Diminuir a distância entre a comunidade e a arte. Esta foi a intenção da bailarina e professora do Centro de Cultura da Zona Noroeste Daniela Guasti ao buscar novas dançarinas nas palafitas de Santos. No Dique da Vila Gilda, onde vivem 20 mil pessoas, o cenário é outro: o piso de madeira encerado dos palcos é substituído pelo solo de terra; as barras de apoio são improvisadas nos corrimões de ferro e as cortinas vermelhas e aveludadas do teatro não existem, mas mesmo assim a poesia nas pontas dos pés acontece.
Cerca de duas vezes por mês, Daniela veste suas bailarinas com trajes de espetáculo e saem dando saltos, piruetas e pliés pela comunidade. O objetivo da aula a céu aberto é atrair meninas e meninos que se demonstrem interesse pelo balé. “Converso com os pais e familiares das crianças que se interessaram a iniciar as atividades no Centro Cultural para ver se existe a disponibilidade de levá-los às aulas”, conta a professora. Desde o início do projeto, 12 crianças começaram a frequentar as salas de aula, mas apenas oito comparecem.
Além de ser uma arte clássica antiga, o balé tem a capacidade de mudar os hábitos de quem o pratica. Aprende-se a importância da disciplina, os reflexos da boa postura, a atentar-se quanto à alimentação, aos cuidados e o respeito com o próprio corpo e a mente. “O balé é uma das manifestações culturais mais importantes de socialização”, destaca Daniela, que foi professora de turmas do Teatro Municipal de Santos durante 17 anos.
A família, de acordo com ela, também é transformada quando há uma bailarina em casa. “Os pais aprendem com os filhos e crescem junto com eles. As pessoas começam a ter uma perspectiva de vida diferente”, ressalta.
Em Santos, o projeto teve início no final do ano passado e foi inspirado no Ballet de Paraisópolis, de São Paulo. A diferença, no entanto, é que em Paraisópolis a escola de bailado fica dentro da comunidade, facilitando o acesso.
Doações
Algumas famílias conseguem comprar os trajes típicos do balé — que inclui collant, meia calça e sapatilhas. Já outras, para seguirem firmes neste sonho, precisam de doações, que podem ser feitas no Centro de Cultura da Zona Noroeste, à Avenida Afonso Schmidt, s/n, na Areia Branca, às terças e quintas-feiras, no período da manhã.