Em 2006, um santista sentiu na pele as dificuldades de um conflito com o estado de Israel. O comerciante Gihad Azanki é descendente de libaneses e saiu do litoral para morar e trabalhar no Líbano. Na época, o conflito estourou no país. E também atuando no ramo do comércio por lá, se viu numa missão importante: retirar o máximo de brasileiros que moravam na região do Vale do Bekaa.
Essa região era conhecida por abrigar um grande contingente de brasileiros no País. Na época, a estimativa do governo local era de que 6 mil brasileiros moravam naquela região, espalhados por 52 cidades. Azanki morou durante quatro anos e ficou 20 dias no conflito.
“Nosso trabalho era realizar comboios para a retirada de brasileiros do Líbano”, explica o comerciante. “Era uma situação muito difícil, porque a própria embaixada discriminava os brasileiros muçulmanos”.
Os brasileiros não tinham permissão para sair da fronteira leste do Líbano. Esse seria o caminho mais adequado para Azanki e o resto dos brasileiros escapar, pois se tratava de um percurso mais curto e menos perigoso. “Essa era uma região com menos bombardeios, diferente do que acontecia com o trajeto da região norte do Líbano, onde os riscos de sermos bombardeados eram enormes. Vi a morte de perto três vezes”, diz o comerciante santista. “Felizmente retiramos cerca de mil brasileiros. Sabemos que 11 morreram. O sentimento é de revolta. Inclusive porque você se sente abandonado pelo seu próprio governo”. Atualmente, Azanki tem comércio em São Vicente.
O que Azanki vivenceu, acontece neste momento na Faixa de Gaza. O conflito – que retomou os ataques na sexta (8) após o Hamas ter recusado prolongar o cessar-fogo – tem a sua base centrada em duas questões primordiais: território e religião, onde de um lado estão os muçulmanos, da Palestina, e do outro os judeus, de Israel.
De acordo com o professor e coordenador do curso de pós-graduação em Política e Relações Internacionais da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), Moisés Marques, a questão é que os dois lados vivem há anos em uma situação de conflitos. De um lado estão os palestinos, “que vivem em completa humilhação; não são reconhecidos como Estado e sofrem de uma série de restrições”. Por outro, “estão os judeus, em Israel, que convivem também com o medo, por conta do grupo armado da Palestina, Hamas”.
“Infelizmente, é difícil pensar numa solução imediata. Não acredito em paz tão cedo neste território. É importante que ambas as partes reconheçam onde erraram e consigam dialogar para um acordo, principalmente o lado de Israel, uma vez que são mais fortes em relação ao armamento”, explica.
Para o professor, as gerações atuais já nascem com ódio e medo. “Trabalho com árabes e judeus, em São Paulo. Eles têm aplicativos que avisam quando estão sendo bombardeados. É o tempo inteiro de alertas. Mesmo aqui eles deixam os aparelhos ligados”, ressalta. Difícil também é definir o grupo Hamas, da Palestina, considerado como terroristas por muitos.
Árabes
Já para Salah Mohamad Ali, libanês e presidente da Mesquita Islâmica de Santos, a guerra é desigual “e o terrorista nesta história toda é o regime sionista de Israel, que ataca escolas, crianças e hospitais, alegando defesa e uma resposta ao assassinato de três jovens, que não se sabe ao certo quem são os responsáveis, colocando a culpa no Hamas”.
“Historicamente, Israel busca pretextos para iniciar uma guerra e atacar o povo palestino, dominando cada vez mais o território. Nossa comunidade árabe no Brasil e no mundo vive um pesadelo. De uma guerra sionista, israelense. Uma Guerra de destruição. Um verdadeiro genocídio palestino praticado para acabar com a Faixa de Gaza”, acredita Salah.
Judeus
O ponto de vista dos judeus é a questão do reconhecimento do Estado de Israel, criado em 1948. Esse foi um período em que muitos migraram para o território em função da 2ª Guerra Mundial. Após a criação de Israel, os exércitos do Egito, Jordânia, Síria e Líbano atacaram, mas forma derrotados. Na Guerra dos Seis Dias, em 1967, a vitória de Israel mudaria o mapa da região. Dessa forma, os judeus conquistaram territórios de Jerusalém Oriental, as Colinas de Golan e toda a Cisjordânia – região de maioria árabe e reclamada pela Autoridade Palestina e pela Jordânia.
O despachante e presidente da sinagoga Beit Jacob (em hebraico, “filho de Deus”) de Santos, Jaques Zonis, acredita que a complexidade do conflito envolve o fato de que outras nações do Oriente Médio possuem regimes políticos distintos. “Israel é o único estado democrata. Os palestinos querem viver em paz, porém o Hamas para Israel é, sim, um grupo terrorista. A grande questão é que o Hamas usa os palestinos para provocar todos esses problemas”.