Esse excerto do Evangelho de Mateus se refere às bem-aventuranças.
Bem-aventurança, segundo o Oxford Languages, é: estado de profundo bem-estar; felicidade completa; beatitude; suprema felicidade, que só é alcançável pelos santos e justos no céu, junto a Deus; glória.
Por isso, nunca será possível associar bem-aventurança a ódio.
Se assim fosse, estaríamos diante de um quadro psicótico, que, em níveis coletivos, seria catastrófico.
Alguns excertos do Sermão da Montanha são muito apropriados ao momento atual:
“Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o Reino dos céus; bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados; bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra; bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos; bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia; bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus; bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus; bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o Reino dos céus; bem-aventurados sois vós quando vos injuriarem, e perseguirem, e, mentindo, disserem todo o mal contra vós, por minha causa. Exultai e alegrai-vos, porque é grande o vosso galardão nos céus; porque assim perseguiram os profetas que foram antes de vós”.
Acrescento uma frase recorrente no Novo Testamento: “Quem tem ouvidos, ouça!” ou, no caso, leia.
A escalada de ódio, patrulhamento, perseguição e violência que vem ocorrendo a olhos vistos em várias partes do mundo demonstra que seus responsáveis, mentores e atores não podem ser considerados bem-aventurados, mas temerários, irresponsáveis e inconsequentes, daqueles que enxergam o cisco nos olhos dos outros, mas ignoram a trave diante dos seus.
É verdade que o Sermão da Montanha ora remete à vida terrena, ora a outro plano, ao afirmar que os mansos herdarão a terra e os perseguidos por causa da justiça terão o reino dos céus.
Considerando o cenário atual, é possível acreditar que os que têm fome e sede de justiça serão efetivamente saciados, quando às vezes nem o que comer e beber, esfomeados e sedentos pela “orgia dos farsantes”, como diz a música “Cordilheiras”, que também transformam a juventude num “exército de aflitos”?
Onde estão os pacificadores e os misericordiosos?
A parábola bíblica do Servo Incompassivo (Mateus 18:21-35), na qual o perdoado recusou-se a perdoar, também merece menção.
Não se trata de ser religioso ou ateu, mas de ter bom senso.
Porém, enquanto houver “deuses” cujo credo seja baseado em ódio, radicalismo, ganância e rancor, dificilmente o mundo encontrará paz.
Adilson Luiz Gonçalves é escritor, engenheiro, pesquisador universitário, e membro da Academia Santista de Letras
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