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03 DE JANEIRO DE 2025

Coragem

André Naves

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Quais suas superstições de Ano Novo? Todo mundo tem.

Desde as mais corriqueiras, como se vestir de branco, amarelo ou outras cores, comer romãs, tâmaras e lentilhas, até algumas mais sofisticadas e charmosas.

Esses dias, num desses programas da tarde, eu estava me divertindo com um sensitivo que dava todas as orientações para o ano que acabou de nascer.

Era tanta coisa que a gente precisa comer, e colocar as sementes na carteira, que a gente precisa usar uma pochete!

E as cores, então? E vocês sabiam que dá pra “pular ondas” no chuveiro ou na bacia?

Quem não tem praia tem bacia! Pelo sim, pelo não, minha casa está toda decorada com flores amarelas, e eu comi uvas, tâmaras, damascos e lentilhas!

Mas eu tenho uma superstição super séria. Essa eu cumpro à risca!

Todo fim de ano, entre o final de dezembro até o começo de janeiro, eu adoro tomar chuva.

Não vale qualquer garoinha, tem de ser daquelas que o céu preteja, como dizem lá na minha terra, em Jacareí!

Meu pai, de memória extremamente abençoada, me ensinou.

Tenho a desconfiança de que era um jeito das crianças aprenderem brincando a ter coragem.

O céu ia ganhando aqueles tons de chumbo e a roncar alto, e a gente, eu e meus irmãos, já se ouriçava. Minha mãe se preocupava, como sempre, mas sabia que não tinha muito jeito.

No fim, ela entrava na dança.

E a chuva caia, então! Era água, vento, refresco, bagunça!

A chuva, depois ele explicava, tirava nossas impurezas, tudinho de que a gente não precisa, limpa o corpo e a alma!

Quando o Altíssimo mandou Abraão ir, ele foi! Era exatamente isso. Buscar o melhor de si mesmo!

Atravessar seus próprios desertos! Remar até a terceira margem do rio “eu”, já escrevia o Guimarães Rosa!

Coragem para ir, para fazer, para buscar! Limpos, purificados, despidos das ruindades do ano que terminou.

E Abraão ganhou Isaque, aquele riso da realização. Essa brincadeira da chuva sempre terminava em riso!

Da Coragem nasce o sorriso! Esses dias, eu fui almoçar na casa de minha sogra.

Na volta, vínhamos minha esposa e eu pela rua quando desabou o mundo!

Dentro do guarda-chuva molhava quase tanto quanto fora. Foi quando ouvi o voz: vai!

Acho que o ouvi desde aquela eternidade oriental. E eu fui… saí do abrigo e fui caminhando por aquele dilúvio.

Quando cheguei no meu prédio, eu estava igual um pinto molhado, diriam. Olhei pro pessoal e falei: “É… terra da garoa, né?”. Risada geral.

Coragem e Riso! O ano está brotando!

Que nesses tempos a gente tenha coragem para fazer, para construir, para trabalhar, para desenvolver e multiplicar nossos melhores talentos!

Acima de tudo, vamos ter a coragem de sorrir!

 

 André Naves é defensor público federal formado em Direito pela USP, especialista em Direitos Humanos e Inclusão Social, mestre em Economia Política pela PUC/SP. Cientista Político pela Hillsdale College e doutor em Economia pela Princeton University. Comendador Cultural. Escritor e Professor (Instagram: @andrenaves.def).

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