Com a chegada dos últimos meses do ano, a situação financeira da maioria dos brasileiros segue preocupante. Segundo a Confederação Nacional do Comércio (CNC), 78% das famílias estão endividadas em 2025. A inadimplência atinge 30,2% dos lares, reflexo do alto custo de vida e da dificuldade de organizar o orçamento. Nesse cenário, o segundo semestre vira uma corrida contra o tempo para quem deseja fechar o ano no azul e iniciar 2026 com mais segurança.
Para o educador financeiro Resende Neto, ainda dá tempo de virar o jogo. “O segundo semestre é como uma reta final. Quanto antes a pessoa corrigir a rota, mais rápido vai colher os resultados. Não precisa esperar a virada do ano para começar a mudança”, afirma.
Diagnóstico e corte de desperdícios
O primeiro passo é fazer um diagnóstico real das finanças, listando todas as receitas e despesas. Segundo Resende, o erro mais comum é viver no automático, sem saber exatamente quanto se ganha ou se gasta.
“Se você não sabe para onde vai o seu dinheiro, qualquer aumento de salário será inútil. O padrão de vida cresce junto e a sensação de escassez continua. O maior vilão não é o salário baixo, é a falta de consciência”, explica.
Depois da análise, chega o momento de cortar desperdícios: assinaturas esquecidas, tarifas bancárias, planos duplicados de streaming, compras por impulso e delivery frequente. “Gasto é como cabelo e unha: precisa ser cortado sempre. E cortar não é viver pior, é ter paz sem contas atrasadas.”
Dívidas, micro-reserva e controle diário
Para quem está endividado, a prioridade é renegociar as dívidas mais caras, como cartão e cheque especial. Investir só faz sentido depois de estancar os juros altos. Ao mesmo tempo, Resende sugere criar uma micro-reserva, ainda que pequena, para evitar novos rombos.
“O ideal é quitar as dívidas da mais cara para a mais barata e, em paralelo, formar uma reserva. Às vezes, R$ 500 já evitam um novo endividamento”, orienta.
Segundo ele, o tripé da virada financeira é:
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reorganizar dívidas;
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montar uma micro-reserva;
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adotar um método de controle diário.
Planilhas, cadernos ou aplicativos podem ajudar. A dica do especialista é optar por ferramentas digitais simples, como o EnriclassApp, que permite lançar gastos pelo WhatsApp.
Planejamento de metas
Com as finanças sob controle, é hora de definir metas claras. Resende reforça que promessas vagas não funcionam. É preciso estipular valores e prazos.
“Viajar é sonho. Mas quando você define destino, data, valor e quanto guardar por mês, isso se torna meta. A diferença entre quem realiza e quem adia está na clareza do plano.”
Automatizar transferências programadas é uma forma de garantir disciplina e evitar a tentação de gastar antes da hora. Para reservas emergenciais, ele recomenda aplicações de alta liquidez. Já objetivos de médio prazo, como reforma ou curso, podem ser planejados em investimentos com prazos maiores.
Mesmo com pouco dinheiro, o segredo é começar. “Guarde 1%. Quando estiver fácil, passe para 2%. Depois 3%. Guardar dinheiro não é sobre valor, é sobre comportamento”, reforça.
Sobrevivência financeira
Dados do IBGE mostram que o rendimento médio do trabalhador caiu 1,4% no segundo trimestre de 2025. Ao mesmo tempo, a Selic permanece em 10,25% ao ano, encarecendo o crédito. O rotativo do cartão de crédito já ultrapassa 400% ao ano, segundo o Banco Central.
Nesse contexto, o alerta de Resende Neto ganha força: “Planejar é dar um endereço claro para cada real que entra na sua conta. Não é sobre controlar o dinheiro, é sobre retomar o controle da sua vida.”