As cidades de Santos e Araraquara foram as primeiras escolhidas pelo Instituto Butantan para iniciar os estudos da rede de transfusão de plasma com o objetivo de amenizar o risco de agravamento dos quadros dos pacientes com maior probabilidade de riscos, como imunossuprimidos, idosos e com comorbidades.
O objetivo é usar o plasma de pessoas que já tiveram a doença para aplicação em pacientes que apresentam sintomas leves em até 72 horas dos primeiros sintomas.
O objetivo – já adotado em outras localidades e países, como a Argentina – é evitar o agravamento dos quadros dos pacientes com este perfil.
O plasma é a parte líquida do sangue, sem os glóbulos vermelhos, de cor amarelada.
“Já enviamos plasma para Manaus e este tipo de tratamento é regular em países. É um projeto piloto que pode ser ampliado para todas as cidades paulistas e brasileiras”, enfatizou o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas.
O aplicativo Tainá, do Butantan, será empregado para voluntários ajudarem na doação do plasma que estão dentro dos critérios necessários.
Alguns critérios para doação – semelhantes ao que ocorre com o sangue – incluem peso (acima de 50 quilos), ter entre 16 a 69 anos (menores com autorização dos pais) e terem tido a doença, ou seja, já tem anticorpos neutralizadores ao novo coronavírus, entre outros aspectos.
Inicialmente, serão cinco pontos no Estado onde os plasmas serão armazenados (H. Hemo, Pró-Sangue e Colsan, todos na Capital), além dos hemocentros da Unicamp e da USP de Ribeirão Preto.
Santos e Araraquara
Durante a coletiva, os prefeitos de Santos e Araraquara, Rogério Santos (PSDB) e Edinho Araújo (PT), elogiaram as ações do governo paulista e do Instituto Butantan.
Em Santos, uma equipe da Secretaria de Saúde foi treinada pelo órgão estadual.
“Teremos um centro de atendimento e monitoramento de pessoas com sintomas leves nas primeiras 72 horas, com oxímetro à disposição, seja internada ou não, para receber o plasma”, destacou o prefeito santista.
Ou seja, neste caso, serão atendidos pacientes que não necessitam de internação.
Em Santos, o espaço destinado é o Serviço de Atendimento Especializado (Rua da Constituição, 556, Vila Mathias).
O prefeito Santos demonstrou sua preocupação com o crescimento expressivo da ocupação de leitos, que em poucas semanas passou de 44% de leitos de UTIs ocupados para pouco mais de 90%.
Por sua vez, o prefeito de Araraquara, Edinho Araújo, pioneiro no lockdown em fevereiro passado, hoje colhe os frutos.
“É com muita satisfação que a cidade não registrou óbitos nas últimas 24 horas pela Covid. Antes, a contaminação era de 53% das amostras. Hoje, são 7% de positivos”, comemorou.
Protocolo
Conforme protocolo da Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular, não há terapia específica para a Covid-19.
“Uma alternativa poderia ser a transfusão do plasma obtido de indivíduos convalescentes da doença, denominado de plasma convalescente (PC), contendo anticorpos neutralizantes contra o vírus”, informa.
“Estudos, tanto observacionais como controlados, sugerem que o PC, especialmente as unidades que contêm altos títulos de anticorpos neutralizantes, possa ser útil no tratamento desses pacientes, com melhor evolução clínica”.
Em resumo, o uso do PC deve ser aplicado em pacientes com Covid-19 nas seguintes situações:
1 – Pacientes imunossuprimidos (especialmente aqueles tratados com anticorpos monoclonais anti CD20)
2 – Pacientes acima de 60 anos
3 – Pacientes com comorbidades: diabetes, hipertensão arterial, coronariopatia e obesidade.
4 – PC com altos títulos de anticorpos neutralizantes
5 – Até 72 horas do início dos sintomas.
Doações
Apenas homens podem se voluntariar para doar o plasma de convalescente.
Mulheres não são indicadas para serem doadoras, pois, durante a gestação, elas liberam anticorpos na corrente sanguínea.
Eles podem causar uma reação grave chamada TRALI no paciente que recebe a transfusão.
As regras para doar o plasma são as mesmas seguidas para doar o sangue: ter boas condições de saúde, ter entre 16 e 69 anos, pesar no mínimo 50 quilos, evitar alimentação gordurosa antes da doação e apresentar documento original com foto.
É fundamental que o doador já tenha sido contaminado pela covid-19 anteriormente, pelo menos 30 dias antes do ato da doação.