A região da Baixada Santista, viverá momentos de transformação no tocante às obras de infraestrutura. Isso porque diversos projetos estão sendo planejados para a região, como o Túnel Santos-Guarujá, o shopping Litoral Plaza Santos, o Santos Tecon 10 (STS-10), o novo Terminal de Passageiros, o Aeroporto de Guarujá, além da futura exploração do poço de petróleo na Bacia de Santos entre outros empreendimentos.
Com isso, as obras vão gerar milhares de empregos para a região, porém da mesma forma existe um desafio importante: a disponibilidade de mão-de-obra qualificada. Caso contrário, a importação de profissionais será inevitável.
Para ter noção que isso já é uma realidade, o leilão para definir a concessionária que irá construir, operar e realizar a manutenção do futuro túnel Santos-Guarujá ocorrerá em 5 de setembro. A confirmação é do Governo do Estado de SP e do Ministério de Portos e Aeroportos.
Portanto, com a construção de diversos projetos ao mesmo tempo, surge a dúvida se as cidades da Baixada Santista terão profissionais especializados suficientes para atender às demandas ou se será necessário trazer profissionais de outros municípios.
Mão de obra
De acordo com o diretor regional do SindusCon/SP, Carlos Meschini, o preparo para essas obras reúne informação, estudo e muita pesquisa. “Os empresários da construção civil estão se mobilizando e participando bastante de pesquisa mais do que antigamente. Então, o grande desafio das grandes construções é estudar o mercado. Assim como, tudo que está havendo e que estar por vir para tentar errar o mínimo possível”.
Assim como o presidente da Assecob, Mateus Teixeira acredita que a região não terá mão de obra suficiente para atender tantas demandas. “A questão da mão-de-obra infelizmente atinge todos os setores produtivos brasileiros e, com o setor da construção, não é diferente”.
As grandes obras são principalmente de infraestrutura que utilizam mão de obra um pouco diferentes das construções particulares de imóveis residenciais e comerciais. São obras mais brutas com ênfase em grandes estruturas de concreto e pavimentação. “Haverá um impacto, porém a mão de obra que hoje existe na nossa região não está capacitada para esse tipo de construção”, acrescenta.
Ele ressalta ainda que a formação de alguns profissionais acaba sendo, por vezes, na própria obra. O profissional entra com uma função auxiliar, aprende a fazer com os mais experientes e com o tempo estará devidamente qualificado para subir de cargo.
“Entretanto, uma formação acadêmica e prática seria o melhor dos cenários. Temos discutido a questão com as prefeituras e escolas profissionalizantes visando preparar essa mão de obra.”
Economia
Segundo o diretor-executivo da Associação Comercial de Santos, mantenedor do Colégio Átrio e economista, Adalto Correa Jr, ele acredita que nenhuma cidade tem profissionais adequados para tocar essas obras.
“Quando estamos falando dessas obras de infraestrutura, quando se fala de um de túnel, trata-se de uma mão de obra muito específica. Então, virão profissionais de fora e do Brasil, que virão para cá. Qualquer empresa que se habilite para uma obra dessa, ela tem expertise técnica para isso, pois usa mão-de-obra qualificada que ela traz para esta finalidade. Ela não está sendo formada”.
Portanto, ele espera que a sociedade perceba que esses projetos vão acontecer. E que as pessoas não vão poder esperar eles começarem para, a partir deste momento, começarem a se qualificar.
“Nós precisamos dar um passo antes, poucas cidades do nosso tamanho no Brasil, não capitais, vão passar por um conjunto de obras tão estruturantes num período de tempo tão curto. Então que a gente acorde para esse fato”.
Já o economista e professor da Unifesp – campus Osasco, Paulo Sá Porto, reforça que tais obras exigirão uma quantidade significativa de mão de obra qualificada, especialmente nas áreas de construção civil, engenharia e logística.
Porém, a região enfrenta desafios relacionados à escassez de profissionais qualificados na construção civil. “Essa carência pode limitar o avanço das obras e elevar os custos do setor. Uma parte da mão de obra especializada necessária poderá ser trazida de outras regiões como a Região Metropolitana de São Paulo e a de Campinas.”
Mão de obra externa
Professor e coordenador do curso de Administração da Unisantos, o administrador Elias Haddad comenta também que com as obras de infraestrutura há o costume de atrair mão-de-obra externa. Porém, quando essas obras se encerram, o resultado delas não é necessariamente aonde serão criados os novos empregos que as futuras obras vão ajudar a gerar.
