Apesar dos esforços dos prefeitos da Baixada Santista em pedir uma revisão na posição anunciada pelo governo do Estado, que classificou a região como zona vermelha no combate ao Covid-19, a verdade é que a falta de leitos – um dos itens preconizados pelo Estado para manter a região neste patamar – é um problema crônico.
Antes mesmo do surgimento do Covid-19.
A decisão do governo estadual impede uma reabertura gradual das atividades econômicas, frustrando as expectativas do comércio e de prefeitos.
A quarentena foi implantada pelo Estado desde o final de março.
Algumas cidades, como São Vicente e Guarujá, chegaram a liberar as atividades econômicas, mas tiveram que recuar em razão de decisões judiciais.
Assim, ao lado da Grande São Paulo – que foi dividida em cinco áreas, após reivindicação dos prefeitos para melhor avaliação metropolitana – e Vale do Ribeira, a Baixada Santista terá a quarentena estendida por mais 15 dias.
Há a expectativa, porém, de alteração do cenário.
Em reunião agendada para terça-feira (2), prefeitos e secretários estaduais podem chegar a um consenso para alterar a classificação de vermelha (fase 5, com restrições totais) para laranja (fase 4, com abertura gradual de algumas atividades econômicas).
O presidente do Sindicato do Comércio Varejista, Omar Abdul Assaf, já dá como certa a reabertura das atividades, conforme destacou em entrevista ao programa Notícias do Dia. (assista ao vídeo)
Já o secretário estadual de Desenvolvimento Regional, Marco Vinholi, diz que ainda é prematuro fazer qualquer prognóstico antes da reunião, dependendo do volume de novos casos registrados, assim como a ocupação de leitos nos próximos dias.
Falta de leitos, um velho problema
Conforme Vinholi, um dos motivos da manutenção da quarentena na região é a baixa capacidade proporcional de leitos hospitalares para atendimento de pacientes do Covid-19, em especial UTIs.
Outros indicadores, como índice de isolamento social, também fazem parte das análises.
Neste item, a Baixada Santista tem registrado indicadores abaixo dos 50% – e até mesmo abaixo da Capital.
Na quinta (28), a média estadual foi de 48%.
Apenas São Vicente e Itanhaém tiveram a mesma média.
Já Santos e Cubatão, por exemplo, registraram 45% de isolamento.
Percentual que tem caído a cada dia.
Na realidade, a falta de leitos decorre de um histórico problema metropolitano, antes mesmo do surgimento da pandemia.
A Baixada Santista – assim como o Vale do Ribeira – sempre foram preteridas na oferta de leitos hospitalares, em especial de UTIs, como ocorre na atualidade.
Portanto, sem novidades para o cenário atual.
Afinal, a pandemia só expôs esta cruel realidade.
Santos, por exemplo, tem uma média de 4,01 leitos a cada 1000 habitantes e 2,01 em relação a leitos SUS.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) preconiza entre 3 a 5 leitos/mil moradores.
Por sua vez, a vizinha São Vicente tem apenas 0,76 leitos em geral por mil habitantes, sendo 0,44 referentes a leitos SUS, conforme dados da Fundação Seade de 2019.
Assim, não é à toa que a maioria dos pacientes internados por Covid-19 em hospitais públicos (SUS) ou privados residem em outras cidades.
Nesta sexta (29), eram 222 pacientes (50,7%).
Os 216 munícipes santistas internados correspondem a 49,3%.
A taxa de ocupação geral é de 50%.
Para se ter ideia, a média regional de leitos é de 1,59, sendo 0,96 leitos SUS por 1000/habitantes.
Situação ruim
Entre as regiões metropolitanas paulistas, a Baixada Santista só está à frente da RM de Campinas, que tem indicadores piores, com 1,49 leitos de internação em geral e 0,84 do SUS.
A melhor situação ocorre na RM de Ribeirão Preto, com 2,43 leitos em geral, e 1,56 do SUS.
Ou seja, há uma terrível desigualdade na proporcionalidade de leitos, inclusive de UTIs, na região.
O quadro abaixo de leitos em geral e SUS por mil habitantes detalha melhor a desigualdade.
Vale lembrar que não estão contabilizados leitos para pacientes Covid-19, pois os dados são de 2019.
Outra realidade
A situação poderia ter sido minimizada se fosse levada adiante pelo Governo Federal a proposta da construção de um hospital metropolitano em São Vicente, com capacidade para 400 leitos.
A proposta foi feita em 2014 pelo então ministro da Saúde no governo Dilma Rousseff, Arthur Chioro, que chegou a divulgar o projeto.
O investimento era de R$ 150 milhões à época, divididos entre Governo Federal (50%) e do governo do Estado (50%), que não se comprometeu com a iniciativa.
Infelizmente, a proposta acabou perdendo força, por críticas de políticos e desinteresse do Estado, mas também pelo próprio enfraquecimento do governo Dilma, que anos depois sofreu o impeachment.