Quem precisa utilizar o transporte público na cidade de Santos terá que preparar o bolso. Isso porque a partir deste domingo (20), a tarifa vai sofrer um acréscimo.
Assim, o valor passará de R$ 4,65 para R$ 4,95, um reajuste de 6,4%.
Dessa forma, Santos entra na lista das cidades com as tarifas mais caras do País.
Para se ter uma ideia, caso uma pessoa que não tenha o cartão transporte precise pegar o ônibus para trabalhar ou estudar terá que arcar com um custo de aproximadamente R$ 220 por mês.
Subsídio
Além do reajuste na tarifa, a empresa responsável pelo transporte público em Santos, a Viação Piracicabana vai receber um aumento no subsídio da Prefeitura.
Vale destacar que desde agosto passado o Poder Executivo começou a repassar R$ 800 mil mensais para a empresa, com o objetivo de não haver o reajuste direto para o usuário. Agora, o subsídio será de R$ 1,1 milhão.
De acordo com a Prefeitura, sem o subsídio, o valor da passagem custaria R$ 6,00. Dentre as explicações do Poder Municipal e da empresa para a elevação na tarifa, estão o preço do combustível, lubrificante, peças e acessórios.
Contudo, o maior impacto é na redução dos passageiros.
Assim, conforme divulgado pela Prefeitura, o número de usuários teve queda de 59,4% – 3 milhões/mês para 1,2 milhão/mês entre 2016 e 2021. Importante frisar que os dois últimos anos foram marcados pela pandemia da Covid-19. A vacinação em massa permitiu a retomada das atividades como já ocorreu naturalmente.
Assim, outro fator preponderante são os carros por aplicativo que estão cada vez mais caros e com um tempo de espera maior, fazendo com que parte das pessoas volte a optar pelo transporte público.
Usuários
A principal reclamação dos usuários é o tempo de espera do ônibus e o valor da passagem.
Segundo Simone Nascimento, que trabalha na Av. Conselheiro Nébias e precisa usar a linha 184 todos os dias, a situação do transporte público de Santos está complicada.
“Os ônibus estão lotados. No final de semana é quase uma hora esperando. É preciso de ter muita paciência”, citou Simone, que embarca no ônibus no Terminal Rodoviário.
Já a aposentada Maria de Andrade ressalta que os ônibus tiveram uma queda no número de veículos em circulação.
“Antes da pandemia, eu não ficava muito tempo no ponto de ônibus esperando. Agora fico mais de 40 minutos”, salientou.
Antônio Silva que costuma embarcar nos ônibus na Afonso Pena, na altura do canal 4, em direção da Ponta da Praia cita que muitas vezes embarca no ônibus intermunicipal – mais caro – devido à demora.
Linhas
Antes da pandemia da Covid-19, a frota de ônibus em Santos chegava a 287 veículos. Agora o número informado pela CET é que a frota operacional tem 218 ônibus, uma redução de 24%.
Não bastasse isso, a Reportagem apurou no aplicativo Quanto Tempo Falta? que o número informado é superior à realidade.
Às 12h30 desta sexta-feira (18), eram pouco mais de 120 ônibus circulando na cidade (confira no quadro).
Vale destacar que o horário conta com uma grande movimentação de estudantes que estão chegando ou saindo das escolas, de pessoas que saem do trabalho, e aqueles que vão trabalhar no período vespertino e noturno.
A linha 05 não tinha qualquer veículo, conforme mostrado no sistema do aplicativo mantido pela empresa.
Demora
Já 12 linhas tinham apenas um ônibus em circulação: 7, 8, 10, 17, 20, 37, 40, 52, 53, 73, 77, 80, 197. Para se ter uma ideia, a linha 53 tem uma diferença de quase uma hora e meia entre os intervalos de saída. Dessa forma, o ônibus sai da Praça Barão com destino ao José Menino às 13h49 e depois só às 15h14, obrigando o usário ter muita paciência.
Além disso, 11 linhas contam com apenas dois ônibus: 19, 23, 25, 30, 54, 61, 101, 102, 108, 153, 158. Assim, mais da metade dos itinerários contam com, no máximo, dois ônibus em circulação no horário do almoço.