Segundo ele, outros segmentos serão beneficiados, como comércio, turismo de negócios, turismo de lazer e a mão-de-obra.
“A mão de obra de construção civil de fora será atraída. Com certeza, ela não vai ser aproveitada depois, porque o desenvolvimento dos outros setores não é o desenvolvimento da construção civil. Então, penso que se vier muita mão de obra de fora, ela vai ficar excedente”.
Pré-Sal
Adalto Correa Jr, da ACS, também comenta sobre o impacto da descoberta do poço de petróleo no pré-sal da Bacia de Santos a uma distância de menos de 250 quilômetros do Município, conforme anúncio da Petrobras.
“De fato há 20 anos, houve a onda do pré-sal, ela foi tão real que hoje ultrapassa 80% do petróleo, do óleo nacional vem do pré-sal. Vamos lembrar que o pré-sal na bacia de Santos não significa que ele está aqui em frente. É algo que vem do Espírito Santo e vai até o sul do Brasil, mas recebeu esse nome e é tão real que a própria Petrobras iniciou um processo de construção de torres aqui”.
Portanto, ele reforça que hoje o Brasil tem uma posição muito interessante no mercado de petróleo.
Além disso, o centro de operações do pré-sal do Brasil acontece em uma torre localizada no Valongo, em Santos, porém é pouco intensiva em mão de obra e muito intensivo em tecnologia, segundo o economista.
Metas
“O que nós pretendíamos na época é que as operações, fornecimento, fornecimento de comida, peças, componentes para as plataformas fossem migrados para Santos pelo menos em parte, mas isso é um lobby muito forte do Rio de Janeiro. A gente não conseguiu isso. Mas o controle do pré-sal do Brasil inteiro acontece em Santos, mas não foi aquele boom que nós esperávamos, porém vamos deixar claro que a sociedade tinha essa expectativa e era uma expectativa real”.
“Então quando tudo se concretiza, você vê um forte lobby do Rio de Janeiro que manteve as posições todas lá. É importante entender que há profissionais do ramo do petróleo aqui e empresas locais que estão lutando ainda para que essa nova onda beneficie mais Santos. E para que o Município tenha uma posição privilegiada para que algumas plataformas de fornecimento aconteçam aqui”.
Prefeitura de Santos
A Prefeitura de Santos informa, por meio da Secretaria Municipal de Assuntos Portuários e Emprego, tem atuado de forma estratégica para antecipar os impactos dos grandes empreendimentos previstos para a região.
A preparação envolve o mapeamento das demandas por mão de obra, articulação com instituições de ensino técnico e superior e parcerias com sindicatos e entidades do setor produtivo.
A administração tem fortalecido convênios com instituições como o CENEP e o SOPESP, com foco na formação específica para áreas que terão maior demanda. O objetivo é garantir que a população local esteja preparada e qualificada para ocupar essas vagas, contribuindo para a geração de emprego e o desenvolvimento regional.
Capacitação
Santos conta com iniciativas concretas para capacitar a população local, como a Fundação CENEP (Centro de Excelência Portuária de Santos), para cursos voltados à atividade portuária e áreas correlatas; o acordo de cooperação técnica com o Sindicato dos Operadores Portuários do Estado de São Paulo (Sopesp), que prevê desenvolvimento de cursos e mediação de vagas; parceria com o Sindicato das Empresas de Transporte Comercial de Carga do Litoral Paulista (Sindisan), para o fomento às oportunidades de qualificação no setor de transporte de cargas.
Além das ações do Centro Público de Emprego e Trabalho (CPET), que fica no Resolve Aqui (Rua Amador Bueno, 249, ao lado do Poupatempo), responsável por captar vagas e oferecer intermediação de mão de obra.
Para o Município, o desenvolvimento só é completo quando gera impacto positivo direto na vida das pessoas. E o acesso ao emprego é um dos principais caminhos para isso.
Para isso, os desafios são a capacitação de mão de obra em tempo hábil, para atender a múltiplos empreendimentos simultâneos; a infraestrutura urbana, com necessidade de reforço em mobilidade, transporte público, saneamento e serviços para acompanhar o aumento de fluxo e atividades; a gestão de impactos ambientais e sociais, garantindo que as obras respeitem as diretrizes sustentáveis e tragam benefícios à comunidade, sem comprometer a qualidade de vida.
