A NR Sports, empresa gerenciada pela família do jogador Neymar, anuncia oficialmente a repatriação da marca Pelé.
O anúncio ocorrerá em evento fechado à Imprensa e convidados na próxima terça (25), no Museu Pelé, em Santos, no litoral paulista.
Como o Santos FC joga no Sul na segunda (24) contra o Internacional é bem provável que o jogador Neymar esteja no evento.
A compra tem conexão da empresa NR Sports com Neymar Jr desde o retorno dele ao Santos FC no início do ano.
Afinal, materiais oficiais passaram a usar o termo “Príncipe” em referência direta ao legado do Atleta do Século, o Rei Pelé.
Um vídeo, aliás, que utilizou Inteligência Artificial com a voz do atleta era um indicativo.
Assim, a aquisição encerra quase duas décadas em que os direitos de imagem de Pelé estiveram sob controle de empresas externas.
A primeira venda ocorreu em 2005, quando a agência Prime assumiu a gestão.
Em 2012, a Prime repassou os direitos à Sport 10, comandada pelo britânico Paul Kemsley, ex-dirigente do Tottenham.
Após a morte de Pelé, seu filho, Edinho, revelou que buscava investidores para viabilizar a recompra.
O próprio Santos FC também fez tentativas neste sentido, ambos sem sucesso.

Júlio Mazzei ajudou Pelé a ir para o Cosmos, ampliando a dimensão da marca do atleta. Foto: Divulgação
Como a marca Pelé ganhou força
No entanto, vale relembrar como surgiu a força da marca Pelé, que começou realmente nos anos 70 – especialmente quando ele pendurou as chuteiras em gramados brasileiros.
Ou seja, basicamente, quando o Atleta do Século parou de jogar no Brasil.
Apesar da sua importância para o futebol mundial, Pelé não ficou rico em solo tupiniquim, como destacam algumas pessoas que conviveram com o atleta.
Além disso, naquela época, a relação do futebol com a força do marketing esportivo engatinhavam.
Assim, surgiu uma oportunidade ímpar para o atleta.
Dessa forma, a introdução de Pelé ao universo do marketing esportivo – e dando força ao nascimento prático da marca Pelé – começou efetivametne quando o atleta se transferiu aos Estados Unidos para jogar no Cosmos.
Mas não foi tão simples assim.
Quase dois anos de convencimento para o atleta mudar de ares. E gramados.
Com ajuda do educador físico e amigo pessoal, Julio Mazzei, que o conhecia desde 1965, Pelé se tornou um dos símbolos do Cosmos, que pertencia à empresa de comunicação Warner.
Visionário, Mazzei deu os primeiros passos e dicas para o que se hoje se entende como marketing esportivo no futebol.
Como o posicionamento das câmeras de TV para focar detalhes em campo, como quando Pelé se abaixava para amarrar o cadarço da chuteira, por exemplo.
Com foco no calçado – e na marca que o atleta usava.
Quase não foi
Uma curiosidade dita pela filha de Mazzei, Marjorie Mazzei, durante o Jornal Enfoque é que inicialmente Pelé não queria jogar nos Estados Unidos, após sua aposentadoria no Santos FC em 1974.
“Ele estava preocupado com o que o povo brasileiro ia achar dele jogar em outro time no exterior”, lembra.
Após negociações entre o atleta e o clube, que duraram três dias, houve um impasse.
“Ele disse: eu só vou se o professor Mazzei e a família dele vierem juntos”, relembra.
Quando estava tudo certo, uma desagradável surpresa.
O governo brasileiro ‘brecou’ a saída de Pelé para o Cosmos pelo que ele representava como patrimônio nacional.
A pedido da Warner, o então secretário de Estado Henry Alfred Kissinger contatou o então presidente Ernesto Geisel para liberar o Atleta do Século para jogar nos Estados Unidos.
“Ele conseguiu falar com o presidente brasileiro e explicar que ele estaria fazendo um grande favor para o povo americano”, lembra.
Após a conversa internacional, a liberação.
Resultado: em 1975, ele estreava no Cosmos.
Mudança, aliás, acompanhada de uma revolução na sua família.
“Foi uma reviravolta em nossas vidas. Chegando em Nova Iorque, lembro que tínhamos um tratamento VIP”
“O primeiro jogo do Pelé em Nova Iorque lotou o estádio, que era horrível”, recorda.
“O Pelé disse para o meu pai: ‘professor, olha o meu pé. Está verde. Não dá para jogar aqui’ “, relembra.
“Eles pintaram a grama de verde para parecer bonita na televisão”, disse Júlio ao atleta, relembra Marjorie.
Cheerleader
Assim, as famílias de Pelé e Mazzei moraram em um hotel no Central Park por quatro meses enquanto os apartamentos eram reformados e decorados.
“Íamos para a escola de limusine. Eu, a Kely e o Edinho (ambos filhos de Pelé)”, recorda.
A trajetória do Rei nos Estados Unidos se encerrou em definitivo em outubro de 1977 em jogo histórico entre o Cosmos e o Santos FC, onde o atleta jogou cada tempo por uma equipe. (leia mais aqui).
Vitória do Cosmos por 2 a 1.
Ressalte-se, Kissinger esteve naquela partida.

