
Apesar da não oficialização do zika vírus – proveniente do mosquito da dengue – no interior e litoral paulista, o alerta refere-se aos 14 casos suspeitos de crianças que nasceram com a microcefalia nos últimos meses em Campinas e São Vicente. (foto: Divulgação)
Os casos foram registrados nas cidades de Campinas e São Vicente, segundo as próprias prefeituras. No balanço do Ministério da Saúde divulgado nesta terça-feira (8), no entanto, o Estado não aparece entre os 13 que têm casos suspeitos, além do Distrito Federal. De acordo com a pasta, há no país 1.761 casos suspeitos.
A Prefeitura de Campinas, no interior paulista, investiga a relação do vírus zika com os dez casos de microcefalia em recém-nascidos registrados a partir da segunda quinzena de outubro na cidade. As possibilidades são grandes: duas das mães relataram às autoridades em saúde que apresentaram manchas vermelhas no corpo durante a gestação. A vermelhidão é um dos sintomas causados pelo vírus.
Os municípios tratam os casos de microcefalia como confirmados, diferentemente do Ministério da Saúde, que fala em suspeitas. Campinas diz que segue o protocolo federal e acrescenta que os casos confirmados de microcefalia são notificados apenas quando a medida do diâmetro da cabeça do recém-nascido é inferior a 32 centímetros.
Segundo Brigina Kemp, diretora do departamento de vigilância em saúde de Campinas, a medida já caracteriza a má-formação. A única suspeita, segundo Kemp, é se os casos de microcefalia foram causados ou não pelo vírus zika.
A situação em Campinas é preocupante porque o município registra a pior epidemia de dengue de sua história, com 65.280 casos. Em 2014, foi a cidade recordista em dengue no Brasil, com 42 mil casos.
A dengue, a chikungunya e o vírus zika são transmitidos pelo mesmo mosquito, o Aedes aegypti. Apesar disso, o município não confirmou nenhum caso de zika até o momento.
Em Sumaré, município vizinho, um homem teve a doença em maio.
Além disso, Campinas tinha média de um caso de microcefalia ao ano. A exceção foi o ano de 2011, com quatro casos.
“Estamos todos preocupados e atentos porque, apesar de não termos registrados casos de zika, não podemos afirmar que o vírus não circulou pela cidade”, disse Kemp.
Segundo ela, o primeiro caso de recém-nascido com microcefalia em Campinas foi notificado no final de novembro. A criança, porém, tinha nascido no dia 15 de outubro. Ela não explicou o motivo da demora na notificação.
A segunda criança nasceu em 3 de novembro, e a notificação ocorreu no dia 25 do mesmo mês. “Já os demais casos foram notificados todos a partir desta data até hoje [terça-feira]. Não temos mais casos notificados”, disse.
As mães e os bebês já passaram por exames para investigar a relação do vírus zika com a microcefalia. Foram colhidas amostras de sangue, urina e líquor para detectar anticorpos da doença, e os bebês fizeram também tomografia.
Os exames estão sendo avaliados pelo instituto Adolfo Lutz, em São Paulo, e não há previsão para divulgação dos resultados, de acordo com Kemp. Nenhuma das mães relatou ter viajado antes ou durante a gravidez.
Uma equipe de profissionais de saúde de Campinas está avaliando o histórico das mães e se tiveram doenças ou contato com doentes. Familiares também serão interrogados para saber se tiveram doenças.
Segundo a Secretaria Estadual da Saúde, os município não são obrigados a notificar casos suspeitos de microcefalia. A pasta informou que não recebeu até o momento nenhuma notificação.
Causas da microcefalia
Dos dez casos, três são de mães que tiveram seus filhos na cidade, mas que moram na vizinha Sumaré. Em outro caso, a prefeitura investiga se o uso de drogas por uma mãe moradora de rua causou a microcefalia no bebê.
“A microcefalia pode ser causada por fatores biológicos –como a transmissão por mosquitos infectados -, genéticos ou externos, como o uso de drogas e o fumo. Estamos investigando todas essas possibilidades”, afirmou Brigina Kemp.
Nenhum dado sobre as mães dos bebês foi revelado, mas quatro das moradoras de Campinas moram em bairros das regiões sul, noroeste e sudoeste da cidade, onde há muitos casos de dengue.
A diretora municipal afirmou que um comitê assessor será formado por especialistas convidados de universidades, como a Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), para discutir os casos notificados. “O momento exige um esforço conjunto de todos os municípios, dos Estados e do governo federal para combater o mosquito Aedes aegypti porque, sem ele, não temos essas doenças”, afirmou.
São Vicente
São Vicente, na Baixada Santista, contabiliza quatro casos de microcefalia na cidade este ano: um em setembro, um em outubro e dois em novembro. No mais recente, registrado em 20 de novembro, a gestante relatou sintomas de dengue no quarto mês de gestação. Em 2014, o município teve apenas uma confirmação de microcefalia.
A prefeitura informou que todos os casos foram notificados ao Estado, mas a Secretaria Estadual da Saúde diz que não recebeu nenhuma notificação.
Por enquanto, não há comprovação desses casos de microcefalia com o vírus zika. A secretaria está investigando os prontuários das pacientes, mães dos bebês que nasceram com suspeita de microcefalia, para identificar a causa da doença. As informações analisadas incluem exames de pré-natal, antecedentes pessoais e familiares dos pais, além de informações sobre o nascimento da criança.
Não está prevista, no entanto, a realização de exames que confirmem a microcefalia nos bebês, como tomografia ou ultrassonografia.