E, por fim, outro ponto crítico é a integração entre os municípios da Baixada, que exige articulação permanente entre as prefeituras, governo do Estado e órgãos federais, para evitar sobreposição de ações e promover o equilíbrio regional.
Prefeitura de Guarujá
A Prefeitura de Guarujá informa que o objetivo da Administração Municipal é fazer com que o progresso se transforme em oportunidades reais aos munícipes. A Cidade vive um momento de realizações e desenvolvimento, com projetos estratégicos muito bem encaminhados, como o Aeroporto Civil Metropolitano e o Túnel Santos-Guarujá, por exemplo.
O Município atua junto a todas as esferas do poder público, bem como às empresas responsáveis por obras relacionadas a esses projetos, no sentido de articular para garantir o aproveitamento ao máximo da mão de obra local, garantindo emprego, oportunidade e desenvolvimento para a Cidade. Para tanto, é necessário, muitas vezes, qualificar mão de obra, o que também é fomentado pelo Município.
Em fevereiro último, o prefeito Farid Madi conseguiu o compromisso do presidente da República Luís Inácio Lula da Silva para a instalação de uma unidade do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo (IFSP).
Dessa forma, com provável instalação no prédio da Escola Municipal 1º de Maio, no Jardim Boa Esperança.
O cenário atual da Baixada Santista conta com a realização de várias obras importantes sendo viabilizadas simultaneamente.
Tratam-se de desafios em comum que precisam ter discussão e gerenciamento com cooperação e planejamento regionais, minimizando ao máximo gargalos logísticos e trâmites burocráticos.
Unisantos
Sobre como a universidade está se preparando para colaborar com esses grandes projetos em termos de qualificação profissional, a Unisantos informa que oferece cursos de graduação na modalidade presencial e a distância.
Como exemplo de cursos que podem contribuir para os projetos futuros, estão: Arquitetura e Urbanismo, Engenharia Civil, Engenharia Ambiental, Engenharia de Produção, Ciência da Computação, Matemática, Sistemas de Informação, Logística, Processos Gerenciais e Química Tecnológica.
Unoeste
A Universidade Unoeste comunica que está comprometida com o desenvolvimento educacional e social da Baixada Santista. Presente em Guarujá desde 2019, com foco inicial na área da saúde, a universidade já ampliou sua atuação com cursos EAD.
Portanto, utilizando o campus da Enseada como polo de apoio presencial. Alinhada ao seu Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI), a Unoeste prevê a abertura de novos cursos presenciais a partir de 2027, incluindo graduações estratégicas como Engenharia Civil. A proposta é oferecer formações que dialoguem com as necessidades locais, especialmente em áreas que contribuam com a infraestrutura e o crescimento sustentável da região.
A universidade acredita na educação como pilar de transformação e, por isso, busca atuar de forma colaborativa com a comunidade e o poder público, contribuindo ativamente para o desenvolvimento regional.
Unisanta
Segundo o diretor da Faculdade de Engenharia da Universidade Santa Cecília (Unisanta), Aureo Emanuel Pasqualeto Figueiredo, alguns destes projetos não são tão novos, pelo contrário, por exemplo, o projeto do túnel tem quase 100 anos e o aeroporto do Guarujá já funcionou com linhas aéreas limitadas.
“Como essas obras caminham para uma implantação possivelmente em breve, a universidade tem participado dessas discussões, de audiências públicas, de comissão especifica para o túnel.
Então, a universidade participa ativamente nas discussões e implantações desse projeto sobre todos aspectos, técnico, ambiental, de sustentabilidade.
Essa é uma missão que já executamos, acompanhamos há bastante tempo e dos demais projetos também recebem atenção e discussão nos nossos cursos.”
Ele acrescenta que a qualificação de mão de obra para implantação e operação desses projetos ocorre de forma permanente, desde que a primeira faculdade de engenharia surgiu no início da década de 70 para atender a demanda de mão de obra do parque industrial de Cubatão e de São Paulo.
“A partir disso, todos grandes projetos que são discutidos e acompanhados na região trazem a necessidade de atualizar os cursos. E preparar mão de obra para essas atividades como por exemplo o pré-sal, onde nós temos parcerias com empresas que operam como a propria Petrobras, e com isso, oferecer em nossos cursos, e em novos se for necessário a formação adequada para colaborar nesses projetos”.
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