“Nunca tive condições de comprar um presente de Natal para a minha filha, nem para a minha neta. Mas olha, o Papai Noel chegou!”, disse Cleide, avó da Giovanna, de 5 anos. A emoção ao ver o carteiro com uma caixa em mãos na porta de sua humilde residência não foi contida — e nem precisava sê-la. Esse será o único presente que Giovanna ganhará de Natal: uma boneca exatamente igual ao que ela tinha descrito na cartinha enviada ao Papai Noel dos Correios.
Esqueça os típicos trajes dos Papais Noeis que estamos habituados a ver. Nada de gorros e roupas vermelhas, tampouco trenós e chaminés. Os bons velhinhos do mundo real nem sempre são tão velhinhos assim. Eles combinam calça azul com blusa amarela e são transportados para a casa das crianças por meio de um carro grande e amarelo escrito Sedex. Se existissem frases mágicas, uma delas seria: “é o carteiro!”.
Aliás, o Papai Noel da vez foi o carteiro José Dias de Souza que trabalha entregando os presentes de Natal às crianças de áreas carentes há 27 anos, desde o início do projeto dos Correios. Para ele, entregar essas caixas é como presentear um filho. “Não nasci em berço de ouro e o meu sonho era ganhar um presente de Natal. Quando entrego o presente, vejo nelas a minha felicidade”, conta.
A família da Giovanna não é a única à espera do grito do carteiro em sua porta. De 2 mil e 500 cartinhas deixadas nos Correios de Santos, cerca de 1 mil e 800 crianças terão os desejos de Natal concretizados, graças àqueles que se propuseram a escolher a história que mais o sensibilizasse.
No ano passado, Wendel, de 10 anos, escreveu um recado ao Papai Noel, porém seu pedido não foi atendido. Neste ano, ele resolveu não desistir do sonho e novamente redigiu sua cartinha. Nela um único pedido: uma bola de futebol. “Quero ser jogador do Corinthians”, disse enquanto segurava o presente ainda embrulhado. Sua irmã, a pequena Yasmin, de 4 anos, estranhava aquele Papai Noel magro, alto e sem barba, mas não hesitou em segurar e observar curiosamente o grande embrulho rosa. “Obrigada por terem vindo”, falou a mãe. com um sorriso de orelha a orelha enquanto se despedia.
Algumas das histórias vão além de questões financeiras. Existem famílias que por algum acontecimento durante o ano optam por não comemorar as festividades típicas do final do ciclo, como Sueli, que morava no interior de São Paulo antes do marido morrer em um acidente de carro. Há seis meses, ela e os filhos — Samuel, 8 anos, e Miguel, 2 anos — se mudaram para Santos para esquecer a tragédia.
No entanto, uma amiga comentou sobre a campanha dos Correios e Samuel se propôs a escrever a carta dele e a do irmão. “Eu tinha desenhado um ursinho de pelúcia grande, igual a este para você”, disse enquanto entregava o brinquedo ao pequeno Miguel.
A união entre eles emocionou a mãe que logo ficou com os olhos marejados. Afinal, por mais que não exista uma grande comemoração de Natal, ela sabe que o real significado da data está bem à sua frente.