Ao declarar que o PSDB deveria abrir mão de candidatura própria para apoiar o vice-governador Marcio França, Mário Covas Neto, vereador paulistano e filho do ex-governador (já falecido) Mário Covas, provocou abalos sísmicos no PSDB paulista.
A ponto do presidente estadual do partido, Pedro Tobias, dizer que Neto “estava doido” e “falava em seu próprio nome”.
As informações foram divulgadas na coluna da jornalista Mônica Bergamo, da Folha de S. Paulo.
Para o vice-governador Márcio França, o apoio do partido seria muito bem-vindo.
“Mas é uma decisão que o PSDB tem que tomar”, destacou.
França participou de solenidade de entrega de novos veículos do VLT.
Com ausência do governador Geraldo Alckmin, ele também assinou o projeto executivo para a recuperação da Ponte dos Barreiros, em São Vicente.
A cidade no litoral paulista é onde o vice-governador nasceu para o mundo político.
Déjà-vu
França deve ocupar o cargo de governador do estado a partir de abril.
Isso ocorrerá em razão da provável desincompatibilização do governador Geraldo Alckmin.
Alckmin pretende sair candidato à Presidência da República.
Desde 1994, o PSDB está no governo paulista.
O mesmo caminho a ser percorrido por França ocorreu com Claudio Lembro (DEM).
Em 31 de março de 2006, ele, que era presidente estadual do DEM (França é do PSB), assumiu o governo paulista.
Na ocasião, o então governador Geraldo Alckmin também havia renunciado para concorrer à presidência da República.
Perdeu para Lula e sofreu uma série de traições dentro do próprio partido na ocasião.
Na época, porém, Lembo não tinha pretensões eleitorais.
Não se candidatou a outro qualquer eletivo.
Acabou sendo sucedido pelo também tucano José Serra, hoje senador paulista.
Serra é sempre um nome cotado pela cúpula do partido para voltar ao Palácio dos Bandeirantes.
Lembo é o oposto a França, que sonha em conquistar o maior posto político do governo de São Paulo pelo PSB.
Se conseguir, ele quebrará a longa hegemonia tucana, hoje um partido aliado.
No entanto, fica claro que os concorrentes ao cargo deverão ter muito jogo de cintura.
Afinal, sempre há o risco de aliados de hoje se tornarem oponentes amanhã.
Em entrevista ao Boqnews.com, França revela seus planos e o que representa a declaração de Covas Neto.
Declaração de Covas Neto
Boqnews – Como o sr. analisa a declaração do vereador Mário Covas Neto dizendo que o PSDB deveria apoiá-lo?
Márcio França – O Zuzinha (Mário Covas Neto) é meu amigo. Ele é uma pessoa importante. É filho do (Mário) Covas.
O que fala é alguma coisa em ponderação. Não é proibido ninguém apoiar ninguém.
O PSDB está há muito tempo no Governo do Estado e tem muitos nomes.
Mas se por acaso eles tiveram à disposição de apoiar outros partidos é claro que eu gostaria de receber o apoio deles.
Mas é uma decisão que o PSDB tem que tomar.
Eu vou tomar a minha decisão. E ela já está tomada.
A medida que eu assumir o governo, vou seguir meu caminho e disputar o único cargo que eu posso disputar, que é o de governador.
Para efeito da candidatura do governador Alckmin à presidência da República, o ideal é que tenhamos o máximo de harmonia possível.
Toda vez que há uma disputa – por mais que seja amigável – ela é sempre uma disputa.
E esta é uma decisão que o PSDB deve tomar na hora certa.
Certamente, o governador Alckmin é experiente e saberá conduzir o que pode ser melhor para São Paulo e a para candidatura dele à Presidência.
Riscos de traições
Boqnews – Apesar do sr. ser de outro partido (PSB), o sr. conhece também os bastidores do PSDB pela convivência. O (A) sr. acha que possa se repetir nesta eleição o mesmo que ocorreu em 2006 quando o então governador Geraldo Alckmin acabou sofrendo boicote para sua candidatura à presidência pelo próprio partido?
Márcio França – Os partidos são feitos por várias pessoas.
Quanto mais harmonia tiver, melhor.
O principal reduto do Alckmin é São Paulo.
É importante que ele tenha até mais votos que o Aécio obteve em 2014 em São Paulo.
(Nota da Redação: Na eleição passada, o candidato do PSDB obteve mais de 15 milhões de votos de eleitores paulistas, ou 64,3% dos votos válidos do segundo turno presidencial.
Em 2006, quando foi candidato a presidente, Alckmin teve 52,3% dos votos em São Paulo).
Da minha parte, eu gostaria de ter todos os partidos, mas se o PSDB tiver candidato, eu vou respeitar.
Faz parte do jogo.
Agora, eles têm que respeitar minha (pré) candidatura e cada um faz o seu jogo e ver no final quem vai estar no segundo turno.
Ligação seca
Boqnews – O prefeito de Guarujá, Válter Suman, que é do seu partido, tem dito que ao assumir o sr. vai agilizar o projeto para a ligação seca (via ponte) entre Santos e Guarujá. Isso procede?
Márcio França – Antes o Tribunal de Contas sinalizava negativamente a uma relação entre a prorrogação do prazo de concessão de uma obra em troca da execução de serviços complementares.
É o caso da Ecovias, concessionária do Sistema Anchieta-Imigrantes.
No entanto, o órgão tem emitido sinais reavaliando esta decisão.
Assim, esta pode ser uma boa alternativa, com a prorrogação do contrato da concessionária (válido até 29 de março de 2024, segundo a Artesp).
Boqnews – Onde seria esta ponte?
Márcio França – Seria de apoio ao sistema Anchieta-Imigrantes, ligando a área continental de Santos/Guarujá, pois seria uma complementação ao serviço já realizado pela Ecovias.