
Neymar, o camisa 10 da seleção brasileira, possui características diferentes dos tradicionais meias-armadores.
Desde que futebol é futebol o Brasil sempre foi uma fábrica de craques. São incontáveis os jogadores que se notabilizaram pela sua técnica, inteligência e genialidade dentro das quatro linhas. Dentre eles, o protagonista era o camisa 10. Um jogador de meio-campo que era incumbido da organização do time e criatividade na armação de jogadas. Era um verdadeiro termômetro da equipe.
No entanto, de uns tempos para cá, a modernização do esporte tem mudado esse conceito. São raros, hoje, no mundo todo, jogadores que se assemelham a esse estilo de jogo tradicional.
O jornalista esportivo especialista em análises táticas de futebol, André Rocha, e comentarista dos canais ESPN, entende que a mudança mais visível foi a partir do momento da imposição da filosofia do treinador espanhol Josep Guardiola, em2008, no Barcelona.
“A redução de espaços, investimento em compactação e posse de bola foi um avanço de dez anos em três ou quatro. Isso exigiu algumas transformações em funções e posições”. Entre elas, a de que o clássico camisa 10 precisa de outras características que não seja exclusivamente a armação e criação.
“Hoje em dia o cara tem que pensar correndo. Como o Lucas Lima faz no Santos ou o Philippe Coutinho no Liverpool. Não existe mais aquela coisa de dominar, parar e pensar o jogo como o Riquelme fazia”, destaca.
Somado a disso, a maior exigência de versatilidade dos jogadores também obriga os volantes a assumirem mais esse papel. Marcadores que só sabem entregar a bola nos pés de meio-campistas pensadores, com precariedade criativa, não são bem vistos no futebol moderno. Já o camisa 10 necessita de maior mobilidade. “O congestionamento no meio-campo faz com que esses jogadores que antes atuavam mais centralizados passem a se concentrar nos lados do campo ou circulem mais”.
Na Seleção
A carência de jogadores que organizam a equipe tem sido presente até na seleção brasileira. Apesar do 100% de aproveitamento do técnico Dunga, o time canarinho tem essa deficiência de longa data. Atualmente, os volantes Luiz Gustavo e Elias não cumprem exatamente a função de armar jogadas.
O que se espera é que os jogadores pelos lados como William e Oscar se aproximem do meio e criem as jogadas. “O Brasil sempre cresce quando isso acontece. Firmino e Neymar são jogadores de arranque, infiltração e conclusão. O Neymar é um jogador diferenciado que pode dar assistências, mas não é a sua característica principal”.
Lucas Silva (Real Madrid) e Casemiro (Porto) são alguns que se encaixam na proposta de volantes armadores.