“O Hospital Santa Casa pode fechar as portas. Hoje estamos abertos, amanhã já não sei”. A afirmação do provedor do primeiro hospital do país, Felix Alberto Ballerini, declarada na tarde desta quinta-feira (3) – durante coletiva de imprensa – vem se repetindo ao longo do ano e ganha novamente destaque no atual cenário de crise econômica e política do país. Na região, a crise chegou nos hospitais como Santo Amaro e o Municipal de Cubatão que já declararam que fecharão serviços em datas próximas.
O Santo Amaro, por exemplo, divulgou que irá paralisar por tempo indeterminado os serviços na Maternidade Ana Parteira, nos ambulatórios e suspender as cirurgias eletivas. Em Cubatão, pacientes da UTI neonatal do Hospital Municipal estão sendo transferidos para outras unidades da região, por conta do desligamento de médicos que estão com salários atrasados. A falta destes atendimentos afeta diretamente a Santa Casa de Santos, que já possui 40% dos pacientes de outras cidades da região. Número que tende a aumentar.
Em julho e agosto deste ano, reportagens já abordavam o problema e a dificuldade do Hospital Santa Casa em se manter, isso devido a dívida milionária de – atuais – R$180 milhões. “Até o momento a Santa Casa tem se mantido, mas estamos chegando absolutamente no limite. A Santa Casa se fechar, vai acontecer de uma vez só. Temos 37 serviços aqui dentro. Estamos tentando contornar (…) Ainda não conseguimos pagar a parcela do 13º salário dos médicos e funcionários, que venceu no último dia 30”, ressalta Ballerini.
Neste cenário, três serviços do hospital podem ser os primeiros a parar de funcionar: o de hematologia, anestesia – que para o hospital – e a oncologia. “Estamos conseguindo conversar com médicos, que já estão com salários atrasados e que até o momento estão colaborando. Temos que agradecer a todos. Mas a situação está chegando no limite”, conta Ballerini. A pediatria, porém, já atende 30% acima de sua capacidade, na enfermaria, com leitos sendo colocados em corredores, como contou a própria diretoria do hospital.
Uma solução para o hospital era receber o empréstimo de R$140 milhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que foi pedido em abril deste ano e até hoje não foi liberado. No dia 31 de agosto foi definido o pagamento de R$ 94 milhões do total de R$140, em até 30 dias. A garantia, que foi dada pelo diretor do banco, José Henrique Paim, em reunião no Rio de Janeiro com representantes da Santa Casa e da Prefeitura de Santos, não se concretizou.
Ballerini explica que o valor ainda não foi liberado pela Caixa Econômica, que é a agente financeira, pois a cada momento solicitam novos documentos. “Solicitaram garantia hipotecaria, no valor de R$3,7 milhões. Corremos para conseguir, pois para onerar qualquer imóvel da Santa Casa, sou obrigado a solicitar para mesa administrativa, depois aos conselhos. Somente na terça-feira consegui aprovação e amanhã enviaremos para Brasília. Não vai resolver, mas vai amenizar”, ressalta.
Para o provedor, a sociedade não está olhando para Santa Casa. “Sempre precisou e vai continuar precisando da ajuda da população”, esclarece Ballerini, que acredita que os R$10 de contribuição voluntária no IPTU poderá contribuir para melhorar o cenário, mas não será suficiente para sanar o problema. Para ele, os grandes empresários da região devem olhar diferente para Santa Casa. “Precisam passar a contribuir financeiramente”, diz. A possibilidade de contribuição voluntária no IPTU foi publicada nesta quinta-feira (3) no Diário Oficial da Cidade, sendo que o Executivo Municipal deverá regulamentar a lei no prazo de 30 dias contados da data da publicação.