Violência contra mulheres aumentou 45% em razão do isolamento social | Boqnews
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Pandemia

19 DE MAIO DE 2020

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Violência contra mulheres aumentou 45% em razão do isolamento social

Em São Paulo, o aumento dos feminicídios chegou a 46% na comparação de março de 2020 com março de 2019 e duplicou na primeira quinzena de abril

Por: Da Redação

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A obrigatoriedade de permanecer em casa para evitar a propagação do novo coronavírus vêm afetando diretamente as mulheres. O motivo? O aumento exponencial dos casos de violência doméstica desde o anúncio da quarentena.

Os atendimentos da Polícia Militar durante a pandemia do coronavírus, apontou que a violência contra as mulheres aumentou em 45% no estado de São Paulo.

Divulgado no último dia 20 de abril, o relatório do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) apontou que o total de socorros prestados aumentou de 6.775 para 9.817, quando comparados os meses de março de 2019 e 2020.

Em São Paulo, o aumento dos feminicídios chegou a 46% na comparação de março de 2020 com março de 2019 e duplicou na primeira quinzena de abril.

Se comparados os primeiros trimestres de 2019 e 2020, houve um aumento de 10,2% no número de homicídios de mulheres. No ano passado, foram registrados 98 óbitos, contra 108 neste ano. Ainda segundo o relatório, os casos de feminicídios neste mesmo período trimestral, mostrou que houve um aumento de 25,6% no número de casos. Em 2019, 39 mulheres morreram vítimas de feminicídio, contra 49 em 2020.

O mesmo ocorreu com os itens calúnia, difamação e injúria que cresceram 3,2% no período.

“Em São Paulo, nos primeiros treze dias do mês de abril foram registrados 6 feminicídios, sendo que o mesmo período do ano passado teve apenas 3 casos”, apontou o relatório.

Em Santos, não houve aumento no número de vítimas durante o período de isolamento social, segundo a Prefeitura de Santos, por meio de nota.

A reportagem tentou entrar em contato com a Delegacia da Mulher para obter os números de vítimas de violência neste ano, mas não obteve retorno.

A Delegacia continua com atendimento 24h, as denúncias também podem ser feitas pelo 180 ou pela internet.

 

Pandemia das sombras

No último dia 7 de abril, a diretora executiva da ONU Mulheres e vice-secretária geral das Nações, Phumzile Mlambo-Ngcuka, relatou que, em alguns países, foram registrados um aumento nos casos.

Na França, por exemplo, foi reportador um aumento de 30% na violência doméstica desde a imposição do lockdown, em 17 de março.

A Argentina, assim como os franceses, relatou um crescimento de 25% nos casos desde 20 de março, quando foi imposto o lockdown pelo presidente Alberto Fernández. Em Singapura e no Chipre, por sua vez, notou-se um aumento de 30% nas linhas emergências das vítimas.

Phumzile ressalta que, mesmo antes da existência do covid-19, a violência doméstica era uma das maiores afrontas aos direitos humanos.

“Nos 12 meses anteriores, 243 milhões de mulheres e meninas (de 15 a 49 anos) em todo o mundo foram submetidas à violência sexual ou física por um parceiro íntimo”, afirmou em nota. Vale ressaltar que a subnotificação também é um grande desafio neste momento, tendo em vista a dificuldade para sair de casa e ir à delegacia.

Segundo a ONU Mulheres, menos de 40% das vítimas de violência buscavam qualquer tipo de ajuda ou denunciavam o crime. Menos de 10% das mulheres que procuravam ajuda.

“Em muitos países, a lei não está do lado das mulheres; 1 em cada 4 países não possui leis que protejam especificamente as mulheres da violência doméstica”, ressalta Phumzile.

Ela complementa ainda, que o custo global da violência contra as mulheres já havia sido estimado em aproximadamente US$ 1,5 trilhão. Podendo, portanto, aumentar à medida que a violência aumenta agora e continua após a pandemia.

