Me permitam fazer uma pergunta que eventualmente pode soar estranha e até polêmica: Será que não estaria na hora de darmos uma olhada na antiga Tchecoslováquia?
Desde 1977 os tchecoslovacos começaram demonstrar o descontentamento com o seu governo central (antes disso era bem mais complicado). Mas somente em novembro de 1992, após a queda do Muro, se realizou uma pesquisa de opinião que registrou que 49% dos eslovacos e 50% dos tchecos eram contrários a uma separação. Para 41% dos tchecos e 49% dos eslovacos, o assunto deveria ser objeto de um referendo.
Os fatores que mais contribuíam para gerar esse descontentamento eram culturais e econômicos, enquanto os tchecos queriam mais liberdade econômica e um estado menor, os eslovacos tinham um foco maior no social, queriam menos privatizações e maior concentração de responsabilidades no Estado. O referendo acabou não se concretizando e o destino do país acabou sendo decidido no campo político. O principal objetivo das negociações era de concluir uma separação pacífica. Em 25 de novembro do mesmo ano, o parlamento federal aprovou a lei constitucional sobre o término da existência da Tchecoslováquia, que dispunha sobre a extinção da república federal em 31 de dezembro de 1992.
Agora falando do Brasil: além da polarização nas últimas eleições, com resultados bastante regionalizados, pesquisas recentes têm mostrado um descontentamento crescente dos brasileiros com o seu governo central e quando olhamos para os detalhes das pesquisas verificamos que a relação entre os satisfeitos e os insatisfeitos tem uma disposição geográfica muito parecida com os resultados das últimas eleições. Os contentes com o governo estão mais concentrados nas regiões Norte e Nordeste, enquanto os descontentes se concentram mais nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste.
De volta aos tchecos e aos eslovacos: aparentemente ambos estão muito mais felizes com os seus governos, pois esses governos hoje cumprem muito melhor aquilo que cada uma dessas populações almejava e desejava. O processo de separação em dois governos além de ter sido feito de forma totalmente pacífica, atualmente permite a dupla cidadania e o livre trânsito entre as duas nações. Desde antes da entrada dos dois países na União Europeia permite-se a indivíduos de ambos os países cruzar a fronteira comum, sem passaporte, e trabalhar em qualquer local, sem necessidade de permissão oficial, caso, principalmente, de eslovacos que trabalhavam na Tchéquia.
Acredito que o nosso país, em especial o nosso Congresso, em algum momento terá maturidade suficiente para começar a discutir e pensar em propor um futuro referendo sério e bem estruturado para verificar a vontade popular em relação a uma eventual divisão. Os resultados podem ser surpreendentes e trazer benefícios para todos os brasileiros. Será que poderíamos ou até deveríamos pensar nessa solução?
William Horstmann é engenheiro, ex-executivo, consultor.
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