A quarentena imposta pelo governador do Estado de São Paulo, João Doria, já vigora em todo o Estado.
As medidas visam evitar a expansão descontrolada da transmissão do novo coronavírus, pois São Paulo – especialmente a Capital e Grande São Paulo – registram a maior parte dos casos do País.
Até esta segunda-feira (30), o Brasil confirmou 136 mortes e 4.256 infectados por coronavírus.
Conforme o decreto, a medida impõe o fechamento do comércio, exceto serviços essenciais de alimentação, abastecimento, saúde, bancos, limpeza e segurança.
Assim, centros comerciais em Santos se encontram fechados, funcionando apenas serviços essenciais, como mercados e farmácias, além de restaurantes, em sistema delivery.
Caminhoneiros também sentem o reflexo, em razão da dificuldade de encontrar estabelecimentos abertos pelas estradas e ameaçam parar na próxima semana, o que pode trazer transtornos no abastecimento de produtos.
Com boa parte do comércio e setor de serviços não funcionando, o maior impacto será na economia local e regional.
Afinal, a taxa de crescimento do PIB – Produto Interno Bruto foi revista novamente pelo Banco Central, que aponta o índice de 0% – ou seja, sem crescimento.
Incógnitas
Para a professora de Economia da Universidade Católica de Santos, Celia Ribeiro, as expectativas econômicas ainda são incógnitas para todos, pois não se sabe ao certo o período a qual a crise irá perdurar.
Mas garante que Santos sofrerá e muito com a pandemia.
“Para uma cidade que tem cerca de 80% de sua economia baseada nos setores de comércio e serviços, certamente isso terá um impacto “.
Para a profissional, o chamado ‘ciclo vicioso’, que é conhecido como queda do consumo, provocando a redução dos empregos, depois a queda da renda e assim sucessivamente, não pode se enquadrar em Santos.
Ela, no entanto, ressalta que a economia irá se recuperar após o impacto da Covid-19, porém os danos ocorridos neste período serão superados somente após um certo período de tempo.
“Como Santos depende muito do setores de comércio e serviços, quem estiver preparado para as vendas online ficará em vantagem em relação aos demais. Os pequenos negócios são a grande preocupação”, enfatiza.
Hoje, há movimentos de grandes empresas para que compras de alimentos sejam feitas em estabelecimentos menores.
O Outback, por exemplo, iniciou uma campanha de doação do ovos de Páscoa para empreendimentos no entorno do restaurante.
A ideia é que o pequeno empreendedor tenha como gerar renda para o seu negócio.
Procurada pela reportagem, a Prefeitura de Santos não respondeu qual a expectativa e o impacto nas finanças e quais ações o Poder Público pretende implantar para os setores do comércio e serviços, como eventuais isenções de taxas, por exemplo na semana passada, o prefeito Paulo Alexandre Barbosa havia informado que a Prefeitura tinha criado um comitê econômico para avaliar estes impactos, mas sem entrar em detalhes nas ações a serem desenvolvidas.
Altos e baixos
O reflexo da quarentena impacta diretamente nos supermercados. Segundo o levantamento feito pela Associação Paulista de Supermercados – APAS, o movimento nos supermercados paulistas havia caído pela metade na última segunda-feira (23), em comparação com o final de semana anterior.
O movimento, porém, teve um aumento de 24,8% neste mesmo dia, mas só quando comparado com o dia 24 de fevereiro, também uma segunda-feira.
Ou seja, muita gente – que tinha recursos – se antecipou ao cenário e fez estoque de mercadorias.
A redução nas compras em locais físicos provocou um crescimento nas vendas online e por telefone, aponta a APAS.
Em média, houve um aumento nas compras nestas formas de contato de 74% na última semana.
“Apesar do online não ter o mesmo peso que as vendas presenciais, pois representam apenas 2% do volume total de negócios dos supermercados, em função desse tipo de demanda, 62% das empresas que operam com vendas online já estão reforçando suas equipes para manter um prazo adequado nas entregas’, aponta a APAS.
Nesta terça-feira, no entanto, o movimento voltou a ter alta.
