Primeiro de Maio: família, educação e trabalho | Boqnews
O Massacre de Chicago - Primeiro de maio de 1886. Foto: Reprodução

Opiniões

27 DE ABRIL DE 2023

Primeiro de Maio: família, educação e trabalho

Por: Da Redação

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Em mais de 80 países, o Primeiro de Maio se tornou o Dia do Trabalho e, em alguns lugares, o Dia dos Trabalhadores.

Mas, afinal, o que é o trabalho?

Exercer uma função especializada e remunerada dentro de um setor econômico na sociedade é um trabalho ou é um emprego?

Trabalhar é viver, é uma ação, um pensamento, um desejo, um movimento, uma intenção de realizar algo.

Já o emprego é a garantia de renda desse trabalho para o sustento do trabalhador a partir da ação coordenada no meio social de habilidades, competências e objetivos.

Então, todos nós trabalhamos, certo? Mas nem todos nós temos emprego! Por quê? Façamos a genealogia da data comemorativa.

Em meados de abril de 1886, em Chicago, nos EUA, durante o auge da produção industrial, tiveram início negociações e reivindicações de trabalhadores por melhores condições de vida, já que os seus salários e benefícios estavam esmagados pela concentração de lucros e rendas dos industriais com o sucesso do capitalismo.

Sem um acordo entre as partes, houve uma greve geral que paralisou a cidade de Chicago e travou a produção e o consumo.

O Estado, ao lado da ordem e do progresso, atacou os trabalhadores. Esse foi o Massacre de Chicago, em 1º de maio de 1886.

Em 1889, durante a Segunda Internacional Socialista, um ano após a morte do filósofo Karl Marx, a Federação Americana do Trabalho propôs em Paris a votação da data para garantir a memória da luta dos trabalhadores por seus direitos diante das inúmeras prisões e mortes de lideranças.

O surto industrializante iniciado no século anterior foi condição sine qua non da luta dos trabalhadores, da luta por direitos, ou mesmo, pela sobrevivência, de um lado, e pela continuidade dos privilégios, do outro.

No Brasil, foi o presidente Arthur Bernardes que oficializou a data durante o seu governo, mas foi durante os governos populistas de Getúlio Vargas, com apoio do advento do rádio, que o Primeiro de Maio se tornou um trunfo político e, ao mesmo tempo, um problema para os empregadores.

Em 1943, com a aprovação da Consolidação das Leis Trabalhistas — a CLT, que temos até hoje, mesmo com algumas mudanças –, a data se tornou uma força política para ambos os lados, aos que trabalham e aos que empregam, com narrativas controversas para ganhar o apoio popular por meio do que se pode chamar de biomídia — a imprensa que direciona a informação a partir do controle político do viver e do lucro capitalista.

Essa biomídia é dirigida até hoje pelos poderosos da economia e da política.

A partir do século XVIII, a Inglaterra tornava-se uma força como império político e economia industrial.

Eram os tempos da Revolução Industrial. Nunca, na história, havia se explorado tanto a natureza e o homem ao produzir uma enorme diversidade de mercadorias.

Aliás, o próprio trabalhador tornou-se uma mercadoria.

A tecnologia, aliada aos industriais, foi e é ferramenta incondicional para o sucesso do capitalismo, tendo no trabalhador e na produção o lucro necessário para o que vemos hoje, onde 1% da população mundial detém mais da metade da riqueza do planeta.

No Brasil, não escapamos desse milagre capitalista da produção, consumo e exploração.

Temos o nosso 1% da população de bilionários, que detêm mais da metade da riqueza do país. Isso é natural?

Não! Isso é produzido pelas linhas de força das relações de poder na violência, na persuasão e na ideologia.

Discutimos a questão da educação, mas não temos emprego.

Discutimos a questão da violência, mas temos estrutura familiar.

Discutimos a questão da miséria e da pobreza, mas não temos direitos.

Discutimos a concentração de renda, mas não taxamos os privilégios.

O tripé do fracasso social é formado pela família, educação e trabalho.

Não adianta investir em educação se não temos condições de garantir a estrutura familiar (saúde, alimentação, moradia, transporte e lazer).

Não adianta discutir família se não temos emprego com renda suficiente para aguentar as inferências consumistas da biomídia sobre os nossos corpos, desejos e almas.

E, não adianta discutir trabalho se não temos escola pública de qualidade, formando cidadãos conscientes, honestos e defensores do interesse coletivo.

O Dia Primeiro de Maio, ou Dia do Trabalho, ou Dia dos Trabalhadores deve ser marcado pela reflexão sobre o tripé do fracasso social, colocando lideranças políticas de todos os setores e classes num fórum de discussão, visando a diminuição dos privilégios e da concentração de renda em prol de uma vida plena a todos e que cada um consuma o que é necessário para si e que escolha o que é desejado para si sem o prejuízo do todo, da natureza ou do outro.

Wesley Espinosa Santana é professor do Centro Educação, Filosofia e Teologia (CEFT) da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM)

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