Entrevista com Lola Aronovich sobre violência contra mulher na internet | Boqnews

Sociedade

19 DE NOVEMBRO DE 2015

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Entrevista com Lola Aronovich sobre violência contra mulher na internet

A professora concedeu entrevista por e-mail

Por: Da Redação

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lolaPor e-mail, a professora do Departamento de Letras Estrangeiras da Universidade Federal do Ceará e autora do blog Escreva Lola Escreva, Lola Aronovich concedeu entrevista para falar sobre a violência contra as mulheres na sociedade atual. Fala principalmente sobre o ataque que sofreu recentemente, em que um site foi criado utilizando seu nome para disseminar o ódio contra ela.

No blog Escreva Lola Escreva você faz textos feministas, como surgiu?
Comecei meu blog em janeiro de 2008, enquanto fazia meu doutorado-sanduíche nos EUA. É um blog pessoal, mas, como eu sempre fui feminista, um dos temas principais do blog é o feminismo. Afinal, o que escrevo reflete minha forma de agir e pensar.

Da mesma forma que muitas se identificam com os textos, outros nem tanto. Como lidar com estes ataques, por vezes, agressivos? 
Ainda fico incrédula ao receber tantos ataques por meramente ter um blog feminista. Uma coisa é discordar, outra é me ameaçar de morte e estupro, divulgar meu endereço residencial, espalhar fotos da frente da minha casa, e estender as ameaças a minha família. Os ataques são sempre muito agressivos. Feministas são alvos frequentes de grupos misóginos e reacionários, o que indica como nossa sociedade continua sendo machista e precisando do feminismo. É difícil lidar com esses ataques diários. Já fiz sete boletins de ocorrência, mas não adiantaram muito. Eu tento tornar algumas das ameaças públicas, para que as pessoas saibam o que temos que enfrentar. A visibilidade é a minha defesa.

Como avalia tudo que aconteceu com você em relação ao falso site? Você acredita que a impunidade faz com as pessoas não tenham medo de fazer este tipo de violência?
Os misóginos que criaram o site falso em meu nome têm certeza da impunidade. Eles acham que, por serem anônimos, ninguém descobrirá quem são eles. Mas eu sei quem é o principal autor do site falso e de tantas ameaças. É um homem perturbado de 30 anos que mora em Curitiba e foi preso em 2012, justamente por manter um site de ódio em que pregava a legalização do estupro e o estupro corretivo para lésbicas, ameaçava principalmente a mim e ao deputado federal Jean Wyllys, e planejava um atentado terrorista a uma universidade federal. Ele permaneceu um ano preso e foi condenado a 6,5 anos de prisão. Mas, infelizmente, assim que saiu da cadeia, em 2013, voltou a fazer tudo de novo, inclusive ameaçando delegados. Apesar das ameaças que ele me faz todos os dias, não acredito que ele fará algo físico. Ele quer convencer algum outro misógino a fazer isso por ele.

A internet e as midias sociais são ferramentas importantes de diálogo, diminuindo distâncias e aumentando a discussão. Você acredita que a luta do feminismo ganhou destaque com blogs e sites que discutem o tema abertamente como o seu? Do outro lado, muitos perdem o limite nas discussões e fazem coisas como o que aconteceu com você. Como analisa este cenário? Como inibir este ódio postado nas redes sociais?
A internet é extremamente importante. É uma ferramenta com potencial para mudar o mundo para melhor, e dá voz a vários grupos que não têm espaço na grande mídia (mulheres em geral, negras, lésbicas, pessoas trans etc). Só que é também um espaço em que pessoas extremamente retrógradas combatem qualquer mudança. É um playground para que essas pessoas possam tentar oprimir e silenciar. E muitas delas aproveitam o anonimato para serem cada vez mais violentas. Além disso, o machismo que existe “no mundo real” é repetido na internet. Se não vivessemos num mundo tão machista, mulheres, e principalmente feministas, não seriam tão atacadas na internet. Muitos desses ataques não são individuais, mas orquestrados. São homens que se unem para atacar em grupo. Creio que monitorar e punir alguns desses grupos, além de simplesmente fechar sites e páginas de ódio, pode ajudar a mudar este cenário de “terra de ninguém” em que vivemos.

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