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Foto: Thalles Galvão

Cidades

28 DE AGOSTO DE 2015

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Conheça a relação de Santos com a Segunda Guerra Mundial

Aniversário de setenta anos de fim do acontecimento histórico ocorre nesta quarta-feira (2)

Por: Cris Challoub
Da Redação

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Na quarta-feira, dia 2 de setembro, representa os 70 anos do fim oficial da Segunda Guerra Mundial (1º de setembro de 1939 – 2º de setembro de 1945). Apesar do Brasil não ser exatamente um protagonista na batalha entre Eixo e Aliados, Santos sentiu impactos e consequências do conflito. Hoje, o município abriga um ex-pracinha, de 92 anos, Matheus Salso, e o ex-presidente da Associação Japonesa de Santos, o ativista nipônico Arata Kami, de 93 anos, que fizeram parte de uma época quando o Município expulsava estrangeiros que tinham nacionalidades dos países do Eixo (Japão, Alemanha e Itália) e confiscava suas posses; que vivia às escuras com medo de ataques de submarinos alemães; que abrigou uma rede de espionagem nazista, mas contou com uma população engajada.

Ameaçassubmarino
Ataques ao Porto de Santos pelos submarinos alemães e na Usina Henry Borden, pela aviação nazista, eram os grandes temores da população naquela época. Havia rumores sobre os submarinos alemães fazendo com que a população sentisse medo de um possível ataque. Porém, de acordo com livros analisados pela historiadora, Wilma Therezinha Fernandes de Andrade, o objetivo era espionar o movimento de navios no Porto, principalmente os estrangeiros. “Em Santos, também existiam espiões. Eles se comunicavam por meio de rádio com os submarinos”.

A Cidade ficou completamente às escuras. Os bondes que trafegavam por Santos foram obrigados abaixar as cortinas para que o veículo não fosse visto pelos submarinos. Foi proíbido, até mesmo, que os moradores da orla de Santos não acendessem as luzes das residências. A escritora Edith Gonçalves Dias, que morava no casarão onde hoje é a Pinacoteca Benedicto Calixto, colocou panos pretos em sua janela para que a iluminação interna não fosse vista do lado externo.

Acredita-se que no início da Segunda Guerra Mundial, a Usina Henry Borden — que na época era considerada a sétima maior em potência elétrica do mundo — seria alvo de sabotagem. Felizmente, o ataque nunca aconteceu.

Estrangeirosaratakami
A entrada do Brasil na Guerra significou uma série de restrições aos estrangeiros que viviam por aqui. Falar italiano, japonês e alemão foi proibido. Clubes recreativos e associações foram fechadas. Mesmo na expressão popular mais forte do Brasil, o futebol, houve restrição. Foi quando o Palestra Itália passou a se chamar Palmeiras e o Hespanha Foot Ball Club mudou para Jabaquara Atlético Clube. Getúlio Vargas determinou o confisco de bens dos estrangeiros. Em Santos, a colônia japonesa que tinha negócios ligados à pesca e a venda de hortifruti perdeu seus barcos e terras. Italianos tiveram a sorte de ter seus bens confiscados destinados ao consulado suíço. O barão alemão Kurt Von Pritzelwitz residente em São Vicente teve de abandonar seu casarão, onde hoje abriga o Instituto Histórico Geográfico. As residências de alemães em cidades litôraneas era mal vista. Muitos fugiram para o interior. Lá encaravam presídios e colônias penais agrícola, os campos de concentração brasileiros.

Um dos que fugiram de Santos para o interior foi Hatsuko Kami. Seu irmão, o japonês erradicado no Brasil, Arata Kami, hoje com 93 anos, foi um dos que viveu aquela época. Durante esse período, Kami residia em Bastos, no interior de São Paulo. Arata Kami veio para Santos após o final da guerra, onde exerceu por 25 anos o cargo de presidente da Associação Japonesa de Santos. Uma das lutas que marcaram seu mandato foi a articulação da devolação do imóvel da Associação Japonesa, localizada na Rua Paraná. O imóvel, confiscado pela União desde a época da guerra, só foi reavido em 2006.

Shindo Renmeishindoremmei
Com o anúncio da vitória dos Aliados e derrota dos países do Eixo, alguns grupos nacionalistas de japoneses que se recusavam a acreditar que o Japão havia perdido a guerra formaram sociedades secretas. A mais famosa foi a Shindo Renmei que usava a violência para intimidar nipônicos que não compactuassem de seus ideais. Dados oficiais dão conta que a organização matou 23 pessoas e feriu outras 147, todos orientais.

A Shindo Renmei também operava em Santos. Em 1946, o secretário-tesoureiro e chefe do pelotão de execução da Shindo Reimei, Kasuiti Kashimoto, foi detido na Delegacia de Ordem Política e Social, em Santos. 

