Nesta sexta-feira (26) Santos completa 478 anos, reunindo uma extensa história, onde ações do passado consequentemente se refletiram no seu futuro. Quando aborda-se Santos, os moradores lembram das praias, Vila Belmiro (estádio do Santos FC), o Porto e diversos locais que ficaram na memória do santista. Mas é importante saber como tudo ocorreu antes para a cidade se tornar o que é hoje. E projetar seu futuro.
História
Segundo o professor de História Reinaldo Martins, os momentos que foram importantes para a definição da história de Santos, foram a partir da segunda metade do século 19, quando o café chega ao Oeste Paulista e começou a ser exportado por Santos. “Este é o momento chave na cidade. Ela já existia nessa altura, mas era um vilarejo, um Porto sem grande peso na economia. A grande importância vai ser exatamente quando se construiu a estrada de ferro São Paulo Railway. E o Porto de Santos passa a ser importante na exportação de café. Assim, a cidade cresce exponencialmente num prazo muito curto e constitui uma sociedade mais complexa, vibrante e mais antenada na política nacional, na economia nacional e mesmo na cultura e política mundial”.
População
Martins menciona que a população da cidade cresceu num prazo de 20 anos, entre 1865 e 1885, por conta do café e do Porto com a exportação do grão, com isso surgiu o desafio de se modernizar o Porto.
Além disso, também existia a questão do saneamento da cidade, porque Santos estava se tornando um lugar inabitável pela questão de epidemias. Isso ocorreu por causa do aumento da população e de sua concentração no centro da Cidade, sem que houvesse sistema de esgoto de água.
“O primeiro grande desafio era de tornar esse local saneado, o que levará a debates e experiências e projetos por quase 30 anos, até que finalmente se aprovou e se colocou em prática o projeto Saturnino de Brito, especificamente pelos canais, embora ele seja apenas uma parte desse importantíssimo projeto de Engenharia Sanitária”.
Quem concorda é o presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Santos, Sérgio Williams. “Todos os grandes historiadores dizem que Brás Cubas fundou o Santos, mas foi Saturnino de Brito que refundou a cidade, dando condições de habitabilidade e desenvolvimento”.
Sobre a questão geográfica, Williams menciona que foi importante a emancipação dos municípios, pois o território de Santos era muito maior, pois englobava Cubatão, Bertioga e Guarujá. Com a separação dos municípios, a configuração geográfica de Santos mudou bastante.
Política
Sobre a política, Martins comenta que o desafio veio com a instalação da ditadura em relação à Cidade, tentando tirar a autonomia e esvaziá-la politicamente, o que se refletiu em termos econômico e cultural, ao mesmo tempo em que se transforma em uma cidade portuária para mais ampla em termos de economia e serviços bancários. Desse modo, a população da cidade também se altera.
“O componente operário se dilui em um perfil mais de classe média, do setor de serviços e com a ocupação da orla da praia, com apartamentos de temporada e a questão do turismo. Isso altera a composição econômica e social. E também o tipo de preferência política dominante na cidade. Além disso, é uma cidade com boas condições de vida, o que vai atrair, depois de 1970, muita gente do interior e aposentados de classe média, mudando completamente a configuração da cidade”.
O que há embaixo de Santos?
A arqueóloga Cristiane Amarante enfatiza que as principais descobertas arqueológicas em Santos foram no início dos anos 2000, quando descobriram a Capela da Graça, do século 16, no Centro de Santos, localizada na esquina da Rua do Comércio com a Rua José Ricardo, mesma quadra da Casa da Frontaria Azulejada. Ela considera uma boa descoberta, porque se sabia que existia a capela no local por conta de desenhos antigos e de relatos escritos, mas não se sabia onde era.
“Um sítio arqueológico importante que foi descoberto por conta da escavação coordenada pela professora Eliete Pythagoras. Ela esteve à frente das escavações e pesquisas no Engenho São Jorge dos Erasmos. Lá (Engenho) havia cemitério. No local, foram encontrados indígenas e uma mulher negra, uma descoberta importante”.
Sobre como a preservação do patrimônio histórico contribui para o turismo e a atratividade de Santos como destino, Amarante conta que seria interessante um projeto que juntasse a arqueologia social e inclusiva no Centro com sítios arqueológicos e turismo, porque potencializaria o que já foi iniciado, visando tornar algo muito melhor para a Cidade.
“Nós temos lugares que valorizam a Arqueologia e a história da cidade. Só por isso a gente vê quantos visitantes vão ali no Centro, como chama atenção, a Bolsa do Café, a Pinacoteca, o Engenho dos Erasmos e o Museu Pelé. Então, imagine isso numa potência maior. Museus mais estruturados, pesquisas mais incentivadas pelo poder público, pelas universidades privadas e públicas da cidade”, acrescenta.
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