Impacto econômico na região pode durar anos, afirma economista | Boqnews
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Coronavírus

30 DE MARÇO DE 2020

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Impacto econômico na região pode durar anos, afirma economista

Atividades interrompidas preocupam trabalhadores e empresários na região, em razão do tempo incerto em que permanecerá o período de quarentena

Por: Da Redação

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A quarentena imposta pelo governador do Estado de São Paulo, João Doria, já vigora em todo o Estado.

As medidas visam evitar a expansão descontrolada da transmissão do novo coronavírus, pois São Paulo – especialmente a Capital e Grande São Paulo – registram a maior parte dos casos do País.

Até esta segunda-feira (30), o Brasil confirmou 136 mortes e 4.256 infectados por coronavírus.

Conforme o decreto, a medida impõe o fechamento do comércio, exceto serviços essenciais de alimentação, abastecimento, saúde, bancos, limpeza e segurança.

Assim, centros comerciais em Santos se encontram fechados, funcionando apenas serviços essenciais, como mercados e farmácias, além de restaurantes, em sistema delivery.

Caminhoneiros também sentem o reflexo, em razão da dificuldade de encontrar estabelecimentos abertos pelas estradas e ameaçam parar na próxima semana, o que pode trazer transtornos no abastecimento de produtos.

Com boa parte do comércio e setor de serviços não funcionando, o maior impacto será na economia local e regional.

Afinal, a taxa de crescimento do PIB – Produto Interno Bruto foi revista novamente pelo Banco Central, que aponta o índice de 0% – ou seja, sem crescimento.

 

Incógnitas

Para a professora de Economia da Universidade Católica de Santos, Celia Ribeiro, as expectativas econômicas ainda são incógnitas para todos, pois não se sabe ao certo o período a qual a crise irá perdurar.

Mas garante que Santos sofrerá e muito com a pandemia.

“Para uma cidade que tem cerca de 80% de sua economia baseada nos setores de comércio e serviços, certamente isso terá um impacto “.

Para a profissional, o chamado ‘ciclo vicioso’, que é conhecido como queda do consumo, provocando a redução dos empregos, depois a queda da renda e assim sucessivamente, não pode se enquadrar em Santos.

Ela, no entanto, ressalta que a economia irá se recuperar após o impacto da Covid-19, porém os danos ocorridos neste período serão superados somente após um certo período de tempo.

“Como Santos depende muito do setores de comércio e serviços, quem estiver preparado para as vendas online ficará em vantagem em relação aos demais. Os pequenos negócios são a grande preocupação”, enfatiza.

Hoje, há movimentos de grandes empresas para que compras de alimentos sejam feitas em estabelecimentos menores.

O Outback, por exemplo, iniciou uma campanha de doação do ovos de Páscoa para empreendimentos no entorno do restaurante.

A ideia é que o pequeno empreendedor tenha como gerar renda para o seu negócio.

Procurada pela reportagem, a Prefeitura de Santos não respondeu qual a expectativa e o impacto nas finanças e quais ações o Poder Público pretende implantar para os setores do comércio e serviços, como eventuais isenções de taxas, por exemplo na semana passada, o prefeito Paulo Alexandre Barbosa havia informado que a Prefeitura tinha criado um comitê econômico para avaliar estes impactos, mas sem entrar em detalhes nas ações a serem desenvolvidas.

Supermercados começam a limitar mercadorias por cliente. Foto: Carla Aparecida

Altos e baixos

O reflexo da quarentena impacta diretamente nos supermercados. Segundo o levantamento feito pela Associação Paulista de Supermercados – APAS, o movimento nos supermercados paulistas havia caído pela metade na última segunda-feira (23), em comparação com o final de semana anterior.

O movimento, porém, teve um aumento de 24,8% neste mesmo dia, mas só quando comparado com o dia 24 de fevereiro, também uma segunda-feira.

Ou seja, muita gente – que tinha recursos – se antecipou ao cenário e fez estoque de mercadorias.

A redução nas compras em locais físicos provocou um crescimento nas vendas online e por telefone, aponta a APAS.

Em média, houve um aumento nas compras nestas formas de contato de 74% na última semana.

“Apesar do online não ter o mesmo peso que as vendas presenciais, pois representam apenas 2% do volume total de negócios dos supermercados, em função desse tipo de demanda, 62% das empresas que operam com vendas online já estão reforçando suas equipes para manter um prazo adequado nas entregas’, aponta a APAS.