Engajamentopilhas de metais1
Quando Getúlio Vargas anunciou apoio aos Aliados, a população de Santos demonstou aceitação à decisão do presidente. Cidadãos de todas as idades recolhiam materiais de metais e amontoavam as doações nas chamadas pirâmides de metais para esforço de guerra.

Em 10 de setembro do 1942, instalou-se na Praça Mauá, a Pirâmide do Monte Serrat, considerada o maior ponto de recepção de doações de Santos. A historiadora e professora da Universidade Católica de Santos, Wilma Therezinha Fernandes de Andrade recorda que até mesmo um familiar dela recolhia esses objetos. “Lembro-se que ele foi na minha casa e a minha mãe deu-lhe objetos de cozinha mais antigos”, conta. “As autoridades incentivavam as crianças e jovens a participarem, então faziam uma espécie de pelotões”.

A participação da população santista ocorreu de diversas formas. Mulheres voluntárias, por exemplo, reuniam-se na Cruz Vermelha Brasileria, na Praça dos Andradas, para confeccionar roupas, fardas e auxiliar em cursos de enfermagem.

De Santos partiram cerca de 200 homens, que foram para o Rio de Janeiro. Sendo que 90 deles integraram os cinco escalões da FEB – Força Expedicionária Brasileira que estiveram em plena guerra.

Pracinhasseumatheus - Cópia
Depois de relações ambíguas envolvendo as nações do Eixo e Aliados, o presidente brasileiro Getúlio Vargas declarou guerra aos alemães e italianos em agosto de 1942 após o afundamento de navegações brasileiras por submarinos alemães. Então, em 1943, foi criada a Força Expedicionária Brasileira (FEB), um destacamento militar formado pelos pracinhas, diminutivo de praça, ou soldado raso, termo carinhosamente cunhado pela população e imprensa. A FEB ostentava o símbolo de uma cobra fumando cachimbo. Uma resposta aos que diziam ser mais fácil uma cobra fumar do que o País entrar na guerra. Depois de treinamentos, o primeiro escalão da FEB, formado pelo 6º Regimento de Infantaria, de Caçapava, partiu para a Itália.

Dentre os mais de cinco mil homens que desembarcaram no porto de Nápoles, na Itália, estava o segundo sargento Matheus Salso, o único pracinha ainda vivo residente em Santos. “Fomos muito bem recebidos pelos italianos. Com beijos e abraços. Havia muitos ascedentes de europeus no escalão. Nosso objetivo era eliminar os alemães da Itália”, lembra.

Nascido na região do Brás, distrito paulistano, e filho de italianos, Matheus Salso, de 92 anos, não queria servir ao exército. Mas não conseguiu escapar. Passou nos exames e teve que se integrar ao pelotão. Lá, foi convocado para a Segunda Guerra Mundial. No fronte de batalha perdeu companheiros, foi ferido por estilhaços, desceu o Morro Cimone com um consorte machucado nas costas, além de participar de diversas operações até o final do conflito. Após as rendições, conseguiu uma licença de 20 dias para conhecer seus avós e primos na província de Conversano, sul da Itália.

Pouco depois de voltar ao Brasil, seguiu para Santos com a família, onde mora há quase 70 anos.“Olhando para trás só tenho a me orgulhar pelo aquilo que consegui cumprir”.

Nazistas em SantosA view showing a Nazi ship in Brazil.  (
Por causa do Porto, Santos era um dos polos de espionagem nazista no Brasil. Historiadores acreditam que a simpatia inicial do Estado Novo pelo regime do Eixo fazia com que houvesse uma ‘vista grossa’ em relação aos nazistas, principalmente no Rio de Janeiro. Em Santos, a rede era operada por um espião alemão chamado Josef Jacob Johannes Starziczny. Seu serviço era o de fornecer informações sobre movimentação de navios no Porto. Com base em suas informações, muitas embarcações aliadas podem ter sido bombardeadas por submarinos alemães no Hemisfério Sul.

Outro espião alemão que tinha ligação com a Cidade era Wilhelm Gieseler, filho de mãe brasileira e pai alemão. Giesler nasceu em Santos em 1894. Corretor de café, ele tinha facilidade em enviar relatórios para os nazistas. Mais tarde, após o término da guerra, uma figura emblemática do regime de Hitler resolveu fugir para o Brasil. Era Joseph Mengele, o Anjo da Morte, o nazista conhecido por chefiar os crueis experimentos com os judeus no campo de concentração de Auschwitz. Mengele morreu afogado por conta de um derrame em quanto nadava em uma praia de Bertioga, em 1979, distrito que pertencia a Santos na ocasião.

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