A única linha com mais de 10 veículos em circulação neste horário é a 154, que liga o Rádio Clube às avenidas Conselheiro Nébias e Ana Costa.
A Prefeitura destacou que o dimensionamento da oferta de veículos em operação é baseada na demanda de passageiros de cada linha, havendo sempre reforço de carros nos horários considerados de pico (manhã e tarde).
Da mesma forma, sendo constatado aumento de passageiros em determinada linha também ocorre o direcionamento de mais carros para atendimento.
Tempo dos ônibus
O tempo de vida dos veículos também não está sendo cumprido, conforme previsto no contrato.
Pela legislação atual, a média deveria ser de, no máximo, 5 anos.
Contudo, a média já é superior (5,2 anos), apesar da CET divulgar que ela está em 2,7 anos.
No entanto, 86 dos 218 ônibus foram fabricados em 2014; 31 em 2017; 27 em 2018; 54 em 2019 e apenas 20 em 2020, último ano de veículos novos.
Vale destacar que os ônibus de 2014 não deveriam estar circulando, de acordo com a assinatura da empresa, por já superaram os 7 anos, período máximo em contrato.
A CET Santos informou que nenhum dos veículos da frota completou 8 anos de fabricação, citando que a entidade esta atenta com o mês de fabricação de cada ônibus e cumpre os termos do contrato.
Atendimento
Não bastasse, os problemas com frota, tarifa e o tempo de espera, os usuários tem se queixado que a central de atendimento da Piracicabana pelo 0800 771 7778 está inoperante, sob a alegação que o serviço está interrompido por conta da pandemia da Covid-19.
Quem precisa, por exemplo, fazer o cartão escolar para o filho ir à escola tem encontrado dificuldades no procedimento.
Uma mãe que não quis se identificar contou que todo o processo está sendo de forma online e que a empresa só fez o atendimento pelo Instagram.
Contudo, os dois pedidos que ela fez foram negados devido às questões técnicas dos anexos enviados.
Enfim, pela terceira vez, ela conseguiu o cartão escolar para o filho que só vai ficar pronto no fim de fevereiro.
Portanto, importante frisar que as aulas começaram no início deste mês.
Equipamentos
Assim, apesar do subsídio, a Piracicabana só disponibilizou álcool em gel no transporte público no fim de 2021, depois de mais de um ano de pandemia da Covid-19.
Por sua vez, em relação ao ar-condicionado, o equipamento ficou quase dois anos sem ser ligado no transporte público, a despeito das altas temperaturas.
Assim, apenas nesta semana, alguns poucos ônibus voltaram a ter ar-condicionado em funcionamento. Entretanto, a grande maioria permanece sem a climatização.
Em nota, a Prefeitura salientou que o sistema de refrigeração nos veículos começou a ser reativado em pleno verão.
“Os aparelhos foram desativados no início da pandemia de Covid-19 e os ônibus passaram a circular com as janelas abertas para ventilação natural, conforme recomendação das autoridades sanitárias e de saúde.
Na quinta-feira (17), 12 veículos já estavam com o ar-condioncado. A estimativa é que toda frota esteja com o sistema de refrigeração.
O contrato com a empresa Piracicabana termina em maio deste ano, podendo ser prorrogado por mais um ano.
Resposta
Em nota enviada às 11h23 deste sábado (19) pelo Secretaria de Comunicação da Prefeitura de Santos, a empresa refuta a idade da frota e garante que ela é de 2,7 anos, a despeito da maioria dos ônibus (86) serem fabricados em 2014, enquanto apenas 20 serem de 2020, os mais recentes.
“A CET-Santos ratifica que a frota municipal tem idade média de 2,7 anos, praticamente metade da idade média máxima prevista no contrato de permissão do serviço, que é de cinco anos.
Também esclarece que nenhum dos carros da frota completou 8 anos de fabricação.
Na reportagem, considera-se apenas o ano dos veiculos, sem observar o mês exato em que cada coletivo foi produzido e inserido na frota municipal.
A CET está atenta e fiscaliza o cumprimento dos termos do contrato e, no momento, aguarda o cronograma da permissionária definindo o prazo da chegada de novos ônibus”.
Como de costume, a Viação Piracicabana não se pronunciou.