Prefeito por 8 anos em Santos (2005-2012) e deputado federal por um mandato (2014-2018), o engenheiro João Paulo Tavares Papa enfatiza que os municípios portuários devem ter participação nas discussões sobre a gestão dos portos.
E defende que o projeto Porto-Valongo possa ser reaproveitado, de forma total ou parcial, para a transformação do Centro Histórico e integração com o Porto para fins turísticos e gastronômicos.
No caso do Porto de Santos, três municípios têm relação direta com a atividade portuária: Santos, Guarujá e Cubatão.
Dessa forma, situações e entraves que ocorrem atualmente poderiam ser evitados se houvesse maior discussão com as cidades, que poderiam ter assento e voz dentro da autoridade portuária.
Para ele, é indiferente se a gestão da administração portuária é pública ou privada, mas que ouça as demandas das cidades.
Ele citou casos de portos aos quais visitou ao longo do mandato e disse que isso é comum em portos estrangeiros.
Assim, lembrou o caso do porto de Roterdã (Holanda), onde o prefeito local gerencia a administração do complexo portuário.
Dessa forma, uma gestão tripartite, com participação das cidades e Estado junto ao gestor da administração portuária, ajudariam nesta questão e evitariam problemas recorrentes na relação Porto x Cidade.
Papa participou da edição desta quarta (18) do Jornal Enfoque, data quando se completam 2 anos de veiculação diária do programa.
Ex-prefeito Papa foi o convidado do Jornal Enfoque desta quarta, quando o programa comemora 2 anos no ar, com apresentação do jornalista Francisco La Scala Jr. Foto: Carla Nascimento
Casos
Casos, por exemplo, dos terminais de grãos instalados na Ponta da Praia.
Além do próprio terminal de passageiros, de difícil acesso logístico e localização turística discutível, mas que ocupa uma área estratégica para expansão das atividades portuárias.
Portanto, erros do passado que resultam em problemas a serem resolvidos hoje, com prejuízos econômicos e entraves logísticos.
Afinal, ao lado do terminal de passageiros, uma ampla área deverá ganhar um de fertilizantes (STS-53), afetando diretamente o embarque e desembarque de turistas.
A intenção é que o terminal de carga seja construído após a transferência do terminal de passageiros, previsto para a região do Valongo – justamente onde se constava no projeto Porto-Valongo.
Mas não há garantias de que isso ocorrerá até o momento. Só promessas. Afinal, o interesse na área é enorme.
O arrendamento da área no Macuco vai até 2039 e a empresa responsável pelo terminal (Concais) já informou que disporia em investimentos de até 1/3 dos R$ 1,5 bilhão previstos para a transferência e edificação do novo terminal no Valongo.
Ninguém sabe, porém, quem pagará a diferença de R$ 1 bilhão, pelo menos.
O terminal de passageiros funciona pouco menos da metade dos meses, o que atrai grupos interessados na área para acabar com a ociosidade e ampliar a movimentação portuária.
Dessa forma, o fluxo de passageiros se concentra entre novembro a abril – ao contrário das atividades de carga e descarga de mercadorias, que ocorre de forma constante.
Apresentado há mais de uma década, o projeto Porto Valongo poderia ser resgatado e adaptado ao atual momento, destaca o ex-prefeito João Paulo Tavares Papa, que fez licitação internacional para a elaboração do estudo na ocasião. Foto: Divulgação
Museu Pelé e Porto Valongo
Papa falou também sobre a licitação internacional para elaboração do projeto Porto Valongo, realizada em seu governo.
Ele integraria os antigos armazéns – completamente abandonados – com o Centro Histórico.
No local, hoje se encontram, por exemplo, o Museu Pelé, os seculares Santuário do Valongo e a Estação do Valongo.
No programa, Papa relembrou um episódio até então desconhecido.
Durante encontro que teve com o Rei de Futebol, Pelé, para falar sobre a localização do museu em sua homenagem, em Santos, na região do Valongo, ele se mostrava incomodado.
Afinal, Santos era a cidade escolhida por ele para abrigar seus pertences para a eternidade- a despeito de outros municípios no mundo se oferecerem para abrigá-lo.
“Ele aprovou o local do museu, mas se mostrava preocupado com o entorno, especialmente com o abandono dos armazéns. Assim, mostrei-lhe o projeto do Porto-Valongo de revitalização da área. Quando viu, ele aprovou na hora”, lembra.
O Museu Pelé foi entregue em 2014, dentro dos preparativos para a Copa do Mundo no Brasil.
Desde a morte do Rei do Futebol, o museu tem batido sucessivos recordes de público. A entrada é gratuita.
Proposta de Niemeyer ao monumento a Pelé, apresentado em 2010. Foto: Divulgação
Estátua
Não bastasse, Papa relembrou o encontro que o Rei do Futebol teve com o Rei da Arquitetura, Oscar Niemeyer, no Rio de Janeiro.
Em 2010, aos 102 anos, ele fez questão de entregar o projeto exclusivo a Pelé.
Portanto, trata-se de uma estátua de 20 metros com uma rampa, que contorna um globo, com acesso por pequena esplanada.
No alto, o pulo no ar do maior jogador de todos os tempos aparece de forma vazada no concreto.
Assim, a ideia original seria da instalação nas imediações do museu, dentro da reformulação da área.
Aliás, inclusive com a transferência do terminal de passageiros para a região dos antigos armazéns.
“Imagine se isso tivesse saído do papel lá atrás? Hoje, não estaríamos discutindo o futuro do terminal de passageiros e toda aquela área estaria revitalizada”, lamenta.
Na última segunda (16), o prefeito Rogério Santos conversou com o ministro dos Portos, Marcio França, sobre a possibilidade do monumento ocupar área na entrada do estuário, na Ponta da Praia.
Trata-se de um terreno hoje pertencente à Polícia Federal, junto às balsas e o centro de convenções.
“Eu me atrevo a sugerir que, se houver a revitalização dos armazéns para abrigar o futuro terminal de passageiros, a estátua permaneça nas imediações do museu, onde Pelé havia aprovado”, enfatiza.
Além disso, Papa também abordou sobre as manifestações e depredações ocorridas em Brasília.
E ainda sobre os impactos da natureza na Ponta da Praia durante o programa.
Jornal Enfoque
Confira o programa completo.