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16 DE MARÇO DE 2016

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Femicídio tem cor: a carne da mulher negra

Por Alessandra Franco, advogada, vice-presidente do TucanAfro Estadual-SP e presidente do TucanAfro Santos

Por: Da Redação

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Acordo em mais um domingo de folga, vejo as crianças, sigo aquele ritual de banheiro, higiene e saio para comprar pão. Ao virar a viela de casa, os vejo. Não dá tempo de fazer nada, só sinto dois ataques em meu corpo. GRITO DE DOR E CAIO NO CHÃO!

Assim se vai mais uma mulher negra e pobre. O nome dela? Cláudia Silva Ferreira. Era casada, mãe de quatro filhos e trabalhadora. Qual o motivo de uma barbárie dessas?! A justificativa que era negra e moradora da periferia, afinal, isso já é mais do que justificativa para a polícia militar brasileira, que mata mais do que os países que têm a pena de morte instituída. É o chamado RACISMO INSTITUCIONAL, que impera na Segurança Pública.

Uma pesquisa realizada recentemente pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA, intitulada “Violência contra a Mulher”, revela que o femicídio (mortes intencionais e violentas de mulheres em decorrência do sexo) tem cor e endereço: as mulheres negras e pobres são as principais vítimas da violência. No Brasil, 61% dos óbitos foram de mulheres negras, que também são as principais vítimas em todas as regiões, com exceção da Sul. Merece destaque a elevada proporção de óbitos de mulheres negras nas regiões Nordeste (87%), Norte (83%) e Centro-Oeste (68%). A maior parte das vítimas tinha baixa escolaridade e 48% delas com 15 ou mais anos de idade tinham até 8 anos de estudo.

A mulher negra e pobre sofre tripla discriminação: ela é vítima do sistema que se estabelece em nosso País, e acaba ocupando o último lugar da pirâmide social – mesmo quando possui mais anos de estudo e maior qualificação. Mesmo quando busca, por meio da educação, que é o caminho/solução para o crescimento, a emancipação.

Sofre também na saúde, setor em que os dados revelam que as mulheres negras realizam menor número de exames pré-natais e muitas sequer são tocadas/examinadas pelos médicos, o que acarreta um número maior de óbitos na maternidade.

Sofre na relação com parceiros e familiares. Na sociedade essencialmente patriarcal em que vivemos, em que o sexo masculino é que detém o poder disciplinador (que também tem cor, a branca), essas mulheres são vistas com um estereótipo de sexualidade sem virtude.

Sofre, por não ser considerada a “mulher ideal”, pois mulher ideal é a mulher branca, virtuosa.

Desta forma, nos remetemos à necessidade de uma atenção para essa problemática, em caráter emergencial, as “Cláudias” de todos os dias são apenas a ponta de um iceberg, de uma sociedade em que a carne da mulher negra necessita de respeito e garantia de direitos fundamentais de fato. Que o Estado faça seu papel, de promover políticas públicas para a igualdade de gênero e raça.

Já dizia o poeta Mário Quintana: “Democracia é oportunizar a todos o mesmo ponto de partida…”, princípio este que é o da social democracia e deve ser implementado!

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