Nesta terça-feira, no entanto, o movimento voltou a ter alta.

As vendas, segundo a APAS, chegaram a 18,2%, coincidentemente, no primeiro dia de quarentena obrigatória.

Em virtude da demanda de consumo nos últimos dias (tanto presencial quanto online), a APAS constatou que alguns produtos tiveram aumento de preço.

Os eventuais aumentos estão sendo praticados pelos fornecedores e sendo repassados aos supermercados.

Segundo o presidente da APAS, Ronaldo dos Santos, “neste momento estamos buscando soluções que ajudem nossos clientes, que são nossa principal preocupação.

Temos feito reuniões internas e convidando fornecedores para juntos, tentarmos encontrar caminhos para regularizar o abastecimento e definir a melhor relação de preço”.

 

Macarrão é um dos itens mais procurados nos supermercados. Foto: Nando Santos

 

Os itens que tiveram aumento foram:

leite Longa Vida: 54% de aumento sem disponibilidade de compra;

feijão, 67% de aumento sem disponibilidade de compra;

alho: 45% de aumento;

batata: 90% de aumento.

 

Pequeno comércio

O Minimercado Aquárius, localizado na Rua João Guerra, 188, observa o desenrolar da crise para saber quais medidas serão tomadas a partir daí.

Dono do estabelecimento, José Seixal, afirma que o futuro econômico será devastador.

Segundo ele, a economia já vinha se arrastando ao longo dos anos, no entanto, não garante a permanência e nem a demissão dos atuais funcionários.

“Será preciso aguardar para tomar alguma medida”, completa.

 

Extensão da vizinhança

Outro estabelecimento que também sofre com a quarentena imposta ao Estado são as padarias, que já apresentam dificuldades no faturamento.

A Panificadora e Confeitaria São Miguel, em Guarujá, é exemplo.

Segundo a proprietária, Leia Fernandes, que comanda a padaria junto ao marido Marcos Alonso, 50% das receitas caíram e com a imposição da quarentena, a probabilidade é que caia ainda mais.

Contudo, algumas medidas já foram tomadas, como a antecipação de férias individuais e até mesmo desligamentos de alguns colaboradores.

Estes, aliás, já estavam programados para serem dispensados.

Em relação às dificuldades econômicas, Leia admite a possibilidade, caso o faturamento comece a despencar diante da quarentena obrigatória, prevista até 8 de abril, pouco antes da Páscoa.

“No Estado de São Paulo estávamos em isolamento social voluntário, o que diminuiu o fluxo de pessoas, mas não cessou”, explica.

O presidente do Sindicato da Indústria de Panificação e Confeitaria da Baixada Santista e Região, Antônio Pires Gomes, afirma que todas padarias e afins receberam as orientações sobre higiene e limpeza e medidas preventivas, para evitar a transmissão da Covid-19.

Seguindo o decreto dos municípios da região, as padarias não estão atendendo em mesas e balcões, com o objetivo de evitar aglomerações em seu interior.

No entanto, o serviço para viagem ou delivery funcionam normalmente.

Antônio Gomes informa ainda que impacto financeiro neste tipo de estabelecimento é enorme, mesmo com as restrições.

Algumas padarias, aliás, já apresentam queda de 70% no faturamento, preocupando seus proprietários e a empregabilidade dos funcionários.

“Esperamos retornar as atividades o quanto antes devido o custo operacional e menor impacto econômico na nossa região”.

 

Ambulantes

Quem trabalha por conta própria também sente os efeitos nas vendas.

Há 20 anos na Praça Mauá, o ambulante José Geraldo Irmão, 76 anos, tem na venda do chá mate e abacaxi com limão o incremento à sua aposentadoria.

Em dias quentes como os atuais, ele chega a vender de 80 a 100 copos de bebida (a R$ 5, cada). Mas, na última semana, por volta das 13h15, só havia vendido 10% deste montante.

“Se não for bom até a uma hora da tarde, o resto do dia será fraco”, lamenta.

Ele se preocupa em como pagar os impostos e taxas, como imposto sindical, taxa de ambulante e curso de manuseio de alimentos, cujo montante anual chega a R$ 1.400,00.

“Vamos que ter que pedir para parcelar estas despesas. Afinal, vou vender para quem? Para os pombos que ficam aqui na Praça Mauá?”, indaga.

 

Ambulantes buscam formas de conseguirem renda extra durante pandemia de Covid-19. Foto: Nando Santos

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