Enquanto prefeitos da Baixada Santista defendem que o governador João Doria anuncie nesta sexta (26) a mudança de fase na região – da laranja para amarela, mais flexível – a quarta e última etapa da pesquisa Epicobs revela justamente o oposto, ou seja, risco de retrocesso e volta à zona vermelha.
Afinal, a taxa de crescimento de pessoas contaminadas na região é a mais acelerada em todos os outros estudos existentes no mundo.
Na primeira etapa o final de abril, havia 1 em cada 69 habitantes com anticorpos do covid-19.
Na quarta e última etapa, encerrada no último dia 20 de junho, a taxa já era de 6,6% da população regional – com média de 1 infectado a cada 15 habitantes.
Ou seja, em quase 50 dias, a taxa de crescimento de pessoas assintomáticas do Covid-19 subiu quase 5 vezes.
Em números, a média chega a quase 121 mil pessoas com anticorpos do Covid-19, variando de 102 mil a 137 mil.
Ou seja, a quantidade de infectados é maior que a população de quatro cidades: Bertioga (63.290 habitantes), Mongaguá (54.610), Peruíbe (66.201) e Itanhaém (98.757).
E em situação extrema, a quantidade supera a população de um quinto município: Cubatão, com 129.145 moradores.
“Comparamos com várias pesquisas realizadas no Brasil e no mundo e em nenhuma houve um taxa de crescimento de casos tão elevada”, explica médica sanitarista Karina Calife, professora doutora da Faculdade de Medicina da Santa Casa e uma das cientistas integrantes do grupo de estudo realizado na Baixada Santista.
Abertura de atividades, um risco preocupante
A pesquisadora teme que a abertura de atividades faça com que ocorra uma explosão de casos nas próximas semanas.
“É difícil a abertura de atividades com tanto gente suscetível. A possibilidade de crescimento de casos é preocupante”, enfatiza.
E complementa: “A flexibilização das atividades comerciais é inadequada por mais cuidado com que se tenha”.
“Estamos fazendo isso muito antes da hora”, enfatiza a profissional.
Ela ressalta dois pontos que chamam a atenção: rapidez no crescimento de pessoas com anticorpos do Covid-19 e um elevado número de pessoas ainda suscetíveis a contrair o vírus.
Conforme ela, a flexibilização em outros países é bem diferente da que ocorre aqui.
“Em países europeus, os casos estavam em queda. Aqui, não”, reafirma.
Flexibilização x pacientes infectados
Não bastasse, outro dado preocupante: para cada caso notificado existem sete não notificados na região.
Justamente por falta de testes realizados na população.
E por cidades, há uma disparidade incrível.
Por sua vez, em São Vicente, para cada infectado, 20 não são notificados.
Em Peruíbe, a proporção é de 1 para 19. Em Itanhaém, 1 para 16 e em Guarujá, 1 para 10.
Já em Santos, é de 1 para 2 e em Praia Grande, de 1 para 5.
Causa e efeito
Assim, há uma relação clara entre flexibilização de atividades e aumento de casos.
Além disso, um dos dados que chamam a atenção é que as cidades que anteciparam a flexibilização das atividades foram justamente as que registram o maior volume de pacientes infectados.
Caso de Guarujá, onde 11 em cada 100 moradores já tem anticorpos do Covid-19 (10,78%) – cerca de 13.300 a 28.160 habitantes.
Ou São Vicente, com 9,86%, variando de 7.517 a 19.686.
Assim, caso a região passe para a fase amarela, como defendem alguns prefeitos, será possível a abertura de outras atividades comerciais, como bares, restaurantes, salões de beleza e barbeiros, além de ampliação dos horários do comércio.
Por sua vez, a pesquisadora acredita que possa ocorrer justamente o oposto em breve, com a região retrocedendo à fase vermelha, como ocorreu com o Vale do Ribeira.
Continuação
Cidades como Santos já anunciaram que manterão os estudos de monitoramento do avanço do Covid-19.
Outros municípios também poderão dar continuidade ao trabalho.
Assim, os kits de testes foram adquiridos por quase R$ 1,9 milhões pela Fundação Parque Tecnológico de Santos, com aval do Conselho de Desenvolvimento da Baixada Santista – Condesb.
Conclusão
O estudo chegou às seguintes conclusões:
- A prevalência está em ascensão na Baixada Santista
- A velocidade de disseminação da infecção da Baixada Santista é mais acelerada do que todos os estudos semelhantes no mundo
- O crescimento entre as fases 3 e 4 se deu em maior intensidade do que o observador entre as fases 2 e 3 (77,2%).
- Atenção especial aos municípios de Guarujá, São Vicente e Cubatão
- Recomendamos a manutenção do isolamento social e utilização de máscara de forma adequada por toda a população.
Confira a entrevista da médica e professora Karina Calife ao programa Notícias do Dia.