Os exemplos que ocorrem no exterior neste momento deveriam servir de espelho para monitorar o atual estágio da pandemia no Brasil.
E antecipar o que poderá vir.
Dessa forma, médicos ouvidos pelo Boqnews criticaram a decisão do governador João Doria (PSDB).
Doria anunciou hoje (17) o fim da obrigatoriedade do uso de máscaras em locais fechados.
Na semana passada, ele já havia derrubado a medida em áreas abertas.
Cidades caminham no mesmo sentido.
Caso de Santos, no litoral paulista, que publica decreto assinado pelo prefeito Rogério Santos no Diário Oficial desta sexta (17) alterando as regras do uso das máscaras.
A obrigatoriedade do uso do equipamento de proteção só permanecerá em estabelecimentos médicos e hospitalares e transporte público, a exemplo do definido pelo governo paulista.
Nos demais locais fechados, será facultativo.
Exemplos não faltam
Afinal, os médicos citam que os modelos atuais da Europa e Ásia, com elevação de casos e mortes, servem de alerta.
“A onda começa lá e termina aqui”, resume a médica infectologista Elizabeth Dotti Consolo.
“Temos que tomar o exemplo do ocorre com o exterior. Não é hora de tomar esta medida agora”, salienta o também médico infectologista Evaldo Stanislau.
“A transmissão do vírus ainda existe, da mesma forma que o risco de aparecimento de novas variantes”, acrescenta o médico infectologista do Instituto Emílio Ribas e professor do curso de Medicina da Unaerp, Leonardo Weissmann.
Exemplos atuais, portanto, não faltam para reforçar a preocupação dos profissionais.
A China, por exemplo, tem registrado elevação de casos com fechamento de escolas, a volta do trabalho home office e confinamento de milhares de pessoas.
Áreas como o centro tecnológico de Shenzhen e a concentrada Xangai já começam a preocupar podendo afetar a economia chinesa, como ocorrido em 2020, no início da pandemia.
Empresas como Toyota, Volkswagen e a fornecedora da Apple Foxconn estão na lista de grupos afetados pelas paralisações.
Na Europa, Reino Unido, Holanda, Suíça, Itália e Alemanha registram número de crescente de infecções e internações hospitalares – e lá ainda é inverno, com maiores restrições de locomoção em razão das baixas temperaturas.
Alerta
Motivos, portanto, não faltam para deixar a comunidade médica em alerta, após dois anos de pandemia.
“Não temos dados seguros. A cautela indica que não deveríamos suspender o uso de máscaras neste momento”, critica Stanislau.
Para ele, é razoável e correto tirar a máscara em ambientes abertos e não aglomerados.
No entanto, em ambientes fechados o cenário é outro, pois o risco de contaminação é elevado.
“Parece uma atitude precipitada, eleitoreira e não baseada na boa Ciência”, resume.
Portanto, mesma linha de raciocínio da sua colega infectologista Elizabeth Dotti.
“Desobrigar neste momento é pesaroso”, salienta a profissional, que lida, ao lado dos seus colegas uma batalha diária contra a Covid, que já se arrasta há dois anos.
O médico Weissmann crê que a decisão não foi aleatória, mas baseada em dados epidemiológicos e orientações da Organização Mundial da Saúde.
“A percepção para grande parte da população é de que a pandemia está controlada, já que o número de casos e de hospitalizações estão caindo, e muita gente já não usa mais a máscara o tempo todo”, diz.
No entanto, ele enfatiza que a transmissão do vírus ainda existe, da mesma forma que o risco de aparecimento de novas variantes, como ao Deltacron, já presente no País.
Dados mais detalhados nesta mutação das variantes Delta e Ômicron inexistem até o momento.
“A obrigatoriedade foi suspensa, mas as pessoas podem manter o uso da máscara para proteção, principalmente os imunossuprimidos, idosos, pessoas com doenças crônicas, profissionais da saúde e aqueles não vacinados ou com imunização incompleta”, recomenda.
Mesma linha de raciocínio
No twitter, o médico e cientista Miguel Nicolelis alertou:
“Remoção da obrigatoriedade de máscaras em lugares fechados em SP é apenas 1 manobra política, uma tentativa de remover o símbolo mais visível da existência de uma pandemia e com isso tentar auferir dividendos para uma campanha natimorta. O resultado será medido”, disparou.
“Em mais infectados, mais pessoas hospitalizadas e mais mortes, além de mais pacientes com complicações crônicas da Covid. No momento em que Ásia vê explosão de 1 nova variante, Governo de SP tenta terminar pandemia por decreto”, acrescentou.
“Infelizmente isso não funciona. Quando a política bate de frente com a biologia ela perde sempre de goleada. Não vai ser diferente em SP ou no Brasil como um todo. Vejam o q ocorre no Reino Unido neste momento depois da mesma decisão absurda”, finalizou.
Jornal Enfoque
Médico da Abramet – Associação Brasileira de Medicina de Tráfego, Carlos Eid, está à frente de um trabalho detalhado ao lado de outros profissionais, identificando as variações da doença não só em cidades, mas também em estados e no mundo, desde o início da pandemia.
E os números de mortes pela doença servem de alerta para monitorar a situação aqui e no exterior.
Pela manhã – antes, portanto, do anúncio do governador -, Eid salientava a importância do uso de máscaras especialmente em ambientes fechados.
Ele participou do Jornal Enfoque – Manhã de Notícias de hoje (17).
“Se você vai a um restaurante, só tire a máscara na hora de comer. Concordo que está na hora de reduzir o uso, mas com cautela e prudência”, destacou.
Portanto, o uso de máscaras deve ser mantido em ambientes fechados – ainda que não haja a obrigatoriedade oficial, segundo todos os profissionais entrevistados.
Governador
No final da tarde de hoje, o governador João Doria anunciou a liberação do uso de máscaras.
Edição extra de hoje do Diário Oficial publicou a medida, com efeito imediato.
Assim, o uso agora torna-se opcional em ambientes como escritórios, comércios, salas de aula, academias, entre outros.
A flexibilização em ambientes abertos já havia sido autorizada pelo Governador no último dia 9 deste mês.
Dessa forma, o Comitê Científico do Coronavírus de São Paulo deu aval para a decisão.
Os especialistas levaram em consideração o índice de vacinação com duas doses no estado, que atingiu a meta definida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e do Ministério da Saúde (MS) de 90% da população elegível, ou seja, acima de 5 anos imunizada.
Assim, houve a manutenção da melhora dos indicadores epidemiológicos, indicando que a queda na transmissão da Sars-Cov 2 no Estado de São Paulo segue de maneira progressiva, mesmo após o Carnaval.
Segundo o governo paulista, pela sexta semana seguida registra quedas de internações nos leitos de Unidade de Terapia Intensiva e de enfermaria.
Assim, na última semana foi registrada a redução de 18,5% nas novas internações.