A enorme placa com o título Obra da Prefeitura de Santos no antigo Pronto Socorro da Zona Leste é mais uma das intervenções públicas que se destacam por não respeitar o prazo previsto.
A cena prejudica pacientes, moradores e até comerciantes no entorno.
Aliás, a situação é bem distinta da prevista no objeto.
Com início datado de 20 de junho de 2016 e prazo de 15 meses, a obra – que anda em ritmo de ‘tartaruga’, conforme vizinhos à edificação, tem a garantia de entrega no segundo semestre.
No entanto, apenas em 2019.
Palavra da Prefeitura de Santos, segundo a Secretaria de Comunicação.
Quem passa pelo local, porém, teme que este prazo seja bem ainda mais dilatado. E os sinais são claros para acreditar nisso.
O ritmo das obras foi intenso até o final do ano passado, mas foi diminuindo a ponto de praticamente não existir qualquer alteração na paisagem nos últimos meses, segundo entrevistados ouvidos pelo Boqnews.com.
O térreo e o primeiro pavimento da edificação foram iniciados.
Blocos estão instalados nos dois pavimentos, mas será necessário agilizar as atividades para cumprimento do prazo.
No portão de entrada, não se vê praticamente movimentação no local.
A Reportagem esteve por volta das 12h30 no local e retornou duas horas depois.
No entanto, nenhuma movimentação aparente, com exceção de um funcionário que circulou entre os vãos da edificação.
Um trabalhador que atua na obra reconhece que o empreendimento está em ‘ritmo bem lento’.
Não bastasse, houve um momento a qual o serviço foi interrompido durante 2 a 3 meses.
Atualmente, segundo ele, teriam 12 homens na edificação.
No entanto, não se vê qualquer movimentação no local.
Apesar dos tapumes, é possível verificar blocos, madeiras, ferros e outros objetos espalhados.
Mas não há veículos, nem equipamentos para dar continuidade às obras da futura UPA.
Comerciantes
Quem tinha no antigo PS da Zona Leste a fonte de subsistência tem sentido na pele os efeitos negativos da demora na entrega da obra.
Proprietária há oito anos de um carrinho de pastel, Iraci Gomes, lamenta o descaso do Poder Público.
“A gente abre para não dizerem que está fechada”, reclama.
Os tempos áureos das vendas dos pastéis de queijo, carne, palmito e outras guloseimas fazem parte do passado.
“Existem dias que vendo apenas um ou dois pastéis. Pago para trabalhar”, critica.
Ela ressalta que, como ambulante, é obrigada a pagar as taxas municipais, como a de licenciamento, mesmo após os prejuízos se acumularem.
Letícia Florêncio, da banca Novos Horizontes, que precisou ser remanejada em razão da intervenção, faz coro.
“Houve uma queda de 70% no movimento”, dispara.
Não bastasse, em razão da diminuição da calçada (com diversos mosaicos soltos), o abrigo e os assentos do ponto de ônibus foram retirados.
E assim, as pessoas ficam sob sol ou chuva esperando o ônibus passar.
Deste forma, o amplo toldo localizado em frente à banca dá guarida para os usuários minimizarem os efeitos das intempéries do tempo.
Não bastasse, um banco foi colocado pelo estabelecimento à disposição das pessoas, especialmente idosas, enquanto aguardam o transporte.

… ao imóvel de saúde, cujo prazo de entrega, inicialmente em março passado, já foi alterado para o segundo semestre de 2019. Fotos: Nando Santos
Dinheiro
A obra tem verba federal de R$ 4 milhões.
No entanto, o valor final licitado é de R$ 5.595.863,73.
A diferença deverá ser paga pelo Município.
A empresa Leman Construções e Comércio é a responsável pela execução dos serviços.
Segundo o Portal Cidadão, do Ministério da Saúde, já ocorreram dois repasses de verbas para a edificação.
Ela estaria 35% executada.
E data provável de deveria ter sido em 19 de março passado.
Não bastasse, o primeiro repasse ocorrera em 6 de março de 2015 no valor de R$ 400 mil e o segundo, em 5 de maio de 2017. Valor total somado: R$ 3,2 milhões.
Assim, faltariam apenas R$ 400 mil – ou seja 10% do total – para o Governo Federal repassar ao Município e atingir os R$ 4 milhões previstos.

Imóvel demorou mais de 1 ano e meio para ser ocupado, cujo valor do aluguel mensal é de R$ 25 mil, além dos quase R$ 300 mil gastos em reformas e adaptações. Foto: Nando Santos/Arquivo
Locação por R$ 25 mil mensais
Assim, quem deve adorar a demora nas obras é o proprietário do imóvel onde está a sede provisória da UPA da Zona Leste (Avenida Afonso Pena, 386, na Aparecida).
Afinal, a Secretaria de Saúde de Santos paga R$ 25 mil mensais pela locação.
O contrato com o dono – que também loca outros imóveis à Municipalidade – está em vigor desde fevereiro de 2015.
A ocupação, porém, só ocorreu 17 meses depois – ou seja, em 1º de setembro de 2016.
Em fevereiro de 2017, houve nova renovação pelo mesmo valor: 24 meses x R$ 25 mil.
Assim, até o final do atual contrato – que vence em fevereiro de 2019 – a Prefeitura gastará R$ 1 milhão 200 mil.
Não bastasse, outros R$ 300 mil, inicialmente, foram gastos apenas para a adaptação do imóvel.
Na soma, este montante já equivale a quase 30% do valor total previsto para ser gasto na construção da nova UPA da Zona Leste.
Isso se não ocorrerem aditivos contratuais.
O contrato, reconhece a Prefeitura, será estendido até a conclusão da nova unidade da UPA da Zona Leste, à Praça Visconde de Ouro Preto, s/nº.