As vendas, segundo a APAS, chegaram a 18,2%, coincidentemente, no primeiro dia de quarentena obrigatória.
Em virtude da demanda de consumo nos últimos dias (tanto presencial quanto online), a APAS constatou que alguns produtos tiveram aumento de preço.
Os eventuais aumentos estão sendo praticados pelos fornecedores e sendo repassados aos supermercados.
Segundo o presidente da APAS, Ronaldo dos Santos, “neste momento estamos buscando soluções que ajudem nossos clientes, que são nossa principal preocupação.
Temos feito reuniões internas e convidando fornecedores para juntos, tentarmos encontrar caminhos para regularizar o abastecimento e definir a melhor relação de preço”.
Os itens que tiveram aumento foram:
leite Longa Vida: 54% de aumento sem disponibilidade de compra;
feijão, 67% de aumento sem disponibilidade de compra;
alho: 45% de aumento;
batata: 90% de aumento.
Pequeno comércio
O Minimercado Aquárius, localizado na Rua João Guerra, 188, observa o desenrolar da crise para saber quais medidas serão tomadas a partir daí.
Dono do estabelecimento, José Seixal, afirma que o futuro econômico será devastador.
Segundo ele, a economia já vinha se arrastando ao longo dos anos, no entanto, não garante a permanência e nem a demissão dos atuais funcionários.
“Será preciso aguardar para tomar alguma medida”, completa.
Extensão da vizinhança
Outro estabelecimento que também sofre com a quarentena imposta ao Estado são as padarias, que já apresentam dificuldades no faturamento.
A Panificadora e Confeitaria São Miguel, em Guarujá, é exemplo.
Segundo a proprietária, Leia Fernandes, que comanda a padaria junto ao marido Marcos Alonso, 50% das receitas caíram e com a imposição da quarentena, a probabilidade é que caia ainda mais.
Contudo, algumas medidas já foram tomadas, como a antecipação de férias individuais e até mesmo desligamentos de alguns colaboradores.
Estes, aliás, já estavam programados para serem dispensados.
Em relação às dificuldades econômicas, Leia admite a possibilidade, caso o faturamento comece a despencar diante da quarentena obrigatória, prevista até 8 de abril, pouco antes da Páscoa.
“No Estado de São Paulo estávamos em isolamento social voluntário, o que diminuiu o fluxo de pessoas, mas não cessou”, explica.
O presidente do Sindicato da Indústria de Panificação e Confeitaria da Baixada Santista e Região, Antônio Pires Gomes, afirma que todas padarias e afins receberam as orientações sobre higiene e limpeza e medidas preventivas, para evitar a transmissão da Covid-19.
Seguindo o decreto dos municípios da região, as padarias não estão atendendo em mesas e balcões, com o objetivo de evitar aglomerações em seu interior.
No entanto, o serviço para viagem ou delivery funcionam normalmente.
Antônio Gomes informa ainda que impacto financeiro neste tipo de estabelecimento é enorme, mesmo com as restrições.
Algumas padarias, aliás, já apresentam queda de 70% no faturamento, preocupando seus proprietários e a empregabilidade dos funcionários.
“Esperamos retornar as atividades o quanto antes devido o custo operacional e menor impacto econômico na nossa região”.
Ambulantes
Quem trabalha por conta própria também sente os efeitos nas vendas.
Há 20 anos na Praça Mauá, o ambulante José Geraldo Irmão, 76 anos, tem na venda do chá mate e abacaxi com limão o incremento à sua aposentadoria.
Em dias quentes como os atuais, ele chega a vender de 80 a 100 copos de bebida (a R$ 5, cada). Mas, na última semana, por volta das 13h15, só havia vendido 10% deste montante.
“Se não for bom até a uma hora da tarde, o resto do dia será fraco”, lamenta.
Ele se preocupa em como pagar os impostos e taxas, como imposto sindical, taxa de ambulante e curso de manuseio de alimentos, cujo montante anual chega a R$ 1.400,00.
“Vamos que ter que pedir para parcelar estas despesas. Afinal, vou vender para quem? Para os pombos que ficam aqui na Praça Mauá?”, indaga.