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Foto: Pixabay tráfico de pessoas

Direitos Humanos

10 DE MARÇO DE 2019

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Brasil está na rota do tráfico de pessoas. Ao todo, o País detêm 241 rotas

Sendo considerada a terceira indústria ilícita mais praticada no mundo, o tráfico de pessoas ainda é um tabu e também pouco divulgado nas mídias

Por: Da Redação

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Sendo uma das atividades ilegais que mais cresceu durante este século, o tráfico humano já é a terceira atividade ilícita mais praticada no mundo, atrás apenas do tráfico de armas e drogas.

Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), o lucro estimado anualmente é de US$ 32 bilhões de dólares (R$ 120 bilhões).

Para a ONU, o número de vítimas traficadas chega a 2 milhões de pessoas a cada ano.

No entanto, para o Parlamento Europeu (2016), o montante chega aos 117 bilhões de euros (R$ 503 bilhões).

A organização estima que 21 milhões de pessoas sejam vítimas desta situação no mundo.

Neste caso, nota-se que, mesmo havendo relatos de tráfico humano, não há dados concretos sobre o quanto este mercado movimenta e nem o total de vítimas.

Outros dados divulgados, desta vez pela diretora-executiva da Associação Mulheres pela Paz, Vera Vieira, apontam que 56% dos humanos traficados são provenientes da Ásia e Pacífico; 18% da África; 9% da América do Sul e Caribe; 7% da União Europeia e de países desenvolvidos; 7% do restante da Europa e Ásia Central. Por fim, 3% são oriundos do Oriente Médio.

Preocupação mundial

Ainda segundo os dados apresentados pela diretora, 70% das vítimas são mulheres e meninas.

Deste montante, a maioria são vítimas de exploração sexual.

Além disso, grande parte são pessoas pobres e de baixa escolaridade.

Outro levantamento apontado é que o Brasil faz parte dos países com maiores números de vítimas de tráfico.

Holanda, China e Rússia são outros países nesta listagem.

Contudo, a carência de dados, segundo Vera, dificulta o julgamento e a condenação de pessoas envolvidas nesse ato criminoso.

“Com isso, há sérios problemas para sistematizar e comparar dados dentro de um mesmo país e entre países diversos”, ressalta.

De acordo com a apresentação feita por ela em audiência pública na Câmara de Santos no mês passado, o número de investigações é elevado na América do Sul, mais precisamente na Argentina, Brasil, Equador, Peru e Bolívia.

Nesta região, 46% dos envolvidos em tráfico humano foram julgados. Contudo, menos de um terço deste total (28%) foi condenado.

“Em média, para cada 100 pessoas oficialmente suspeitas ou investigadas pela polícia, apenas 13 são condenadas por uma corte de primeira instância”, salienta.

Ainda na apresentação, os aliciadores fazem parte do crime organizado.

Em dezembro do ano passado, o Marrocos sediou um encontro internacional com 160 países presentes, onde várias nações passaram a adotar o Pacto Global para Migração (regras para a migração segura, ordenada e regular).

O objetivo é ajudar na prevenção de pessoas “propensas ao tráfico e exploração”.

No entanto, vale ressaltar que o Brasil e os EUA não fazem mais parte do Pacto, após divergências ideológicas.

Números distintos

Na lista dos países que detêm o maior número de vítimas, o Brasil é considerado a região de origem, destino e circulação de tráfico humano.

Ao todo, o País conta com 241 rotas.

O Norte e o Nordeste encabeçam o maior contingente delas, 76 e 69, respectivamente.

Nas demais regiões, o Centro-Oeste (33), Sudeste (35) e Sul (28), também se tornaram rotas de exploração dos mais variados tipos.

Segundo o relatório da Polícia Federal (2007 a 2016), 147 mulheres e 138 homens foram vítimas de exploração sexual.

Por outro lado, o relatório apontou que 1.284 homens e 99 mulheres foram submetidos a trabalho escravo.

Em contrapartida, os dados apresentados pelo relatório do Ministério da Justiça (2014 a 2016) mostram que 257 casos de trabalho escravo foram denunciados pelo ligue 180.

Foram 123 mulheres e 52 homens, além de 82 pessoas que não foram identificadas.

Para quem souber de algum caso e queira denunciar os telefones para contatos são: 100 e 180.

Ambos os números atendem 24 horas por dia, além de finais de semana e feriados.

 

Arte: Mala

 

Baixada Santista

Mesmo não havendo dados oficiais de que existam tráfico humano na Baixada Santista, alguns casos já aconteceram na região.

De acordo com a pesquisadora da Universidade Federal do ABC, Verônica Maria Teresi, mesmo acessando dados divulgados pelo Ministério da Saúde e do Controle Social, não há comprovação de que os números são reais e que fiquem de acordo com os casos de meninas quando se fala de exploração sexual.

“Não temos um diagnóstico se realmente há ou não casos exploração sexual na Baixada”, explica a pesquisadora.

No entanto, Verônica relembra que Santos é uma região portuária e que a Cidade já teve relatos de exploração sexual feitos por meninas.

Porém, segundo ela, os serviços de ajuda não são capacitados para identificar situações de violência.

Assim, podendo, às vezes, ‘omitir’ informações sobre o assunto.

De acordo com ela, houve um caso de tráfico humano na região, onde a vítima foi levada para a Europa para fins de exploração sexual.

A família desconhece seu caso.

Verônica ressalta que prefere não identificar a pessoa e nem revelar para onde foi levada.

Por fim, a pesquisadora garante que, por mais que não haja dados concretos de tráfico na região, eles existem e devem ser denunciados.

Painel Público

Em entrevista ao programa Entrelinhas, da Rádio Santos FM, a psicóloga Aurélia Rios destacou que o projeto Oficina Tráfico de Meninas é oriundo do Governo Federal, e que está circulando por várias regiões do País, para que haja um enfrentamento contra a violência para a mulher e meninas.

Santos, segundo ela, foi o terceiro município a ser contemplado pelo painel por causa da região portuária.

“Um dos objetivos foi tentar contribuir com o acúmulo de discussão sobre o tema, dentro da sociedade feminista e também da sociedade como um todo”, salienta.

Segundo ela, a falta de casos chamou atenção do público presente na audiência pública ocorrida na Câmara de Santos, no dia 14 de fevereiro último.

“A pergunta que não quer calar: os dados de Santos estão zerados porque existe uma política enredada ou não há qualquer dado porque não existe?”, questiona.

Voltado aos homens

Semelhante ao combate de tráfico de mulheres, o trabalho escravo é uma preocupação para o sacerdote Samuel Fonseca, que trabalha diretamente com marinheiros a bordo dos navios que atracam no Porto de Santos.

Segundo o padre, que também é diretor da Missão Stella Maris de Santos, o objetivo do projeto é conscientizar os marinheiros sobre as circunstâncias de trabalhar durante muito tempo dentro das embarcações.

“É óbvio que nós escutamos sobre o tráfico de pessoas. Mas me parece que não há muita divulgação sobre o tema”.

O trabalho realizado pelo religioso é feito pessoalmente com os marinheiros, para conhecer melhor as condições de trabalho.

Conforme apurado, há distribuições de material preventivo e de adesivos.

Outro ponto ressaltado é a importância de levar a informação ao embarcado para que não se torne um produto de exploração.

“O nosso material é rapidamente divulgado. Principalmente via redes sociais. Assim, fica mais fácil o compartilhamento”, complementa contando que os trabalhos são feitos há 17 anos e acontecem diariamente em embarcações atracadas no Porto de Santos.

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