Quando dezembro chega, ele não encerra apenas o calendário. Ele coloca diante de nós tudo o que tentamos empurrar para outro momento.
A cada ano percebemos como nossa história de esperança sempre empurrou a transformação para o próximo século.
O XIX acreditou que o XX resolveria tudo. O XX depositou fé no XXI.
Agora, quase sem perceber, já começamos a imaginar que o século XXII dará conta do que evitamos enfrentar.
Transformamos o futuro em gaveta onde escondemos decisões difíceis, como se houvesse sempre mais tempo disponível.
Mas a cidade já não aceita essa gaveta. Suas ruas pedem escolhas reais. Suas encostas pedem proteção. Seus rios pedem respeito.
E a política urbana deveria ser o centro das nossas escolhas coletivas.
Mesmo assim, quando chegam as eleições, preferimos discutir por frases rápidas, fáceis de repetir, mas vazias de compromisso.
A cidade vira cenário quando deveria ser guia. Votamos como quem participa de um programa de competição, movidos pelo instante, esquecendo que as consequências vivem conosco muito além do resultado final.
É revelador notar como repetimos padrões. Muitas vezes quem chega ao poder não representa a mudança necessária, enquanto ideias valiosas são descartadas antes de existir espaço para debate.
Talvez falte coragem diante das exigências da transformação. Talvez confiemos demais na promessa de que a tecnologia resolverá o que não queremos enfrentar.
Mas dezembro, em sua simplicidade serena, lembra que nada amadurece no adiamento eterno.
A cada ano ele devolve um espelho que mostra nossa hesitação com elegância e firmeza.
A natureza, mesmo ferida, insiste em oferecer sinais de recomeço. Cada estação mostra que regeneração é possível quando abrimos caminho para ela.
A cidade também envia recados. Enchentes, calor excessivo, deslizamentos, lixo acumulado e paisagens exaustas são mensagens claras demais para serem ignoradas.
Tudo isso convida para um tipo de escuta que ainda precisamos aprender.
E assim dezembro se coloca diante de nós com uma pergunta que pertence não apenas a este ano, mas a toda uma geração. Será possível mudar o curso?
A resposta não está no século seguinte, mas no chão que pisamos agora, nos cuidados que decidimos cultivar, na coragem que escolhemos assumir.
O futuro não espera mais. Ele caminha ao nosso lado com paciência e expectativa.
E ainda acredita que somos capazes de dizer, com clareza e ação, aquilo que adiamos por tanto tempo: sim, é possível.
E começa agora.

Alessandro Lopes é arquiteto, professor mestre em Arquitetura e Urbanismo, pesquisador em Cidades Criativas e Inteligentes, e consultor regional do Instituto Multiplicidades
Deixe um comentário