 

 

Em São Paulo, o aumento dos feminicídios chegou a 46% na comparação de março de 2020 com março de 2019. Foto: Divulgação

Redes sociais são essenciais

No relatório do FBSP destaca que as redes sociais tornaram-se canais de queixas mais utilizados pelos vizinhos das vítimas. Ao todo, os relatos foram denunciados em 52 mil postagens no Twitter, entre fevereiro e abril deste ano. Uma variação, portanto, de 431%. Mais da metade (53% dos relatos) foram publicados apenas no mês de abril.

Se for filtrado apenas as mensagens que indicassem a ocorrência de violência doméstica, resultaram 5.583 menções.

A maior parte dos relatos foi publicada às sextas-feiras, entre 20h e 3h da manhã, sendo que, aproximadamente 25% do total de relatos de brigas de casal foram feitos às sextas-feiras, apontou o relatório. Na quinta-feira, no entanto, os relatos diminuem para 9%.

“Outro dado relevante para a compreensão do fenômeno é o de que as mulheres foram as usuárias que mais reportaram brigas de casal no Twitter de fevereiro a abril deste ano, demonstrando maior sensibilidade
para o problema. Elas foram as responsáveis por 67% dos relatos identificados”.

 

Ajuda e denúncias

Por mais que o medo seja presente neste tipo de relação, é importante denunciar os casos.

Para isso, o Ligue 180 está disponível 24 horas por dia, todos os dias, inclusive finais de semanas e feriados, e pode ser acionado de qualquer lugar do Brasil.

Confira a cartilha da Defensoria de São Paulo para este tipo de violência, seja ela psicológica ou sexual (clique no link). O canal de comunicação também pode ser feito pelos telefones 0800-7734340 ou pelo WhatsApp (11) 94220-9995.

O Ministério Público de São Paulo criou um site para orientar jovens em relacionamento abusivo. A Minha Amiga Inteligência Artificial conversa com as mulheres de forma leve e ajuda a identificar quando o relacionamento não está saudável, e orientando canais de ajuda caso haja algum tipo de abuso por parte do parceiro.

Em dois meses de plataforma, mais de mil jovens já procuraram o site.

O Ministério da Mulher, Família e dos Direitos Humanos elaborou informes, cartazes e panfletos contendo orientações de segurança para mulheres e informações, para estimular vizinhos das vítimas a prestar queixa das agressões. O material está disponível na página do ministério.

 

Ao combate

A ONG Hella, por sua vez, auxilia mulheres em todo o Brasil na luta contra o abuso sofrido pelos parceiros, mas com foco principalmente na Baixada Santista.

A jornalista, cofundadora e gestora de comunicação da ONG, Flávia Souza, contou ao programa Notícias do Dia, que disponibilizam, por meio das redes sociais, informações sobre como denunciar e como agir num momento como esse.

“Contamos com uma rede de apoio muito grande aqui na região. Temos psicólogas, advogadas e outros profissionais”, ressalta.

Flávia contou ainda que a violência doméstica vêm acontecendo em todas as camadas sociais. Porém, ela ressalta que nas classes mais altas, a mulher se sente mais intimidadas a denunciar o parceiro, por sentir, muitas vezes, vergonha de se expor perante a sociedade com o ocorrido.

Nas classes mais baixas, porém, há mais vítimas de violência, devido a falta de informação e de estrutura emocional e até mesmo material. As mulheres negras, segunda a jornalista, também são as mais afetadas pelo ocorrido.

“É o recorte onde mais acontece a violência doméstica”, apontou.

Para quem precisar de ajuda ou informações, ligue para o telefone (13) 99752-2414 ou acesse o site onghella.org.br.

Para saber mais sobre o projeto da ONG e as medidas que estão sendo realizadas para combater o aumento da violência contra a mulher, assista o programa desta segunda-feira (18), onde a gestora de comunicação detalha tudo sobre a ONG Hella.

 

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