corações, sua cidade natal, lhe garantia o pulsar para tanto.
Jogar no Baquinho, de Bauru, lhe ensinou a não baquear perante dificuldades.
O olho clínico de Waldemar de Brito, e sua capacidade de convencer Dna. Celeste, o levou, então com 15 anos, para o Santos FC, onde virou “Gasolina”, mas, acabou preferindo o apelido anterior, que tampouco gostava, mas que o consagrou definitivamente: Pelé!
Embora a origem desse apelido que ganhou o mundo nada tenha a ver com o Monte Pelée, em Martinica, Pelé, no campo, era, de fato, um vulcão em constante erupção de classe, determinação, força, velocidade, criatividade e magia!
O Rei do Futebol nunca se preocupou com comparações de quem não tem mais nada o que fazer. Nunca buscou, insanamente, bater recordes, pois eles sempre se rendiam, impotentes e reverentes, a ele.
Também nunca quis misturar as coisas: Pelé e Edson sempre foram personagem e pessoa.
Assim, a arte de Pelé sempre estará acima de qualquer suspeita, a anos-luz de qualquer dúvida.
Pelé sempre teve amor plenamente correspondido pela bola, tanto que só ele pode chamá-la de “Ela”. “Ela” tinha a forma do mundo que conquistou!
Pepe tinha razão, ao dizer que Pelé não era desse mundo? É bem possível.
Quem sabe o “Craque Café” só tenha retornado ao mundo de onde veio. Talvez tenha sido abduzido ou reincorporado ao Cosmos, não ao time que também defendeu, mas ao Universo!
“Ela” está de luto, assim como a cidade que o abraçou e o time que defendeu, abençoado por todos os Santos… Nós também!
Adilson Luiz Gonçalves é escritor, engenheiro, pesquisador universitário e membro da Academia Santista de Letras – ASL
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