Ao Jornal Enfoque, Marjorie Mazzei lembra passagens da família ao lado de Pelé quando jogava no Cosmos. Foto: Reprodução Redes Sociais
Depois, ela própria virou cheerleader.
“Meu pai não ficou feliz com a ideia”, lembra.
“Fiquei sabendo que o meu pai falou aos atletas: ‘não cheguem perto da minha filha’ “, brinca.
“Nem as demais cheerleaders ficavam próximas de mim, pois várias namoravam atletas”, ri.
“O Pelé mudou a história do futebol nos Estados Unidos”, destacou.
Depois, em 1994, o país sediu uma Copa do Mundo, vencida pelo Brasil.
Pelé era um dos comentaristas da TV Globo na ocasião.
Em 2026, o país sediará novamente o torneio mundial – agora ao lado do México e Canadá.
Mas abrigará a grande final.

Henry Kissinger: graças a uma ligação para o governo brasileiro, Pelé foi ‘liberado’ para jogar nos EUA. Foto: Divulgação/Wikipedia
Curiosidades
Morando nos Estados Unidos, Marjorie , fotógrafa profissional e com longa trajetória em mídia no Brasil e nos Estados Unidos, contou curiosidades sobre a mudança que a sua família e da Pelé fizeram quando saíram de Santos, no litoral paulista, rumo aos Estados Unidos.
“O Pelé fez tudo por mim e pela família. Por coisas que ele sabe e não sabe”, explicou.
Na entrevista concedida ao Jornal Enfoque, ela comentou diversas destas curiosidades que certamente estarão presentes no livro que seu pai deixou e deverá ser publicado em 2026 em formato bilíngue (Português e Inglês).
Guardado pela sua mãe, falecida em 2021, o material foi deixado por Mazzei antes de adoecer.
Escrito à lápis, como ele costumava fazer, a obra traz curiosidades sobre técnicas esportivas, histórias de bastidores do Santos FC na ocasião e dicas para melhoria da performance dos atletas.
Além de curiosidades e passagens não só pelo Santos, mas também pelo Cosmos.
Mazzei morreu em 2009, em uma clínica em Santos, no litoral paulista, aos 78 anos.
“Faço questão de prestar esta homenagem”, disse, emocionada.
A magia do futebol brasileiro
A obra já tem uma título – deixado pelo seu pai: A magia do futebol brasileiro.
Aliás, magia de Pelé, Neymar, Ronaldos, Garrincha e tantos outros que fizeram e fazem parte da história do futebol brasileiro.
Além disso, Marjorie aguarda o reconhecimento por parte do Poder Público municipal e pelo Santos FC pelo que representou seu pai, Júlio Mazzei.
Em 2009, a Câmara de Santos aprovou lei que prestava homenagem ao profissional em algum espaço público.
Na prática, porém, isso nunca ocorreu.
Confira a entrevista no Jornal Enfoque
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