No último final de semana, em São Vicente, a morte do jovem de 13 anos, Gustavo Detter, reacendeu uma ampla discussão sobre os jogos de asfixia ou desmaios, como também são chamados. Em inglês são os Choking Games. No caso de Gustavo, foi feito um desafio após perder em um jogo on-line. O resultado da brincadeira entre os adolscentes se tornou manchete nos noticiários de todo o país.
No jogo a pessoa interrompe o fluxo de ar com as mãos ou com objetos para induzir desmaios, tontura ou estado de euforia. Gustavo utilizou uma corda – como foi noticiado – que sustentava um saco de boxe no teto dentro do quarto. Após o enforcamento, o estudante chegou a ser socorrido com vida para o Hospital Municipal de São Vicente ainda na noite de sábado (15). Depois, foi transferido para o Hospital Ana Costa, em Santos, morrendo no dia seguinte.
Este tipo de jogo e de fatalidade, infelizmente, não é recente e nem surgiu com a internet. Em 2008, por exemplo, o Centro de Prevenção e Controle de Doenças (CDC), dos Estados Unidos, publicou levantamento de mortes por estrangulamento acidental entre jovens de 6 a 19 anos no período de 1995 a 2007. Com base em noticiários, os pesquisadores chegaram a 82 casos e constataram que 86% dos registros ocorrem entre meninos, com idade média de 13 anos.
Se antes este tipo de desafio acontecia na rua quando – principalmente – os meninos se reuniam, hoje acontece no mundo virtual e dentro de casa. Para o especialista, os pais têm a sensação de controle, pois estão em casa e diante de seus olhos. Mas com o mundo virtual em suas mãos, esta sensação não representa nem de longe a realidade e esconde os ricos em que os jovens estão expostos diariamente.
“A internet é uma rua ou várias. Um mundo, virtual, mas com qual pode-se interagir muito mais do aquele dos anos 1970, por exemplo. E o que é a adolescência? Nas palavras do psicanalista Calligaris, “ele nem é (mais) a criança amada, nem o adulto reconhecido”. Assim, o adolescente fica à espera da sua vez para ingressar no mundo dos adultos e adquirir sua autonomia e reconhecimento. Enquanto espera, convive com sua própria “tribo”, assimilando seus códigos de conduta, sua linguagem e, principalmente, construindo sua identidade”, explica em artigo o psicólogo da Universidade Presbiteriana Mackenzie Aurélio Melo.
Somado a este cenário, os jovens estão inseridos numa sociedade que se torna cada vez mais competitiva. “A gente faz de conta que não é mas desde pequeno incentivamos esta competição… Os pais incentivam os filhos a darem o máximo em tudo. E ninguém quer perder. Na nossa sociedade, a perda não é definida como um evento da vida e sim como fracasso. A medalha de prata perde sua importância, por exemplo. Nesta competividade nada saudável, os jovens ficam ainda mais inseguros. E eles buscam o tempo inteiro o reconhecimento em casa ou nas suas tribos”, conta.
Para o especialista, é preciso que se mude em primeiro lugar as formas de comunicação e de relação entre pais e filhos. “Precisamos também atualizar as leis. Parece que a tecnologia está sempre à frente da moral. Não se trata de vigiar simplesmente, mas procurar interagir. Conviver de fato com filhos, rever conceitos de privacidade, intimidade”, explica. A escola também tem papel fundamental neste processo asssim como toda a sociedade. “É importante que se discuta mais, que se fale mais sobre estes tipos de situação para evitar que ocorra mais casos”, ressalta Aurélio.
Mas por outro lado, Aurelia acredita também que é necessário abandonar a ideia da segurança absoluta. “Os riscos sempre existem. É uma ilusão achar que podemos controlar e evitar tudo o tempo todo. Se estamos vivos estamos correndo risco. Mas é verdade que tem muita coisa a ser feita para prevenir isso. Os pais podem conversar mais, ter uma boa relação, ouvindo de fato estes jovens, orientado-os”, explica. Já a sociedade como pode lidar com isso? Segundo Aurelio, a escola é um bom lugar para este tipo de diálogo. “A gente é carente em políticas públicas, campanhas, ações, promoções de debates. Estes assuntos são difíceis mesmo mas precisam ganhar mais destaque”, acrescenta.
